A terapeuta e escritora Belga, Esther Perel sempre foi uma estudiosa dos relacionamentos humanos. Inicialmente, estudava o complexo mundo das “traições”. Ela descreve várias nuances desses comportamentos em seu livro “Casos e Casos”, nos fazendo olhar as “traições” por vários ângulos e não apenas enxergando um culpado e uma vítima.
Até que um dia, Esther resolveu entender porque alguns casais conseguiam se manter em relacionamentos longos, felizes e com satisfação. Em seu outro best-seller “Sexo no Cativeiro” ela nos conta alguns desses segredos. Intimidade demais pode minar o relacionamento e você estar tão colado ao outro que nem enxerga o outro. Como diz Esther em seu livro: “ O fogo precisa de ar”. A intimidade também precisa de uma certa distância. Eu preciso olhar o outro como se ele estivesse num palco, próximo a mim, pois assim consigo admira-lo e perceber aspectos que, se eu estiver colada a ele, não perceberei. O outro não é “a tampa da panela” e nem “a metade da laranja”. Cada um precisa ser inteiro e preservar a sua identidade. Identidade essa que deve ser respeitada pela parceria. Relacionamentos onde você se mistura demais ao outro, a ponto de não saber mais quem você é, o que gosta, e vive em função do outro, podem criar tantas dependências emocionais que desgastam o relacionamento e podem levá-lo ao fracasso. Ser você mesmo em um relacionamento não é egoísmo.
O diálogo de forma assertiva, podendo colocar as necessidades e preferências de cada um, é um excelente caminho para uma vida a dois longa e prazerosa. A dificuldade na comunicação é um dos maiores fatores de estresse nos relacionamentos. De um modo geral, o ser humano aprende pouco sobre essa habilidade social que é treinável. Isso mesmo, comunicação é treino, seja ela verbal ou não. Atendendo casais em meu consultório de terapia, vejo o quanto é frequente os casais quererem que o outro advinhe o que ele está pensando, querendo e precisando.
Seria muito mais fácil para a parceria se eu dissesse ao invés de esperar o outro adivinhar. Criam-se muitas expectativas que têm tudo para serem frustradas se não houver uma comunicação adequada. Quanta mais alta a expectativa, maior a frustração. Uma boa comunicação precisa ser eficiente. Eu preciso me certificar de que o outro realmente compreendeu o que eu quero comunicar.
Outro aspecto frequente entre os casais é a comunicação violenta, principalmente depois que passa a fase da paixão. Na fase inicial de qualquer relacionamento, quando estamos apaixonados, nosso corpo está cheio de “dopamina”, o neurotransmissor dos apaixonados. A dopamina é a substância da pulsão sexual, que traz energia e até tira a fome. É por isso que quem está apaixonado pode perder peso, pois seu foco está apenas no ser desejado. Na fase da paixão, o outro é um ser perfeito, cheio de qualidades e não tem defeito. Mas nada dura para sempre, e a paixão também acaba. Os estudiosos dizem que a paixão dura de 6 meses a 2 anos. Victor Dias, em seu livro “Vínculos Conjugais na Análise Psicodramática” nos fala que, depois da paixão, vem a fase do “desencantamento” e começamos a enxergar o outro tal qual ele é, com qualidades e lados menos nobres, ou para muitos com qualidades e defeitos. É comum que muitas pessoas se sintam enganadas, como se o outro tivesse mudado de repente, mas na verdade o que mudou foi nossa forma de enxergar o outro, vendo-o por inteiro. Para Victor, ao chegar nessa fase, os relacionamentos podem seguir três caminhos. Um caminho seria o das desavenças e brigas, não aceitando o que eu considero como “defeito” no outro. Esse caminho levará ao fim do relacionamento. Outro caminho é o da indiferença, onde faço de conta que aquilo que me incomoda no outro, não existe e vou jogando tudo “debaixo do tapete”. Um dia isso se torna insuportável e pode também levar ao término do relacionamento. Lembra de algum casal de amigos que parecia estarem tão bem e de repente se separaram? Os conflitos estavam lá, ignorados, debaixo do tapete. O terceiro caminho seria aquele onde eu compreendo e aceito o outro como ele é, por inteiro, com qualidades e defeitos, pois eu também sou assim.
Na comunicação violenta não há espaço para uma escuta atenta, eu responsabilizo o outro pelas minhas frustrações e não assumo minhas emoções e minha responsabilidade no processo. A culpa é sempre do outro. Brigas sempre existirão nos relacionamentos, mas ao invés de se perguntarem “porquê” estão brigando, se perguntem “para quê” estão brigando. Algumas brigas são insolúveis e não valem a pena. É preciso ter uma finalidade, saber o que você quer alcançar.
Uma pesquisa recente da Universidade Lusófona em Lisboa, em parceria com o Museu do Sexo, trouxe um dado interessante. O prazer sexual no relacionamento não depende da idade das pessoas e nem do tempo de relacionamento, mas da qualidade desse relacionamento e de como essa intimidade é vivenciada.
Dr. Theo Lerner, ginecologista e sexólogo do PROSEX- USP/SP, costuma dizer: “ Quando o sexo num relacionamento está bom, ele representa 10% do relacionamento, mas quando está ruim, representa 90%” e costuma ser motivo de muitos conflitos.
Manter o desejo sexual nos relacionamentos longos é um grande desafio. Um trabalho publicado no The Journal of Sex Research, em maio de 2018 elucida algumas características importantes para manter os relacionamentos longos.
Veja a seguir:
1 - É importante alinhar as expectativas
2- Manter-se atraente para a parceria, não deixando de se cuidar.
3- Flertar com a parceria e investir no jogo de sedução.
4- Ser atencioso(a) com a parceria.
5- Priorizar o relacionamento, ter tempo para o casal e estar realmente presente.
6- Manter a própria identidade e trabalhar questões pessoais, sobretudo relacionadas à autoestima.
7- Incentivar o toque, construir memórias e compartilhar sentimentos.
8- Comunicação sexual sobre gostos e preferências sexuais.
9- Inovação nas práticas sexuais e encontros inesperados.
10- Descanso adequado e manejo do estresse.
11- Evitar a institucionalização da relação. Casal como casal, não como colegas de quarto.
12- Trabalhar as expectativas de gênero. Todos os indivíduos devem contribuir igualmente em um relacionamento.
13- Não esperar que homens tenham mais desejo sexual que as mulheres e sempre tenham a iniciativa pela busca da atividade sexual.
14- Investir numa boa comunicação e resolução de conflitos.
Não existe mágica! Se você deseja um relacionamento longo e que traga muito prazer e satisfação, é preciso cultivar!
Estejam atentos a todas essas dicas valiosas! Bons relacionamentos permitem viver com muito mais qualidade!