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Yanomamis acusam morte de crianças indígenas sugadas por balsa de garimpo ilegal

Por André BorgesA morte de duas crianças Yanomami, que teriam sido dragadas pela estrutura de uma balsa de garimpo ilegal que atua na região, em Roraima, foi denunciada nesta quarta-feira, 13, pela Hutukara Associação Yanomami, que representa o povo ind

Por André Borges

A morte de duas crianças Yanomami, que teriam sido dragadas pela estrutura de uma balsa de garimpo ilegal que atua na região, em Roraima, foi denunciada nesta quarta-feira, 13, pela Hutukara Associação Yanomami, que representa o povo indígena da região. Segundo informações divulgadas pela associação, dois meninos, de cinco e de sete anos, brincavam no rio que banha a comunidade, próximos de balsa de garimpo instalada no local, quando foram sugados e lançados para o meio do rio, sendo levados pelas correntezas.

A informação foi levada à associação por lideranças indígenas da comunidade Makuxi Yano e da Terra Indígena Yanomami. O desaparecimento das crianças ocorreu no fim da tarde de terça-feira, 12. Na manhã do dia seguinte, o corpo do menino de cinco anos foi encontrado pela comunidade. A outra criança segue desaparecida.

A Hutukara entrou em contato com o Conselho de Saúde Indígena Yanomami e Ye'kwana (Condisi-Y), que acionou a Fundação Nacional do Índio (Funai) e o Corpo de Bombeiros para se deslocarem ao local na busca.

Em nota, o Corpo de Bombeiros de Roraima informou que recebeu a solicitação do Condisi-Y referente ao afogamento de duas crianças indígenas que teriam sido levadas pela correnteza de um rio na região do Parima, município de Alto Alegre. A reportagem pediu um posicionamento à Funai sobre o caso. Não houve resposta até a publicação deste texto.

"A morte das duas crianças Yanomami é mais um triste resultado da presença do garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami, que segue invadida por mais de 20 mil garimpeiros", declarou Dário Kopenawa Yanomami, vice-presidente da Hutukara Associação Yanomami.

Até setembro de 2021, segundo dados da associação, a área de floresta destruída pelo garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami superou a marca de 3 mil hectares - um aumento de 44% em relação a dezembro de 2020. Somente na região do Parima, onde está localizada a comunidade de Macuxi Yano e uma das mais afetadas pela atividade ilegal, foi atingido um total de 118,96 hectares de floresta degradada, um aumento de 53% sobre dezembro de 2020. Além das regiões já altamente impactadas, como Waikás, Aracaçá, e Kayanau, o garimpo avança sobre novas regiões: em Xitei e Homoxi, a atividade teve um aumento de 1000% entre dezembro e setembro de 2021.

"O Fórum de Lideranças da Terra Indígena Yanomami se reuniu em setembro para trazer a voz da floresta, e já dissemos: o aumento da atividade garimpeira ilegal na Terra Indígena Yanomami está se refletindo em mais insegurança, violência, doenças, e morte para os Yanomami e Ye'kwana. As autoridades brasileiras precisam continuar atuando para proteger a Terra-Floresta, e impedir que o garimpo ilegal continue ameaçando nossas vidas", afirmou Dário

No dia 16 de setembro, uma força-tarefa coordenada pela Secretaria de Operações Integradas do Ministério da Justiça e Segurança Pública prendeu 13 pessoas e apreendeu 64 aeronaves durante operação para combater o garimpo ilegal, retirar invasores e restabelecer bases de proteção etnoambiental na Terra Indígena Yanomami.

A ofensiva durou 15 dias e ainda resultou no confisco de 75 mil litros de combustível, 611 munições, mais de 1.300 quilos de minério e 500 metros de mangueiras de garimpos.

"Estamos atuando de forma intensa na repressão aos crimes ambientais. O fortalecimento de uma atuação integrada traz, cada vez mais, resultados positivos para a desarticulação das organizações criminosas", disse o Ministro da Justiça e Segurança Pública, Anderson Torres, na ocasião.

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