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COTIDIANO

Os puxadores do bigode de onça acuada

NÃO sou contra ou a favor de nada nesse festival do denuncismo ao espólio dos corruptos por herdeiros da corrupção, na partilha dos quinhões da cumplicidade, escriturada nos direitos adquiridos pelos enriquecimentos ilícitos ou no legado da impunidade transitada em julgado no inconsciente coletivo. As leis estão no cadafalso da Justiça aonde vestais do moralismo se vestem de carrascos da corrupção e enforcam-se uns aos outros nos pedestais do Poder.

A corrupção sempre esteve acobertada ao fundo dos governos e a amostra no povo, o tempo todo, no remendo dos escândalos. Observo os desfiles e ouço os batuques desse carnaval da moralização, sem me impressionar com as máscaras nas fantasias dos carros alegóricos da austeridade, em que são premiados os reis momos nos camarins da corrupção.

Como o lodo é um elemento natural na água, nascida pura nas fontes e se gera nas bactérias do limo no cristalino da corrente nos rios – que somente são detectadas através de resolutos microscópios –, mas precisam ser filtradas para a água se tornar potável ao consumo sadio. Também a corrupção é inata nos poderes terrenos e necessita estar diuturnamente coada nos veios do idealismo, para que as atividades humanas estejam saudáveis na ética do caráter.

A corrupção atual é velha e está encrustada na história da humanidade, às vezes, se afina mansa, às vezes, se arrepia grossa, mas se regula satisfeita e sempre se engordou nos bandejões da magreza moral de chefes de Estado em todas as civilizações. A novidade factual é que o desmantelamento do mal pelo bem foi anunciado há dois mil anos, por Jesus Cristo ao João Evangelista, para acontecer agora.

Acendeu-se o fogo na fornalha do determinismo contínuo da evolução. Começou a fervura no caldeirão das mudanças, do mesmo jeito que acontece com a garapa de cana nas tachas para se retirar, com a colher escumadeira, a borra à tona do melado na produção do açúcar, que, no caso da depuração moral, o cabo da concha escumadeira, que retira as lambuzeiras da corrupção na Terra, está nas mãos de Deus. Só os ateus não veem. São cegos à luz.

O Planeta peregrina aflições se amontoando nas apreensões da civilização contemporânea. A culpa nelas não é só dos outros, é deles, e é sua, e é minha e é nossa, em todos nós. Ninguém é inocência isolada no bloco dos culpados. Há uma dor arrochando almas nos rostos. Rolam emoções de angústias se escondendo nos corações. Escorrem dos olhares revoltas paradas no ar das respirações. Crescem os abusos das riquezas apropriadas de direitos extraídos das razões coagidas nas pobrezas. Fervem dentro dos peitos desesperos se debatendo para tirar remorsos das consciências. Caminham sonhos no silêncio dos sozinhos à espera da ressurreição da esperança nessa travessia solitária dos justos na trilha do verdadeiro à mira dos hipócritas que não conseguem ouvir Deus na voz das meditações.

O manejo do impeachment para depor presidente da República e governador de Estado, eleitos, é remanejamento da corrupção nas sucessivas barganhas ocultas no poder. Os ativistas das manifestações populares urdidas, para hoje, ficarão na história da república brasileira como inocentes úteis das massas de manobras dos golpistas, qual um bando de besouros rolando bolotas da corrupção, estagnada no PT da presidente Dilma Rousseff para o PMDB triunfal no seu vice Michel Temer.

A corrupção é o único segmento que se organizou, na chamada sociedade organizada, em que estão suspeitos até os honestos. Os moralistas, que se posam de redentores na política e na imprensa, são, de tal ordem, pernósticos da inversão dos valores, que as suas vaias ofendem mais aos dignos do que os seus aplausos. Eles são inconsequentes puxadores do bigode de onça acuada.

BATISTA CUSTÓDIO

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