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“Forasteiros” saturam Goiânia

Hélmiton Prateado Da editoria de Política&Justiça

A sobrecarga do Sistema Único de Saúde, em Goiânia, é conhecida de todas as autoridades, mas se tornou um problema de difícil solução. Goiânia é a referência para tratamento médico de um sem-número de habitantes de outros municípios brasileiros e também para a esmagadora maioria dos municípios goianos.

A situação ficou mais calamitosa nesse primeiro trimestre de 2015 em virtude da epidemia de dengue, que está fazendo com que Cais e postos estejam sobrecarregados de pacientes vindos de outros municípios e até de outras unidades da federação. Os dados oficiais da Vigilância Epidemiológica da Secretaria Municipal de Saúde indicam que nos dois primeiros meses deste ano foram prestados atendimentos a 683 atendimentos pacientes de outras cidades goianas além de Goiânia.

As cidades com maior demanda são Aparecida de Goiânia, com 546 pessoas, seguida por Senador Canedo, com 22 atendimentos. Trindade e Goianira aparecem em seguida, com 16 e 10, respectivamente. A rede pública de Goiânia recebeu ainda pacientes de Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina, Distrito Federal, Maranhão, Pará, Rondônia, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Piauí e Tocantins.

Estes números ainda são imprecisos porque é comum que o paciente faça seu cadastro com um endereço da Capital, o que torna a notificação ainda mais difícil. Uma prática recorrente é informar o endereço de parentes ou amigos que moram em Goiânia para conseguir atendimento na cidade. O Banco de Dados da SMS demonstra que a quantidade de pessoas que declara viver em Goiânia é incompatível com a realidade.

Registros

Os dados da secretaria indicam 6.417.836 pacientes registrados no SUS em Goiânia. Desses inscritos no SUS, 4.657.287 deles declaram morar na capital, mas a população estimada da cidade é de 1.412.364 habitantes, conforme censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Todo o Estado de Goiás tem uma população estimada de 6.523.222 habitantes, segundo o IBGE. De todos os endereços do banco de dados, apenas 1.720.210 informaram endereços do interior.

As autoridades envolvidas com o assunto sabem dessas irregularidades sabem dessas artimanhas e pouco fazem para aplacar o descalabro. Um serviço de inteligência oficial prestou uma consultoria para a SMS e descobriu que casas de apoio que funcionam em Goiânia e atendem populações que recorrem à Capital para tratamento têm um esquema de endereços falsos para dizer que o doente mora em Goiânia e ninguém se envergonha de prestar informação falsa.

Muitos moradores do interior mentem seu endereço com medo de terem o atendimento negado. Segundo a agente de combate a endemias Juliana Lemes, que trabalha no Cais Campinas, as principais queixas são a respeito da estrutura e da falta de médicos na cidade de origem.

Qualidade

Luiza Antunes mora em Aparecida de Goiânia e contraiu dengue. Buscou atendimento no Cais Chácara do Governador porque, segundo ela, a recepção no Cais é muito melhor que nas unidades de Aparecida. Esta foi a mesma razão apontada por Fernanda Machado, que é da mesma cidade. “Eu nem vou no Cais Nova Era. Aqui demora, mas demora menos que lá”.

Segundo a coordenadora de Urgências da SMS Patrícia Antunes, não há como controlar quantos pacientes de outras cidades são recebidos na Urgência. Segundo ela, esta informação não é computada porque todos são atendidos e, na maioria dos casos, o paciente já chega em situação grave.

Região Metropolitana

Na última semana, o secretário municipal de Saúde de Goiânia, Fernando Machado, e a diretora de Vigilância em Saúde, Flúvia Amorim, se reuniram com os secretários de cinco cidades da Região Metropolitana de Goiânia para fazer um levantamento das condições e dificuldades destes municípios no atendimento aos casos de dengue. Participaram da reunião os representantes de Senador Canedo, Goianira, Aparecida de Goiânia, Santo Antônio de Goiás e Abadia de Goiás.

Na oportunidade, os secretários garantiram que há estrutura nas suas cidades para atender os pacientes com dengue. Ficou acordado entre as secretarias que os pacientes com dengue poderão ser atendidos em Goiânia, mas que deverão fazer o acompanhamento nas cidades de origem.

O secretário Fernando Machado prega uma união de esforços da União, dos Estados e dos municípios para solucionar o problema. Fernando é vice-presidente do Conselho de Secretários Municipais do Estado de Goiás (Cosems) e diz que é preciso moralizar a forma de atendimento. “Essa migração de pacientes para Goiânia é um fenômeno que ocorre em todas as capitais brasileiras. Em Goiânia, o fluxo é maior devido a sua posição geográfica e também por Goiânia ser referência em várias especialidades e no atendimento público”, explica.

Fernando Machado defende que para desafogar o atendimento em Goiânia é preciso que os muncípios que têm gestão plena estruturem suas secretarias com atendimento básico e de urgência. Goiânia tem uma rede suficiente para atender bem mais que sua população, mas acaba sobrecarregada por atender municípios de vários Estados brasileiros em consultas eletivas e na área de urgência, principalmente vagas de UTI.

“Pacientes que vêm para Goiânia sem regulação, além de tumultuar o sistema ainda causam prejuízos financeiros ao município, que não recebe do Ministério da Saúde por esse serviço. Mas não podemos fechar as portas para esses pacientes, que não conseguem atendimento em seus municípios. Os hospitais estaduais vêm fechando as portas para pacientes que não são do perfil. O mesmo precisa ser feito nos Cais e Ciams, que deveriam atender apenas casos de urgência e emergência, mas para isso precisamos que os municípios se estruturem melhor”.

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