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As vantagens dos alimentos orgânicos

Mesmo mais caros do que os demais alimentos, os orgânicos já têm um nicho de consumidores fiéis. O principal argumento para a opção é a melhoria da qualidade de vida e da saúde. A Semana Nacional dos Alimentos Orgânicos teve início do domingo em todo o País.

Em Goiânia, por exemplo, é possível encontrar os produtos em diversas modalidades de feiras, como a realizada na Escola Interamérica, na Igreja Messiânica Johrei, Feira Agroecológica Adao, Feira do Urias Magalhães, Feira do Cerrado Alimentos Orgânicos em Goiânia ou a Feira Orgânica de Anápolis.

Estudante do quinto ano, Júlia Marie Nogueira Vasconcelos Silva, 10, diz que procura saber se existem alimentos orgânicos em todos os lugares que visita. “ Aqui temos condições de começar tudo de novo. O Brasil tem tudo para plantar. Acredito que está na hora de as famílias voltarem a  cuidar dos alimentos, como acontecia nas fazendas”

A funcionária pública Aparecida Araújo trocou os alimentos produzidos com insumos químicos por orgânicos há dez anos e diz que sente os efeitos na saúde. “Os produtos químicos acabam acarretando doenças, o orgânico é mais fresquinho, mais conservado. Eu tenho 51 anos e minha preocupação é retardar o uso de medicamentos”, disse.

Aparecida diz que vale a pena pagar um pouco mais pelos orgânicos, pois seu modo de produção também é mais sustentável para o meio ambiente, além de estimular a agricultura familiar.

Segundo o engenheiro agrônomo da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Distrito Federal, Rafael Lima de Medeiros, o custo do orgânico para o consumidor é, em média, 250% mais caro que o alimento tradicional. Algumas hortaliças têm o preço muito próximo, outros, como tomate e morango, já apresentam uma diferença maior.

“Isso se justifica porque o agricultor orgânico tem que trabalhar com insumos mais caros, fertilizantes não tão solúveis, a hortaliça fica mais tempo na terra, demora mais pra ficar pronta. Existe também um custo com a certificadora que exige que o produtor seja socialmente justo, com todos os empregados com carteira assinada. Tudo isso acaba encarecendo”, argumenta.

Ele diz, ainda, que o custo para o agricultor é maior, mas a lucratividade em relação ao convencional também tende a ser mais alta, já que o produto orgânico não está tão sujeito à sazonalidade do mercado, pois a demanda é constante. “Na época da seca, o tomate custa R$ 10 a caixa e, na fase da chuva, chega a valer R$ 120. O preço do tomate orgânico é R$ 80 o ano todo, não varia muito para o agricultor”, pondera.

DISTRITO FEDERAL

A aposentada Dilma Moura frequenta o Mercado Orgânico da Central de Abastecimento do Distrito Federal. Ela conta que encontrou resistência dos filhos, mas diz que perdeu 10 quilos de dois anos para cá ao mudar para a alimentação orgânica.

“Busquei especialistas, nutricionistas, deixei os remédios e passei a tomar mais vitaminas, orientada pelos médicos, e isso causou uma mudança radical na minha vida. A alimentação saudável controla o estresse, ajuda a dormir e você se sente melhor para fazer exercícios. É um produto de muita aceitação, dizem que é mais caro, mas não consigo ver isso diante de tantos benefícios para a saúde”, conta.

Segundo a presidente do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), Maria Emília Pacheco, é necessário ampliar a produção e o acesso a esses alimentos.

“Precisamos ampliar as bases da produção agroecológica no Brasil. Para que isso se efetive devemos ampliar o crédito, o seguro agrícola, todos os instrumentos de política agrícola e de assistência técnica”, disse

FEIRAS

A presidente do Consea defende a popularização das feiras agroecológicas pelo País. “Precisamos dos chamados circuitos curtos de mercado. Isso dinamiza a economia local, traz uma relação mais direta do agricultor com o consumidor. Nos bairros populares, necessitamos ter sacolões, precisamos expandir esses equipamentos de alimentação pública. Isso é que vai garantir um consumo maior com preços também mais acessíveis para essa população”, argumenta.

A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) disponibiliza uma lista com alguns pontos de venda de alimentos orgânicos no Distrito Federal. O Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor também tem um mapa online de feiras orgânicas pelo País.

Feira abre semana nacional

Quem for ao Parque da Cidade, em Brasília, poderá experimentar saladas e frutas e comprar mel, verduras, café, frango e doces produzidos sem agrotóxicos ou adubos químicos. A iniciativa, do Ministério da Agricultura, ocorre até o próximo dia 31 no Distrito Federal e em 21 estados.

A meta é levar informações à população sobre os orgânicos e incentivar o consumo. “Queremos falar direto com o consumidor, mostrar o que está por trás do produtor orgânico. Muitas vezes, ele é associado apenas ao produto sem agrotóxico, mas é mais do que isso. É todo um trabalho relacionado com a natureza, os recursos naturais, a relação com os empregados e a biodiversidade”, explicou o coordenador de Agroecologia do Ministério da Agricultura, Rogério Dias.

Para ele, a demanda por esses alimentos está crescendo. O mesmo efeito ocorre com as pessoas que se dedicam à produção. De 2013 a 2014, houve aumento de 51% no número de produtores orgânicos no Brasil. “Quanto mais os consumidores entendem o que é e valorizam o produto orgânico, mais os produtores se animam a produzir”, observou.

O engenheiro José Eduardo Vaz caminhava no Parque da Cidade, localizado na região central de Brasília, e, ao ver a feira de produtos orgânicos, decidiu parar. Ele conta que conversou com produtores e entendeu melhor a visão e o método de quem produz. “Não me atrai tanto esse nome orgânico porque não entendo bem como posso identificar se, de fato, é um produto orgânico. Cheguei, comi uma pera e uma tangerina e acabei conversando com pessoas que têm uma visão distinta do predador, que pensam construtivamente”, relatou antes de ir para casa levando frutas e café orgânico.

O produtor orgânico de café, frango e gado Carlos Caetano considera que ainda é preciso esclarecer os consumidores sobre o que diferencia os produtos orgânicos dos demais, para ampliar o consumo. Segundo ele, o mercado de orgânicos no país está em expansão com um crescimento de cerca de 20% por ano e isso se deve ao aumento do interesse por uma alimentação saudável. “As pessoas estão percebendo que a alimentação natural faz com a saúde melhore.”

O preço dos alimentos orgânicos, superior ao dos demais, ainda é uma reclamação frequente dos consumidores, mas o coordenador do ministério da Agricultura ressalta que é preciso levar em conta que esse é um produto diferenciado. “Não dá para ter um produto diferenciado em que você tem que adotar uma série de técnicas que acabam encarecendo e achar que isso pode não aparecer o preço”, explica Rogério Dias. Ele, no entanto, diz que com o aumento de políticas públicas para o setor é possível que os custos caiam.

O QUE É UM ALIMENTO ORGÂNICO?

fruta

- O alimento orgânico não é somente “sem agrotóxicos”. Além de ser isento de insumos artificiais como os adubos químicos e os agrotóxicos (e isso resulta na isenção de uma infinidade de subprodutos como nitratos, metais pesados, etc) ele também deve ser isento de drogas veterinárias, hormônios e antibióticos e de organismos geneticamente modificados.

- Durante o processamento dos alimentos é proibido o uso das radiações ionizantes (que produzem substâncias cancerígenas, como o benzeno e formaldeído) e aditivos químicos sintéticos como corantes, aromatizantes, emulsificantes.

- Para ser considerado orgânico, o alimento deve ser produzido de acordo com os princípios agroecológicos que contemplem o uso responsável do solo, da água, do ar e dos demais recursos naturais, respeitando as relações sociais e culturais, segundo o Ministério do Meio Ambiente.

- Dados do Ministério da Agricultura mostram que a área de orgânicos no Brasil abrange 750 mil hectares, contando com mais de 10 mil produtores e aproximadamente 13 mil unidades de produção.

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