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Relíquias que iluminam o Rio

RIO - Em tempos de iluminação a LED, peças de design tão ou mais antigas quanto a invenção da lâmpada elétrica continuam a guiar os passos dos cariocas e a lançar luz sobre o passado da cidade. Em algumas áreas do Rio, especialmente no Centro, as velhas luminárias funcionam como uma viagem no tempo para os pedestres cujo destino é o século XIX e o comecinho do XX. Na Rua Gonçalves Dias, dois exemplares em forma de arco, que datam de 1860, resistem às inovações tecnológicas e a modismos no espaço urbano. Em estilo art nouveau, as duas peças, em ferro esmaltado e cobre, que foram restauradas em 1900, remetem a uma época em que a região era a grande vitrine da cidade.

O presidente do Instituto Art Déco Brasil, Márcio Roiter, conta que as luminárias estão entre os modelos mais antigos do Rio.

— Além da Gonçalves Dias, as ruas Sete de Setembro e do Ouvidor são desse tempo. O escritor Machado de Assis chamava essa região de “a via dolorosa dos maridos pobres”, já que nessas ruas estavam concentradas, na época, as grandes casas de moda e joalherias. O comércio carioca com sofisticação se encontrava nesse entorno, iluminado por essas relíquias — diz o especialista, explicando que as luminárias da Gonçalves Dias eram a gás.

No século XIX, algumas cidades brasileiras se acendiam à noite com lâmpadas de óleo de baleia. No Rio, a iluminação pública era à base de óleos vegetais e animais. O município de Campos, no Norte Fluminense, foi o primeiro do Brasil a contar com iluminação elétrica nas ruas, em 1883.

O Rio só daria esse passo com as reformas urbanas de Pereira Passos, no começo do século XX. O sistema foi inaugurado na cidade em 1905 com a abertura da Avenida Central (atual Avenida Rio Branco). A nova iluminação foi instalada no canteiro central, enquanto nas calçadas laterais foram mantidos os postes a gás.

A partir das mudanças de Pereira Passos, elas ganharam definitivamente as ruas. No Largo da Carioca, está o famoso lampadário de ferro, em estilo eclético, cujo charme é um relógio no alto. A peça foi confeccionada em 1909 pela Fundição Brasileira de Ferro e Bronze Kobler e Cia., durante a gestão do prefeito Pereira Passos. O relógio de quatro faces é decorado com três figuras alegóricas de sereias aladas, que representam o comércio, a indústria e a navegação.

Quando cai a noite, um lampadário que rouba a cena é o do Largo da Lapa, encomenda de Pereira Passos para a abertura da Avenida Mem de Sá, em 1905. A obra é do mexicano Rodolfo Bernardelli. As luminárias do Campo de Santana e do Passeio Público também se destacam. Na Praça Paris, construída em 1926 com desenho do urbanista francês Alfred Agache, elas iluminam o traçado de um típico jardim parisiense.

Outro modelo que sobreviveu ao tempo é o do conjunto arquitetônico da amurada em frente ao Hotel Glória, projetado pelo francês Eugene Benet para o centenário da Abertura dos Portos, em 1908. Fazem parte do patrimônio, tombado, duas estátuas de bronze e 24 luminárias em ferro fundido.

— É uma das áreas que mantêm sua originalidade — afirma Márcio Roiter.

Presidente do Instituto Rio Patrimônio da Humanidade (IRPH), Washington Fajardo lamenta que a manutenção desses antigos postes de luz seja muitas vezes falha:

— Essas luminárias em arco não vemos em outras cidades. É uma relíquia carioca pouco valorizada.

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