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COTIDIANO

Roubos com ações violentas preocupam população do interior

Oníria Guimarães,Especial para Economia

A onda de violência, que vem acontecendo nas cidades do interior do Estado de Goiás, tem deixado aterrorizado quem precisa transitar pelas ruas à noite, caso de estudantes, usuários de transporte coletivo e, principalmente, comerciantes. Estes últimos, independente de horário, são assaltados e se transformam em reféns de bandidos que acreditam na impunidade.

A quantidade de roubos, ocorridos em Rio Verde, e a agressividade dos assaltantes têm assustado a população. Nas últimas semanas, várias pessoas que transitavam pelas ruas e algumas empresas foram assaltadas na cidade. Em um dos casos, o dono de um supermercado contou que três criminosos munidos de uma ponta de eixo de veículo quebraram a porta de vidro da empresa, entraram no local e furtaram várias carteiras de cigarros e a gaveta de um dos caixas, onde continham moedas.

O prejuízo do empresário foi de R$ 2 mil com o concerto da porta, sem falar nos objetos levados pelos criminosos. Essa mesma empresa já foi vítima de assaltantes e o prejuízo chega a quase R$ 30 mil em menos de um ano.

Em outra empresa no Residencial Veneza, dois assaltantes, ambos armados com revólveres, chegaram ao local com a certeza de que ali encontrariam dinheiro. Segundo o proprietário do comércio, os criminosos a todo tempo o espancava com coronhadas e exigiam R$ 30 mil, que havia na empresa. Após uma sessão de tortura e pressão psicológica, os criminosos roubaram cerca de R$ 8 mil em dinheiro e R$ 3,5 mil em cheques.

“Estou decidido a colocar minha empresa à venda porque não estou suportando mais essa situação”, diz o empresário. Somente este ano ele já foi assaltado quatro vezes.

Em uma mercearia, o proprietário e a família foram abordados por dois criminosos e obrigados a entrarem na residência que fica ao lado da empresa. Mãe e filho foram trancados em um dos cômodos enquanto os criminosos ameaçavam o empresário. Eles afirmavam que sabiam que ele possuía grande quantidade em dinheiro. Após roubarem cerca de R$ 11 mil, fugiram.

Em uma lanchonete no Setor Pauzanes, três assaltantes, armados com uma espingarda, renderam o proprietário no momento em que ele fechava o comércio. O grupo roubou cerca de R$ 300, um celular e caixas de chocolates. Não bastassem estes relatos, outras pessoas procuraram a Polícia Civil nos últimos dias e relataram vários roubos ocorridos nas ruas da cidade.

A estudante de Zootecnia Laura do Planalto Souza, 21, foi assaltada duas vezes num período de 40 dias. Na primeira vez, juntamente com uma amiga, ela descia do ônibus, próximo ao foro, indo para a sua residência, no Setor Universitário. As duas foram abordadas por dois rapazes bem vestidos, que conduziam uma moto nova, sem aparentar que eram assaltantes.

Os assaltantes observaram que a jovem estava com uma bolsa nova e chamativa, por isso levaram apenas a sua bolsa e não a da amiga. O celular não foi roubado porque a estudante, que é de Goiânia, anda prevenida e o carrega no sutiã. Mas levaram R$ 72 em vale transporte, carregador e fone de ouvido, além dos objetos de escola. A jovem relata que ao serem abordadas não imaginaram que se tratava de um assalto e até pediu que lhe devolvessem os materiais de escola que se encontravam na bolsa, mas não foram atendidas.

AMEDRONTADA

Na segunda vez, Laura, que seguia por outro caminho, já amedrontada, foi novamente assaltada, desta vez por um condutor de uma biz de cor preta que passou por ela e retornou, tirando-lhe mais uma vez a bolsa, desta vez, sem dinheiro, mas com o material da faculdade. Na primeira vez que foi assaltada, a estudante teve sua bolsa devolvida por um senhor que a encontrou jogada no Setor Interlagos, onde continha um talão de energia com o endereço da vítima. Na segunda vez, um colega de Laura encontrou seu material de faculdade jogado no chão, enquanto caminhava no mesmo setor.

“Estou aterrorizada, não ando mais tranquila em Rio Verde. Nas duas vezes que fui assaltada eram 19h, horário que retorno da faculdade. Hoje não pego mais o transporte coletivo, tive que contratar um moto-táxi para me buscar todos os dias, estou pagando caro e minha família de Goiânia está muito preocupada comigo, mas preciso estudar e sinto que em Rio Verde a polícia não dá muita atenção para casos como o meu. As duas vezes que fui assaltada fiz o Boletim de Ocorrência (BO) e não resultou em absolutamente nada”, relata a estudante, que não quis ser fotografada por medo.

Garçom roubado escapou da morte

Casos de vítimas que foram abordadas por criminosos quando chegavam em casa após um dia de trabalho ou  indo trabalhar são vários e, cada vez mais, a insegurança toma conta de Rio Verde.

Outro caso deixou a população revoltada. Há algumas semanas, um garçom, após uma noite de trabalho em um restaurante da cidade, voltava para casa quando foi rendido por quatro ladrões, nas proximidades da rodoviária da cidade.

Armados com barras de ferro e facas, os homens espancaram o trabalhador, o obrigaram a entregar celular, carteira, tênis e até mesmo as roupas que usava. Segundo a vítima, quando pediu para não deixá-lo nu os criminosos intensificaram as agressões e o levaram para um lote baldio com a intenção de matá-lo por espancamento. “Estava quase desmaiando quando vi uma viatura passando pela Avenida Presidente Vargas e corri em direção a ela”, disse a vítima.

Os criminosos fugiram, enquanto os policiais providenciaram socorro para o garçom que foi levado para um hospital da cidade.

Os comerciantes do Bairro Popular, região norte da cidade, reclamam da falta de segurança, pois muitos foram assaltados e já não podem manter o comércio aberto à noite. Walter Martins de Oliveira, proprietário de uma “jantinha” no Bairro Popular, conta que todos os estabelecimentos em sua rua fecham as portas antes das 22h por medo de serem assaltados. “Nosso movimento maior é à noite, mas antes das 22 horas precisamos fechar as portas, pois todos os bares e comércio da rua já foram assaltados e  tenho medo que aconteça o mesmo comigo. Comecei há pouco tempo com o negócio e temo pela falta segurança no local”, diz Oliveira.

TENTATIVA

O Comando da Polícia Militar Regional foi trocado recentemente pela Secretaria de Segurança Pública do Estado numa tentativa frustrada de reduzir a violência no município. Apesar de destinar o efetivo da administração para as ruas, na tentativa de amenizar a falta de policiais, a violência continua crescendo cada vez mais em Rio Verde. A maioria dos assaltos é cometida por menores que se julgam impunes e por delinquentes já conhecidos da polícia, cuja entrada e saída da cadeia se tornaram rotina.

No entanto, percebe-se que problema maior é com os menores infratores, muitos destes usuários de droga, cuja detenção acontece com frequência, mas não podem ser mantidos presos, necessitando de um abrigo onde deverão receber tratamento adequado e ressocialização. E isso é impossível em Rio Verde, já que o município não conta com esse local. Em alguns casos os menores apreendidos são encaminhados para outros municípios para internação, quando encontram vagas, mas a maioria é devolvida à família, quando tem, e voltam à sociedade, onde continuam cometendo os mesmos crimes.

Segundo o delegado regional da Polícia Civil, Danilo Fabiano, o envolvimento de menores no mundo do crime é um problema que deve ser evitado a partir da família, com a conscientização por parte dos pais, dos professores, da escola e com ajuda da sociedade, através do envolvimento de todos, inclusive da polícia através de palestras que conscientizem para a prevenção.

Aumento de homicídios aterroriza Maurilândia

A violência também preocupa a pequena Maurilândia, cidade com pouco mais de 11 mil habitantes. Desde o início do ano, já foram registrados quatro homicídios no município. Há poucos dias, num final de semana, um taxista de 63 anos foi baleado durante um assalto.

De acordo com a polícia, três homens se passaram por clientes e, ao entrarem no veículo, anunciaram o crime. Felizmente, esses assaltantes foram presos. O idoso foi internado no Hospital de Urgências de Goiás (Hugo), em Santa Helena de Goiás. “Se aconteceu com ele, pode acontecer com a gente, com um amigo, com qualquer um da população”, diz o colega de trabalho da vítima, o taxista Nelson Machado.

Desde o início do ano já foram registrados quatro homicídios e três tentativas de homicídio nesta cidade. No ano passado, o município somou sete assassinatos. “Estou me sentindo muito assustada. A segurança é pouca aqui”, afirma a atendente Elizete Guimarães.

Na tentativa de reduzir o número de crimes violentos, a Polícia Militar realizou uma operação na cidade e apreendeu várias armas de fogo, dentre elas espingardas e uma pistola de uso restrito.

Segundo o comandante da PM de Maurilândia, o capitão Jota Júnior, a população flutuante é um dos fatores que contribui para o crescimento da violência no município. “Devido às usinas sucroalcooleiras que têm aqui, há uma população flutuante, pessoas que vêm de outros estados para prestar serviço. Dificulta um pouco o trabalho até mesmo de policiamento comunitário, porque não temos conhecimento de quem são essas pessoas, não conhecemos a família, pois não têm residência fixa”, explica.

Questionada sobre o aumento da violência em Maurilândia, a Polícia Civil informou que realiza ações em parceria com a PM para tentar diminuir a criminalidade no local.

Nem sempre a impunidade prevalece

Por volta das 18h45 de quarta-feira, dia 27 de maio, a Polícia Militar foi acionada devido a um roubo em uma mercearia na Rua Coronel Vaiano, Vila Meneses, em Rio Verde. Quando a viatura da Companhia de Patrulhamento Especializado estava a caminho, os policiais viram uma moto com dois homens que passou pela viatura em alta velocidade.

Imediatamente, os policiais foram atrás e conseguiram fazer a detenção dos dois homens. Tratava-se de Gleison Alves de Sousa, 20 anos, e Paulo Henrique de Sousa, 30.

Ambos confessaram serem os autores do roubo.

Com um deles, os policiais aprenderam o dinheiro roubado, a arma usada no crime e a motocicleta, uma Honda Fan preta, semelhante a uma motocicleta utilizada em vários roubos ocorridos nos últimos dias.

Segundo a Polícia Civil, os dois jovens foram autuados pelo roubo e encaminhados à Casa de Prisão Provisória. Outra informação da Polícia Civil é que os dois serão investigados em relação a outros roubos, já que as características deles são semelhantes às descritas por algumas vítimas.

Mandante de assassinato de um pastor em Rio Verde foi condenado a 21 anos de prisão

O pastor Haroldo da Silva Carvalho, 56 anos, foi morto a tiros no fim da tarde do dia 15 de março de 2013, quando pintava a calçada da Igreja Luz para os Povos, localizada na Rua do Mogno, no Residencial Gameleira I, em Rio Verde.

Na quinta-feira (28), o empresário Jair Antônio da Costa, mandante do crime, foi condenado a 21 anos de prisão em audiência realizada no Fórum de Rio Verde.

Em maio do ano passado, três envolvidos na morte já haviam sido condenados. São eles: Otávio Alves Martins, Marcos Henrique Rodrigues da Silva e Willian Rezende da Silva. Otávio Alves e Marcos Henrique foram condenados a 15 anos de Reclusão pelo Crime de Homicídio Duplamente Qualificado. Um deles pilotou a moto usada no crime e o outro efetuou os disparos.

Willian Rezende era funcionário da empresa do mandante do crime e foi ele quem agenciou a contratação dos autores do assassinato. O criminoso foi condenado pelo júri a 8 anos de reclusão em regime semiaberto.

De acordo com o ministério Público, Haroldo da Silva, além de pastor evangélico, realizava corretagem de imóveis, tendo o mesmo efetuado a venda de uma fazenda localizada no Mato Grosso e em Rio Verde, de um lote da Vila Borges e de uma residência localizada no Bairro Solar Campestre, todos de propriedade de Jair Antônio da Costa.

Conforme a acusação, Haroldo não recebeu o valor correspondente ao seu trabalho a título de corretagem, uma vez que Jair Antônio se negava a pagar o débito que perfazia o valor de R$ 16 mil. Inconformado com as cobranças realizadas por Haroldo da Silva, Jair Antônio teria solicitado ao seu funcionário Willian Rezende que contratasse duas pessoas para matar o desafeto.

No dia 8 de Março de 2013, Willian teria se encontrado com Otávio Alves e Marcos Henrique, oportunidade em que lhes propôs o pagamento de R$ 4 mil para que executassem o crime.

PRISÃO

Dez dias após o crime, Otávio e Marcos Henrique foram presos, após a Polícia Civil analisar filmagens. Um mês depois, Jair Antônio e Willian Rezende já estavam presos, suspeitos de envolvimento no crime.

Um dos assassinos morreu, no dia 31 de março deste ano, após ter sido espancado dentro da Casa de Prisão Provisória. Marcos Henrique chegou a ficar alguns dias internado no Hospital de Urgência de Santa Helena de Goiás, onde estava hospitalizado. (Com rondapolicialrioverde.com.br)

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