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CULTURA

Folclore, anedotas e indignação

Rariana Pinheiro, Da editoria DMRevista

No auge de seus 91 anos, a mente de Bariani Ortencio anda sempre ativa, questionadora e, claro, poética. Como escritor, folclorista, compositor e pesquisador, ele produz incansavelmente. E está sempre se reinventando – já há algum tempo até aderiu às telas do computador para trabalhar. Parte do que passa por sua mente produtiva, e captada por seus dedos inquietos, ele vai mostrar em um triplo lançamento de livros, que acontece hoje, às 20h, no Instituto Cultural e Educacional, que leva seu nome, localizado na Praça Cívica.

Sim, em uma noite regada a chope pasteizinhos de guariroba e pequi e torresmo, ele mostra, não apenas um, mas três obras. Tratam-se dos livros Goiás e Tocantins e 500 Rapidinhas Maldosas. O terceiro não é bem um lançamento, mas uma reedição da obra publicada em 2012, intitulada Um Novo Brasil - País Ideal.

Como mais uma prova de sua astúcia, as obras chegam acompanhadas pelo CD Show de Vozes, de Lindomar Castilho, em que o músico conhecido como “o cantor das Américas” canta ao lado de grandes figuras da “velha guarda” canções locais. Estão neste trabalho nomes como o de Josaphat Nascimento, Edvaldo Leite, Aparecida Amorim e vários outros. As canções foram todas compostas por Bariani, já que é na música que ele exerce, mais uma de suas múltiplas facetas: a de poeta.

Aventureiro

Voltando exclusivamente ao mundo literário, as obras versá-teis que serão lançadas logo mais fazem um breve apanhado da vida e carreira deste escritor. Pois desde quando abandonou a vida de comerciante, no bem-sucedido e lendário Bazar Paulistinha, para viver para os livros, se aventurou em praticamente todos os gêneros literários.

“Escrevi de um tudo, de livros policiais a paradidáticos. E sou mesmo apaixonado pela cultura popular”, explica o autor. Por isso, na nova obra chamada Goiás e Tocantins, ele continua a deixar aquele legado de guardião da cultura popular. Dessa forma, a nova obra é repleta de histórias e costumes, destes dois Estados, que tão ligados entre si, que já foram até um só. “Falo da fundação de cidades, folclore, medicina popular, brincadeira de roda. Tem tudo. Quer dizer quase tudo, porque ninguém faz tudo”, brinca.

A obra, Bariani conta, chega para colaborar com um acervo ainda muito reduzido sobre o folclore brasileiro. Por isso, assim como Cartilha do Folclore Brasileiro (outro livro seu sobre folclore), pretende servir como referência para professores. “Estudar folclore é tão fundamental como matemática e português. Conhecendo a cultura popular, a criança não vai ter vergonha da mãe benzedeira, ou parteira e, sim, orgulho”, explica.

Anedotas e indignação

Já em 500 Rapidinhas Maldosas, Bariani traz uma homenagem a Geraldinho Nogueira. Por isso, promete ao leitor um passeio por divertidas anedotas, ou “causos”, como são também conhecidas. “Não é um livro de autoria de Geraldinho, mas em celebração a ele, que foi um grande contador de histórias”, esclarece Bariani, completando que o trabalho é fruto de uma quase incessante pesquisa, que o fez tornar quase um colecionador de piadas.

Já na terceira edição de Um Novo Brasil, País Ideal, Bariani traz uma versão revisada e ampliada do livro lançado em 2012. Na obra, apesar de satírica, o escritor traz à tona uma indignação com um País que “foi tão destroçado e roubado por gente tão importante e tão impunemente”. Assim, através de um personagem fictício, fala verdades descaradas.

“Conto a história de um candidato que é presidente da República fictício e aproveitou um descuido da constituição e se candidatou sem partido, sem nada e se elegeu. Eu, por exemplo, sou um cara que sou de paz, amigos de todos os políticos. Mas sou contra o nosso regime atual, então quis fazer ficção para mostrar que está tudo errado”, ressalta.

Um homem da escrita

Neto de italiano, Bariani Ortencio nasceu em Igarapava (SP), e foi, junto com a família, cujo ofício era a serraria, que chegou em Goiânia, no ano de 1938. Dessa forma foi um dos primeiros moradores da Capital.

“Na minha cidade a madeira estava acabando e a família aumentando. Precisávamos de uma cidade nova para ajudar a construir e cuidar de nossa família. Assim viemos para Goiânia e aqui ficamos”, diz ele, recordando ainda que logo se tornou goleiro do Atlético, onde ficou por 10 anos.

Na infância e começo da juventude era comum vê-lo voltar de bicicleta do Lyceu de Goiânia para Campinas. Na carreira acadêmica começou Odontologia, que logo deixou para seguir a vida de comerciante.

Foi em 1956, quando tinha 33 anos, que lançou o primeiro livro O Que Foi Pelo Sertão, e nunca mais parou. Com cerca de 40 livros lançados, é ainda membro da Academia Goiana de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico de Goiás, União Brasileira de Escritores (Seção Goiás), entre várias outras entidades. Atua ainda como cronista semanal de jornal e participa do programa Frutos da Terra.

Como escritor ganhou vários prêmios, entre eles o Prêmio João Ribeiro Folclore, na Academia Brasileira de Letras. Com a longa e laureada carreira no mundo das letras ele ainda está ávido por criar mais. “Estou trabalhando em 13 livros. Tem um de contos eróticos, um sobre minha história, outros de romance policial e de folclore. Produzo igual a coelho”, revela sorrindo.

Lançamento dos livros de Bariani Ortencio

Quando: Hoje, a partir das 20h

Onde: Instituto Cultural Bariani Ortencio (Rua 82 nº 565 - Praça Cívica)

Informações: (62) 3223-0330

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