Home / Cotidiano

COTIDIANO

Depressão nas alturas

A queda de um avião Airbus 320 nos Alpes Franceses na terça-feira (24) tem ganhado destaque na imprensa internacional devido a possibilidade de ter sido motivada pela depressão do copiloto, Andreas Lubtiz. A estafa e exaustiva jornada dos trabalhadores da

A queda de um avião Airbus 320 nos Alpes Franceses na terça-feira (24) tem ganhado destaque na imprensa internacional devido a possibilidade de ter sido motivada pela depressão do copiloto, Andreas Lubtiz. A estafa e exaustiva jornada dos trabalhadores da aviação como pilotos, copilotos e controladores de voo foi, por diversas vezes, causa de manifestações e greves por todo o Brasil.

Em 2013, os aeronautas de diversas cidades brasileiras promoveram uma greve reivindicando aumento salarial. Além disso, eles também realizaram protestos no Aeroporto de Congonhas.

A paralisação ocasionou atrasos e cancelamentos de voos em todo o País. Em dezembro do ano passado, outro protesto foi realizado pelos trabalhadores que solicitavam aumento de salário e alteração do número de folgas.

No mês de fevereiro, deste ano, os aeronautas e aeroviários novamente cessaram as atividades com o intuito de que suas solicitações fossem atendidas. “Em muitos casos, acontece de voarmos seis madrugadas consecutivas. Pedimos uma restrição disso, uma parametrização de nossas escalas. A fadiga não é gerenciada hoje em dia e isso afeta diretamente a qualidade do nosso trabalho e saúde. Número de folgas e segurança do voo são outras cláusulas sociais que pedimos e que seguem legislação em todo o mundo”, disse o secretário-geral do Sindicato Nacional dos Aeronautas (SNA), Rodrigo Spader, durante as manifestações de 2015.

Seriedade

O diretor de segurança de voo do SNA, piloto Mateus Ghisleni, afirma que na reivindicação do início deste ano foram solicitadas alterações em vários aspectos como jornada de trabalho, escalada de voos e reivindicações econômicas. Ele cita um projeto de lei que já passou pelo Senado Federal e que, atualmente, está na Câmara dos Deputados e regulamenta as mudanças propostas.

Quem pretende seguir a carreira de piloto é obrigado a realizar um curso. Mateus explica que cada pessoa faz as aulas na escola de formação que considerar mais adequada e que esse é um curso técnico de pilotagem, em que se aprende sobre o avião.

Ele afirma que a profissão exige seriedade e todos os profissionais são avaliados frequentemente. “Todos os pilotos são treinados e avaliados a cada seis meses, com provas orais, escritas e práticas. Passamos por exames médicos, anualmente. Para quem possui mais de 40 anos, esse exame é semestral”, explica.

ACIDENTE

O avião Airbus 320 saiu de Barcelona, na Espanha, com destino a Düsseldorf, na Alemanha. A queda teve duração de oito minutos e os destroços da aeronave foram encontrados a 2 mil metros de altitude. O voo estava com 150 pessoas a bordo, sendo 144 passageiros, dois pilotos e quatro tripulantes. Entre as vítimas estavam 72 alemães, 35 espanhóis, 2 australianos, 2 argentinos, 2 iranianos, 2 venezuelanos, 3 americanos, 1 marroquino, 1 britânico, 1 holandês, 1 colombiano, 1 mexicano, 1 dinamarquês, 1 belga e 1 israelense.

Lei do Aeronauta aumenta tempo de repouso

O Projeto de Lei (PL) 8255/14, conhecido como a nova Lei do Aeronauta, foi aprovado em dois turnos no Senado federal e agora irá ser tramitado na Comissão de Viação e Transportes, na Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público e na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania da Câmara dos Deputados. Ele propõe mudanças em itens como o período de sobreaviso, folgas e  limites de tempo de voo.

O documento prevê aumento de 8 para 12 dias de repouso remunerado por mês, sendo que, nos meses de alta temporada (janeiro, fevereiro, julho e dezembro), esse número irá cair para 10.

Além disso, o projeto de lei determina que as empresas de aviação planejem as escalas de voos dos tripulantes com base em Programa de Gerenciamento de Risco da Fadiga Humana (PGRF), de acordo com conceitos recomendados pela Organização de Aviação Civil Internacional. Esse programa deverá ser aprovado pela autoridade de aviação civil brasileira, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).

Também foi proposto pela área, o máximo de 100 horas de voo em 30 dias, em aeronaves turboélice e no máximo 90 horas mensais, no caso de aeronaves a jato. Também são reivindicados alteração na divulgação das jornada, na abrangência da lei e na remuneração dos profissionais.

Ex-piloto afirma que profissão é normal

O coordenador do curso de Ciências Aeronáuticas da PUC, comandante Raul Francé Monteiro, afirma que a profissão de piloto ocasiona um estresse como o de qualquer outro trabalho. Segundo ele, o profissional pode ficar estressado devido as mesmas razões do que qualquer outra pessoa, como dinheiro ou perda familiar.

Raul atuou como piloto por mais de 28 anos e diz que uma profissão realmente estressante da aviação é a de controlador de voo. Ele afirma que, durante atuação como profissional da área, nunca teve problema. “Eu vivo mais estressado como professor do que como piloto”, diz.

Para o coordenador, a pessoa que pretende seguir a carreira de piloto deve ter controle. “O piloto tem que ter perfil de pessoa controlada. Tem que ser equilibrado”, afirma.

Todos que seguem a área da aviação primeiramente realizam um curso, que possui orientação da Organização da Aviação Civil Internacional (Ical). No Brasil, essa orientação é realizada pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Raul explica que durante o curso, “o tempo todo” eles realizam atividades relacionadas com o estresse, incluindo simulação de voo e aulas de Psicologia.

Em relação ao acidente com o avião francês, o coordenador do curso de Ciências Aeronáuticas da PUC-GO, comandante Raul Francé Monteiro, diz que o copiloto desceu trinta mil pés em oito minutos, o que não é considerado normal. Ele afirma que não é porque o profissional é da área da aviação que ele é estressado e considera que ele pode ter suicidado, porém, lembra que ainda não há nada confirmado.