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A ‘formiga’ de Rio Bonito enfrenta o seu pior inverno

RIO — Como na fábula de Esopo, a formiga de Rio Bonito passou verões a fio levando grãos de milho para o formigueiro. E agora, quando se aproxima um duro inverno na carreira política, Solange Almeida, a prefeita chamada de formiga pelo trabalho assistencialista, capaz até hoje de levar um doente de madrugada ao hospital, espera ter acumulado popularidade o suficiente para sobreviver à intempérie. Acusada de ser laranja do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), ela pode virar um dos primeiros réus do caso Lava-Jato no Supremo. Ao mesmo tempo, adversários no próprio partido, o PMDB, tentam derrubá-la do comando político da cidade. Solange é investigada por apresentar requerimentos suspeitos em nome de Cunha, na Câmara.

A 64 Km da capital, Rio Bonito está na rota que liga o Grande Rio às praias da Região dos Lagos. Nos anos 1980, quem cruzava o município pela BR-101 podia ver extensos laranjais se espalhando pelas planícies e subindo os morros. Mais tarde, no auge do petróleo, enquanto a Petrobras construía o complexo petroquímico Comperj na vizinha Itaboraí, os cerca de 55 mil moradores locais acreditaram que Rio Bonito deixaria de ser apenas um ponto de passagem. O escândalo da Lava-Jato os atingiu em cheio: a Petrobras se viu na maior enrascada de sua História, os negócios do petróleo minguaram, o município mergulhou numa crise e a prefeita saiu de cena, para evitar em público as explicações que está sendo obrigada a dar no STF.

A veterinária gaúcha Solange Pereira de Almeida, de 54 anos, começou a cultivar a fama de formiga ao volante de uma Brasília velha. O carro, um dos poucos existentes em Catimbau Pequeno, distrito onde ela vivia com o marido, Carlos Henrique Minardi, rodava como uma ambulância improvisada nas horas mais ingratas. Na Brasília de Solange, sempre havia vaga para idosos, grávidas, acidentados e outros vizinhos aflitos que precisavam chegar a tempo na emergência do Hospital Regional Darcy Vargas, na sede do município. Foram esses caronas que abriram as portas do mundo político para a gaúcha, ao convencê-la a disputar, pelo PMN, uma das vagas na Câmara Municipal em 1988. Abertas as urnas, cerca de 200 votos foram satisfatórios para elegê-la.

Desde então, foram dois mandatos como vereadora, três como prefeita e duas vezes deputada federal (na segunda, assumiu como suplente). Em 1997, ao baixar para 0,6% a alíquota de ISS, deu a Rio Bonito a fama de “paraíso fiscal”. Agora, busca a sobrevivência. Além de enfrentar a denúncia no STF, luta para manter o controle do PMDB na cidade. ()

Colaborou Cássio Bruno

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