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COTIDIANO

Agrotóxicos: beneficios e malefícios

O Fórum Goiano de Combate aos Impactos Ambientais se reuniu com uma representante do Ministério Público do Distrito Federal em setembro para discutir e marcar audiências sobre a regulamentação da pulverização aérea de agrotóxicos. A primeira audiência ficou marcada para o dia 01 de outubro enquanto a segunda foi prometida para o final de novembro.

O uso de produtos agrotóxicos sofreu grande massificação na década de 1960, quando os grandes investidores notaram que diminuir as “pragas” poderia render uma quantidade maior de colheitas em um ano. Esses produtos têm funções especificas, combatendo desde ervas e fungos até insetos e caracóis. O Agrônomo Arthur Pereira da Cunha explica que os defensores agrícolas maximizam a produção e ajudam a eliminar as pragas, que podem acabar trazendo prejuízos aos produtores rurais.

Uma pesquisa realizada pela Universidade do Estado de São Paulo (USP) em novembro do ano passado mostrou que o uso dos agrotóxicos previne a perda de 10 a 40% da produção agrícola mundial. Mesmo que a utilização dos agrotóxicos se mostre – dentre outras palavras – útil, ainda ocorre o exagero do uso desses produtos, constantemente criticado por profissionais de outras áreas, como médicos, nutricionistas e até mesmo outros agrônomos.

Arthur defende o uso dos defensores agrícolas nas grandes produções, mas fala sobre os males que estes podem trazer quando mal aplicados: “Se você aplicar ele [agrotóxico] indevidamente você causa a resistência de determinada praga e podem fazer mal a saúde.”

Polêmica

A própria discussão sugerida pelo Ministério Público é uma polêmica entre os profissionais da área. Enquanto alguns afirmam que a pulverização aérea de agrotóxico é menos prejudicial à terra e as pessoas, por abranger uma área maior utilizando menos agrotóxicos, outros afirmam que essa mesma pulverização é inapropriada por deixar 32% do agrotóxico borrifado, nas plantas, 49% no solo e 19% no ar, que pode ser levado pelo vento e acabar afetando as pessoas que trabalham na região.

O agrônomo fala que a pulverização aérea mais utilizada em produções maiores e mais “altas” e fala que o método é mais eficiente apesar de o mais utilizado no Estado ser o da pulverização de arrasto ou de autopropelido, ou seja, a pulverização espalhada por tratores: “Ela é mais eficiente, por exemplo, você joga em torno de 150 a 200 litros por hectare de água mais produto quando se faz com trator, quando é aérea você faz 20 a 50 litros.”

Quando questionado sobre o que fazer para que fosse encontrado um consenso entre os defensores e os condenadores dos produtos agrotóxicos, Arthur fala que a área agrícola do país é desenvolvida, mas ainda possui áreas falhas. Ele fala também que seriam necessários mais estudos sobre os produtos mesmo que estes possuam indicador toxicológico, que indicam quando o produto é muito ou pouco tóxico.

Arthur cita que caso os defensores agrícolas deixem de ser usados haveria uma queda significativa na economia e na quantidade de empregos do país, já que o mercado de trabalho exige essa competitividade para o avanço econômico.

Ingestão de agrotóxicos e doenças cancerígenas

A nutricionista Síntia Maria Ribeiro diz que um terço dos vegetais mais consumidos pelos brasileiros têm níveis altíssimos de resíduos de defensivos agrícolas e que cada pessoa chega a consumir mais de 5 kg por ano. “A ação dos agrotóxicos sobre a saúde humana costuma ser deletéria, muitas vezes fatal, provocando desde náuseas, tonteiras, dores de cabeça ou alergias até lesões renais e hepáticas, desenvolvimento de cânceres, alterações genéticas, problemas neurológicos, malformação fetal, abortos e infertilidade” explica Síntia.

Alguns dos produtos agrícolas, como as frutas e legumes, podem absorver agrotóxicos através de seus poros, isso deixa o alimento ainda mais infectado. Segundo a nutricionista, são esses, a alface, o morango, a couve,  o pimentão e pepino.

Ela aconselha os que desejam ter uma vida mais saudável, mesmo com a ingestão dos produtos com agrotóxicos, lavem bem os alimentos antes do consumo, evitem comprar alimentos grandes, por conterem quantidade maior de agrotóxicos, e que retirem as cascas e as folhas externas desses alimentos, para diminuir a quantidade de agrotóxico contida nos mesmos.

“A presença de resíduos de agrotóxicos não ocorre apenas em alimentos in natura, mas também em muitos produtos processados pelas indústrias, como biscoitos,salgadinhos, pães, cereais matinais, lasanhas, pizzas e outros que têm como ingredientes o trigo, o milho, e a soja, por exemplo”, ressalta a nutricionista, citando também a contaminação da carne por meio das rações.

Siameses e os agrotóxicos

Gêmeas Siamesas vindas da Bahia, Maria Clara e Maria Eduarda. Elas passaram por cirurgia de separação e tiveram alta no final de setembro (Foto: Divulgação)

O cirurgião pediatra responsável pelas separação de gêmeos siameses no Hospital Materno Infantil (HMI), Zacharias Calil, defende a  teoria de que o contato com os agrotóxicos podem ser um dos responsáveis por causar a malformação dos fetos. O médico usa o exemplo do agente laranja, produto usado na guerra do Vietnam (1964 - 1975) com função de destruir florestas e aumentar a visibilidade das tropas norte-americanas, para comprovar seu ponto de vista.

Calil explica que foram cerca de cinco milhões de pessoas atingidas pelo desfolhante durante a guerra, e que após seu término foi constatado um grande número de malformações fetais no pais: “Só no ano de 1986 foram identificados dez casos de gêmeos siameses” explica. Um livro escrito pelo jornalista Anthony Spaeth em 1994, indicado por Calil, cita que na cidade de Ho Chi Minh e em seus arredores foram identificados ainda 30 casos de siameses em cinco anos.

O mais chocante em tal afirmação é que o caso do nascimento de gêmeos conjugados é algo extremamente raro, sendo que a cada 100 mil nascidos vivos apenas um caso é de siameses. O correto seria que só houvesse uma gestação de siameses a cada dez anos.

O médico explica que os defensores agrícolas entram no organismo e funcionam como um camaleão, pois o organismo não reconhece o agente como algo estranho, causando alterações que geram complicações em nível ovular: “Eles entram no organismo e meliteram os hormônios e funcionam como um desruptor.”

Calil ainda critica o uso exagerado de agrotóxicos, dizendo que deve se conscientizar melhor a população a prática. Segundo o cirurgião ainda existem produtos agrotóxicos proibidos no exterior que têm uso permitido no cultivo brasileiro, e fala sobre a constante contaminção de pessoas pelos agentes. “Fizeram uma pesquisa com os lagos da Flórida e descobriram que todos eles estavam contaminados [com agrotóxicos]” menciona. Calil ainda explica que no local foram encontrados animais com problemas nas genitálias e sobre como esses rios podem ser portas para áreas muito maiores de contaminação.

Uso de agrotóxicos e incentivo a alimentos orgânicos serão debatidos em audiência

Agência Câmara Notícias

A Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável discute, amanhã (6), o consumo de agrotóxicos e o incentivo à produção de alimentos orgânicos no Brasil. A audiência pública foi pedida pelos deputados Heitor Schuch (PSB-RS) e Rodrigo Martins (PSB-PI). Em seu requerimento, os parlamentares citam relatório divulgado pelo Instituto Nacional de Câncer (Inca) em abril deste ano, recomendando a redução progressiva do uso de agrotóxicos utilizados no País e alertando para os riscos dessas substâncias para a saúde e para a incidência de câncer.

Segundo o documento, o Brasil se tornou o maior consumidor mundial desses produtos, ultrapassando 1 milhão de toneladas em 2009, o que representa o consumo médio de 5,2 kg de veneno agrícola por habitante. No texto, o Inca considera que a liberação do uso de sementes transgênicas foi uma das responsáveis por colocar o país no primeiro lugar deste ranking, e conclui ainda que é preciso mudar a política de incentivo à produção de agrotóxicos, como a isenção de impostos ao setor e a liberação de tipos de substâncias que são proibidas em outros países.

Diante destas conclusões do Instituto, Heitor Schuch e Rodrigo Martins defendem que é necessário discutir medidas tecnológicas, financeiras e legais visando uma transição para o incentivo à produção de alimentos orgânicos, livres de venenos.

“Não é possível que se continue priorizando a aceleração do registro de novos agrotóxicos no país, inclusive com a permissão da venda de produtos mais tóxicos do que outros já existentes no mercado para o mesmo fim. Enquanto isso, o agricultor, especialmente o agricultor familiar, carece de alternativas para produção de alimentos orgânicos, que vêm ganhando mercado e competitividade devido às exigências dos consumidores em alimentos mais sadios e sustentáveis”, ressaltam os deputados.

Plantas de cobertura reduzem pragas e uso de herbicida

Assessoria UFG

Para pensar no manejo sustentável da produção agrícola, pesquisas realizadas pela equipe do Laboratório de Plantas Daninhas (LPD) da Regional Jataí da Universidade Federal de Goiás (UFG) têm investigado espécies de plantas de cobertura que possam minimizar o impacto ocasionado pela disseminação de plantas daninhas resistentes nas culturas de oleaginosas e de cereais. Pesquisadores buscam ainda identificar espécies que se encaixem em programas de rotação de cultura. As pesquisas foram feitas em culturas no sudoeste goiano de soja em primeira safra, na época da primavera e verão, e de milho em segunda safra, durante o outono inverno.

O Brasil é líder mundial no uso do Sistema de Plantio Direto, uma das alternativas para agricultores no manejo do solo que visa à redução dos impactos da agricultura, como os processos erosivos e compactação do solo, além de contribuir para a melhoria da fertilidade do solo. O sistema consiste na gestão da terra pela rotação de culturas e aproveitamento de plantas e de resíduos vegetais de outras safras, a chamada palhada, a qual favorece a cobertura permanente do solo e auxilia na supressão de pragas, como plantas daninhas, que podem se alastrar nas culturas.

De acordo com o coordenador da pesquisa, Paulo César Timossi, o uso de herbicidas pode ser reduzido no controle de plantas daninhas com outras alternativas, tendo em vista que certas espécies têm se tornado resistentes à adoção de produtos químicos. “Devido ao uso incorreto de tecnologias e excesso de uso do herbicida glyphosate, tem ocorrido a seleção de espécies de plantas daninhas tolerantes à molécula, o que tem levado alguns agricultores a retornar para o sistema convencional de cultivo por não conseguirem controlá-las quimicamente”, alerta o pesquisador, que acredita ser um retrocesso para a agricultura.

Atualmente, o Sistema de Plantio Direto no Cerrado tem se sustentado a partir do uso do herbicida glyphosate para o controle das plantas daninhas, ferramenta que, no entanto, durante o processo de pré-semeadura, não tem sido eficiente na redução da incidência de plantas daninhas como a buva (Conyza sp.), o capim-amargoso (Digitaria insularis), a erva-quente (Spermacoce latifolia) e a trapoeraba (Commelina benghalensis).

Entretanto, espécies de plantas de cobertura como a braquiária ruziziensis (Urochloa ruziziensis) e as crotalárias (Crotalaria junceae e Crotalaria ochroleuca), utilizadas na formação da palha e rotação para o plantio direto, têm apresentado bons resultados para reverter o problema. “O cultivo de crotalárias e braquiárias, isoladas ou em cultivo simultâneo ao milho, tem se destacado no manejo das plantas daninhas, diminuindo-as em quase a sua totalidade em áreas com altas infestações”, salienta o pesquisador. Além das plantas de cobertura, o pesquisador enfatiza que a rotação de culturas também tem se destacado como prática para diminuição do uso de herbicidas, sem, no entanto, diminuir a produtividade de grãos das culturas.

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