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Goiás lidera mortes de mulheres

Os homens brasileiros praticam um esporte macabro: matar mulheres. Mais especificamente ‘suas’ mulheres – conforme uma prevalente cultura machista que insiste em se perpetuar.

Conforme dados do Mapa da Violência 2015, colhido pelo DataSus e tabulado pelo sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz, 50,3% dos homicídios de mulheres são praticados pelos próprios familiares.  Roraima, Espírito Santo e Goiás são os estados com maior quantidade desta modalidade de assassinato.

“Recentemente, Raúl Eugenio Zaffaroni, Ministro da Suprema Corte Argentina e diretor do Departamento de Direito Penal e Criminologia na Universidade de Buenos Aires, colocava em uma entrevista: “Cada país tem o número de presos que decide politicamente ter”. Por minha conta e risco, complementaria a afirmação do ilustre professor: “Cada país tem o número de feminicídios que decide politicamente ter, assim como o número de condenações por essa agressão””, diz o pesquisador, que realizou ontem coletiva para divulgar os dados estatísticos.

Goiás apresentou um aumento de 89,5 % de homicídios nos últimos dez anos, sendo que 2010, 2011, 2012 e 2013 entram para a história. Foram os anos mais violentos para as mulheres goianas. Nunca se matou tanto o sexo feminino como agora.

Os dados coletados em 2013 revelam que entre 1980 e 2013 foram assassinadas 106.093 mulheres. No ano em que foi realizado o levantamento ocorreram 4.762 feminicídios no país.

O Brasil é o quinto  país do mundo com maior quantidade de homicídios contra as mulheres. E com uma característica que desperta hipóteses de racismo e renda:  enquanto ocorreu uma queda de 9,8% no assassinato de mulheres brancas, as mortes de negras aumentou 54,2% - fato que demonstra ausência de políticas públicas voltadas para a proteção das mulheres negras.

Segunda cidade mais violenta com mulher é de Goiás

Mais uma vez a região do Entorno do Distrito Federal, em Goiás, fornece estatísticas volumosas para o Mapa da Violência. Alexânia é a segunda cidade com maior quantidade de assassinatos de mulheres no Brasil. Com população de 1.947 mulheres,  a cidade teve 25,1 de mortes na razão por 100 mil – o método de cálculo sociológico internacional. Barcelos (AM) é a campeã com 45,2 homicídios.

Em Goiás, depois de Alexânia, a cidade mais violenta na sequência é também do Entorno: Cristalina, com taxa média de 16,5. Planaltina e Luziânia, ambas da região metropolitana do DF, surgem em seguida, com 14 e 12,8.

Os dados da pesquisa revelam outra variável importante para a execução de políticas públicas:  as capitais não estão dentre as 100 mais violentas.  Isso significa que ocorreu uma interiorização da violência contra a mulher, tendo nas cidades menores e menos urbanas uma maior incidência dos homicídios.  Assim, cabe aos Estados e União perceber o que tem de errado em suas políticas públicas para reduzir as estatísticas.

Apesar de Goiás revelar um aumento absurdo de assassinatos de mulheres, no mesmo período São Paulo trouxe outra realidade: queda de -39,7%.  Rio de Janeiro também pontua redução de -26,3% no estudo. Pernambuco também trouxe quedas de -6,6% no índice de mortes.

Em termos quantitativos, morar em Goiás é mais perigoso do que em qualquer estado do Centro-Oeste. Se juntarmos todos os homicídios contra mulheres no Distrito Federal, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul ( 243) não se consegue um patamar maior do que o de Goiás (271).

O feminicídio ocorre na maioria dos casos em via pública (31,2%), mas a residência é o segundo cenário de morte, com 27,1%.

“Observando as UFs, podemos conferir que, em 2013, Rondônia, Paraná e Mato Grosso lideram nos homicídios de mulheres brancas, com taxas acima de 5 por 100 mil. Já Espírito Santo, Acre e Goiás são as unidades com maiores taxas de homicídio de negras, com taxas acima de 10 por 100 mil”, diz o autor da pesquisa.

No dia das mulheres do último ano, em Goiânia, uma chacina assustou a população. Quatro jovens, com idades entre 15 e 19 anos, foram mortas no Morro do Mendanha (Fotos: Arquivo Pessoal)

Situação piorou nos últimos anos

Goiás não apresentava o mesmo índice de mortes em 2003.  Apesar de violento para o gênero, existia equilíbrio com as mortes que envolvem homens e um índice compatível com a realidade do país. Levantamento realizado em 2003 mostrou o estado na 9º colocação, atrás do Distrito Federal, Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro e até mesmo Distrito Federal – estados hoje que oferecem maior segurança para as mulheres.

Todavia, um ímpeto machista e sangrento tomou conta do estado nas décadas que seguiram. A pesquisa Mapa da Violência 2015 revela que a situação piorou de 2006 para cá. Goiás apresenta um incremento de homicídios que ultrapassa estados considerados violentos, como Pará e Espírito Santo. Roraima, Rio Grande do Norte e Ceará são as unidades que mais cresceram em relação à prática de mortes das mulheres.

Conforme a pesquisa, a vigência da Lei Maria da Penha não surtiu efeitos em Goiás. Mesmo com a norma penal em vigor, aumentaram os casos de violência com morte.

Capitais  

Das capitais, Goiânia é a quinta em número de assassinatos de mulheres. Vitória (ES), Maceió (AL), João Pessoa (PB) e Fortaleza (CE) estão na frente da capital goiana, que teve taxa de 9,5 por 100 mil habitantes. Mas entre 2006 e 2013, ocorreu significativa melhora para as mulheres de Goiânia.  A cidade  caiu  para a 13º colocação em aumento de crimes desta modalidade.

A pesquisa sugere que estados onde o atendimento da mulher é falho existe maior incidência de mortes femininas.  Geralmente, estas mulheres procuram unidades de saúde para relatar as violências sofridas, seja por indicação policial seja por necessidade urgente de atendimento.

Goiás está na lista dos que menos oferecem atendimento,  com a 17º colocação.  Na mesma comparação, quando o gênero é masculino, Goiás se localiza na 10º posição – assim, revela-se que o homem é melhor atendido do que a mulher.

Tiago Henrique, suspeito de ser o serial killer de Goiânia, foi apontado pela polícia como autor de 39 mortes a maioria mulheres (Foto: Edilson Pelikano)

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Números da morte

Assassinatos de mulheres por países

El Salvador 2012       8,9      1º

Colômbia 2011         6,3       2º

Guatemala 2012      6,2        3º

Rússia         2011       5,3           4º

Brasil           2013      4,8       5º

Estados mais inseguros para as mulheres

Roraima – 15,3

Espírito Santo – 9,3

Goiás – 8,6

Alagoas- 8,6

Acre - 8,3

Estados menos violentos e mais seguros para as mulheres

São Paulo – 2,9

Piauí -  2,9

Santa Catarina – 3,1

Rio Grande do Sul – 3,8

Maranhão – 3,8

Como elas morrem em relação aos homens

Meio/instrumento Fem. Masc.

Estrangulamento/sufocação 6,1   1,1

Arma de Fogo 48,8   73,2

Cortante/penetrante   25,3   14,9

Objeto contundente 8,0   5,1

Outros 11,8  5,7

Brasil apresenta:

• 48 vezes mais homicídios de mulheres que o Reino Unido;

• 24 vezes mais homicídios de mulheres que Irlanda ou Dinamarca;

• 16 vezes mais homicídios de mulheres que Japão ou Escócia.

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