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Natureza em fúria

Incêndio que há seis dias atinge o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros já destruiu mais de 11 mil hectares de vegetação. A expectativa do 10º Pelotão de Corpo de Bombeiros de Minaçu, responsável pela região do parque, era de que o incêndio fosse controlado ainda na madrugada desse sábado. Prejuízos para fauna e flora são devastadores e geram desequilíbrio ao meio ambiente, avaliam especialistas.

O parque abrange vários municípios como Colinas do Sul, Cavalcante e Alto Paraíso de Goiás e possue 65,5 mil hectares. De acordo com o capitão do Corpo de Bombeiros, Ciro Martins da Silva, para auxiliar na tentativa de combater ao incêndio os trabalhos contaram com uma equipe de 14 bombeiros, 40 brigadistas e duas aeronaves durante o dia de ontem.

“Existem hoje (ontem) duas linhas de fogo dentro do parque e três linhas de fogo que ameaçam a zona urbana da cidade de Alto Paraíso de Goiás. A nossa expectativa é que o incêndio seja controlado com os ataques da linha de fogo ainda hoje à noite”, descreve o capitão.

O fogo teria começado depois que raio atingiu a vegetação seca por causa de período sem chubas.

Danos ambiental

O Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros é dirigido pelo Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio) que é responsável pelo combate ao incêndio e resgate de fauna. O analista ambiental o biólogo, Luiz Alfredo Lopes Baptista constata que o impacto do fogo na fauna ocorre de duas maneiras, direta e indireta.

Ele descreve que diretamente, alguns animais podem sofrer queimaduras que levam ao óbito por não conseguir fugirem do fogo. Alguns, no caso de mamíferos adultos e aves em geral, conseguem fugir do fogo. Porém ele ressalta que se o incêndio for de grandes proporções essa fuga pode ser impossibilitada. De acordo com ele, a maior mortalidade ocorre na faixa etária do animais mais jovem, já que a mobilidade é menor e o nível de desorientação deles pode ser  maior.

Luiz acrescenta que serpentes, répteis e anfíbios conseguem utilizar tocas ou áreas úmidas, mas há impacto significativo em adultos que são pegos pelo fogo intensos no meio do Cerrado. Mas, as aves diz ele, “podem ser seriamente afetadas se o fogo ocorrer em época de reprodução, como é o caso deste incêndio no Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, já que esta é época de reprodução para parte da avifauna. Aves que colocam ninhos no solo perderão suas crias” constata.

Impactos indiretos

Sobre os impactos indiretos ele explica que ocorrem depois da queimada, porque há a diminuição da alimentação presente para os herbívoros, insetos para insetívoros e frutas para os frugívoros. “Nesta terra arrasada pós-fogo, a permanência dos animais na área do Parque é difícil, o que faz com que os sobreviventes dispersem para áreas não afetadas na redondeza”.

No entanto ele ressalta que este deslocamento gera um desequilíbrio da fauna, porque pode aumentar a competição nos novos locais por alimentos, abrigo, água e locais de nidificação, afetando ambas as populações: residente e migratória.

Em relação à flora do Cerrado, o analista ambiental menciona que esta conviveu com a presença do fogo e das queimadas ao longo de sua história evolutiva e criou mecanismos de defesa e até reprodutivos para aproveitar o fogo como, por exemplo, para quebrar a dormência de certas espécies de plantas, que seria uma espécie de recrutamento de jovens do banco de semente após uma queimada. Contudo, ele alerta que, “a incidência constante dos incêndios em Parques nacionais tende a afetar mais negativamente do que positivamente para que a flora seja beneficiada” define.

Hoje, no Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, de acordo com Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio) podem ser encontradas na fauna do parque espécies ameaçadas do bioma como no grupo das aves, o Galito, o Pato Mergulhão, que é uma espécie altamente ameaçada, a Codorna-buraqueira, o Inhambu-carapé, a grande Águia-cinzenta e o Socó-jararaca.

“Para mamíferos, há ocorrência do Cervo-do-pantanal, o Lobo-guará, o ágil Gato-palheiro, símbolo do cerrado, o Tamanduá-bandeira, a Onça-pintada que é essencial para todos os ecossistemas que ocorre, e o grande Tatu-canastra. Um incêndio no parque como este com certeza afetará as populações destas espécies ameaçadas, dificultando ainda mais a conservação destas” conclui.

Para especialista, destruição no Parque pode criar dificuldades de manutenção para espécies ameaçadas de extinção

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