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As mortes que descem dos céus

Nos últimos 10 anos, quedas de aviões e helicópteros particulares somam 43% dos acidentes aéreos registrados no Brasil, categoria em que se enquadra o monomotor PT – VNC, PA 32 que caiu na zona rural de Trindade, no domingo (6). De 2006 pra cá, Goiás contabilizou cerca de 85 desastres aéreos envolvendo aeronaves de pequeno e médio porte. Os números são do relatório Panorama Estatístico da Aviação Civil Brasileira do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa).

Conforme dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), no Estado há quase 10 mil naves particulares, o que representa praticamente 50% de todas as frotas anotadas no País.

A situação se agrava ainda mais quando as tragédias ocorridas são de difícil esclarecimento ou quando se demora anos para a conclusão de laudo pericial, como a queda do helicóptero, em junho do ano passado em Aruanã (GO), que vitimou o jogador Fernandão e mais quatro tripulantes. Há também o caso de outro helicóptero, com oito pessoas, que caiu em 2012, quando levava cinco delegados de polícia, dois peritos e o réu confesso de uma chacina em Doverlândia, interior goiano.

Inexperiência


Elton e Kayo eram passageiros do avião pilotado por Marcelo de Sá Pinheiro, que caiu no último domingo (Foto: Reprodução Facebook)

A investigação, no mais recente caso de acidente aéreo em Goiás, que envolveu três pessoas, ainda está em curso. Na ocorrência em Trindade, estavam o empresário Marcelo de Sá Pinheiro, 45 anos, piloto e dono da aeronave PT – VNC, PA 32, além dos jovens Kayo Teles da Silva, 20 anos, e Elton Ramos da Silva Cruz, 19 anos.

Para o experiente piloto, com 40 anos de aviação comercial, 15 mil horas de voo, comandante Catalão, amigo de 10 anos do empresário, apesar dele ter tirado brevê há poucos dias, “Pinheiro não tinha experiência de voar em condições adversas de tempo.”

No dia do acidente testemunhas contaram que chovia muito e a falta de visibilidade pode ter contribuído para queda do monomotor. Catalão acredita que más condições do tempo, perda das referências visuais com o terreno e falta de competência em operar o voo por instrumentos motivou a fatalidade. “Faltou aptidão para voar em condições meteorológicas adversas, utilizando apenas instrumentos de bordo contido em seu avião.

O comandante frisa ainda que Pinheiro tinha apenas experiência de voar com orientação de um instrutor e sua habilitação era para voo que oferecesse condições visuais, ou seja, tempo limpo. Familiares do empresário afirmaram que esse seria seu primeiro voo sozinho após conseguir autorização para pilotar avião particular. O comandante Catalão, que também é ex-superintendente do Serviço Aéreo do Governo de Goiás, afirma que já prestou, diversas vezes, serviços de voos para o amigo.

Inevitável


Para comandante Catalão “80% dos acidentes aéreos está atrás do manche, pela falta de experiência” (Foto: Cristóvão Matos)

“Já voei com ele (Marcelo), mas nunca pilotou. Aliás, era para eu ter feito esse voo com ele. Cheguei a conversar com Marcelo por telefone, na última quinta-feira. Ele disse que tinha tirado o brevê e queria fazer uns voos e gostaria que eu o acompanhasse. Só que eu estava em Ceres (interior de Goiás) e falei que só no domingo poderia voar com ele, porém, aconteceu essa fatalidade”, lamenta.

O ex-superintendente do Serviço Aéreo do Governo de Goiás alerta para fatores que colocam um voo em perigo. “Um acidente não acontece por um acaso. Porém, piloto inexperiente (ou falha humana), falta de manutenção e meteorologia ruim contribui para tragédias áreas. Se der uma emergência e não saber o que fazer tem de recorrer ao manual, mas o conhecimento prévio de onde procurar informação é importante”, salienta.

O comandante Catalão ainda exemplifica que “uma coisa é ter 40 horas de voo com instrutor. Outra é ter 40 horas de voo de comando solo [quando o piloto está sozinho na aeronave e recebe somente orientações de fora da nave]”, salienta. Ele ainda acrescenta que para ser um bom piloto, o indivíduo deve ter no mínimo 200 horas de comando solo. “80% dos acidentes aéreos está atrás do manche, pela falta de experiência”, garante.

Saiba mais


Acidente do último domingo na zona rural de Trindade. Local era de difícil acesso (Foto: Divulgação Graer)

Relembre outros casos de acidentes aéreos, alguns ainda sem solução, em Goiás


10/11/2015 Acidente aéreo que matou dois executivos do Bradesco e dois tripulantes está sendo investigado pela Força Aérea Brasileira (FAB).

10/01/2015 Piloto e namorada morrem após queda de avião sobre uma casa vazia em Luziânia, entorno do Distrito Federal. Outros dois passageiros sobreviveram com ferimentos leves.

7/06/2014 O helicóptero com o jogador de futebol Fernando Lúcio da Costa caiu em um banco de areia próximo ao rio Araguaia em Aruanã, interior de Goiás. Quatro pessoas também morreram.

20/09/2013 Queda do bimotor Seneca em Caldas Novas, em setembro de 2013, vindo de Minas Gerais, que matou quatro pessoas.

8/05/2012 Helicóptero da policia civil caiu em Piranhas, interior de Goiás, quando voltava da reconstituição de uma chacina, que aconteceu em Doverlândia. Todos os ocupantes morreram, incluindo policiais, bombeiros e o suspeito de ser autor da chacina.

14/01/2011 Queda do bimotor King Air em janeiro de 2011, em Senador Canedo matando 6 pessoas, entre elas o neto do então governador do Tocantins, Siqueira Campos.

12/03/2009 Avião monomotor caiu no estacionamento do shopping Flamboyant. O piloto havia sequestrado a Aeronave em Luziânia. Ele e a filha morreram após a queda suicida.

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