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Índios ganham museu em Goiânia

Goiânia vai ganhar um espaço destinado à pesquisa, documentação e preservação da cultura indígena. O Museu do Índio de Goiânia está em fase de conclusão das obras na Avenida Leopoldo de Bulhões, setor Pedro Ludovico e é uma extensão do Museu do Índio, instalado no Rio de Janeiro e idealizado pelo antropólogo Darcy Ribeiro.

Segundo o engenheiro Juraci Coelho de Oliveira, o museu abrigará um centro de documentação de línguas e de cultura indígena, com um moderno estúdio de gravação de áudios e vídeos, anfiteatro multiuso com tudo o que há de melhor e mais moderno para exibição de peças e filmes, além de laboratório para edição de imagens e espaço para exposições e instalações relativas à cultura indígena. “O espaço será destinado prioritariamente à preservação a cultura e da língua das etnias indígenas do Brasil”, explica.

O Museu do Índio em Goiânia está sendo construído onde era a Casa de Saúde dos Índios, popularmente conhecida como “Casa do Índio” e que por décadas recebeu silvícolas de diversas etnias, inclusive de outros estados, que vinham para Goiânia em busca de tratamento médico. O terreno onde funcionava a unidade foi doada pelo construtor de Goiânia, governador Pedro Ludovico Teixeira, ainda na década de 1940. A doação do terreno foi para o antigo Serviço de Proteção ao Índio, que funcionou até 1967 quando o regime militar criou a Fundação Nacional do Índio (Funai), que assumiu a tarefa de cuidar dos silvícolas brasileiros.

A Casa do Índio foi desativada em 2007 com todas as funções da Funai em Goiás sendo transferidas para o escritório regional em Palmas, no Tocantins. A construção ficou ociosa e seria devolvida para o Estado de Goiás se não fosse dada nova destinação e a Funai não tinha mais nada, do ponto de vista administrativo, para fazer em Goiás. A saída foi pensada para abrigar uma nova unidade do Museu do Índio, com algumas variantes adaptadas à nova realidade.

Em 2012, o projeto ganhou forma e foi feita a primeira licitação para transformar o terreno em localização nobre em uma construção que abrigasse os ideais de preservação da cultura e das línguas indígenas. Desde então já foram outras três licitações para dar a formatação final, preservando somente a antiga casa onde os índios ficavam, em formato redondo, com uma alta cumeeira imitando uma oca indígena, que visava dar um ar de aldeia indígena para os índios que ficassem ali se sentirem um pouco em casa. A velha construção teve seu formato preservado e ganhou painéis em vidro temperado que emolduram um espaço vago destinado a exposições de obras de arte ou outros artefatos ligados à cultura indígena. Por dentro o espaço foi modernizado e adequado para receber exposições de arte e outras instalações relativas aos índios. Na parte de cima tudo é revestido em vidro temperado para facilitar a luminosidade natural e embelezar o ambiente. Uma oca high-tech estilizada.

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Peixes

Do lado de fora há um espaço coberto por palha de piaçava, também de formato redondo e sugerindo uma tenda indígena que se destina a ser uma cantina, copa ou mesmo servir coquetéis em ocasião especial como uma exposição. O local também obedece à motivação indígena e o design foi pensado com revestimento de azulejos pintados com motivos tribais, reproduzindo o grafismo das diversas etnias como Xavantes, Karajás, Tapirapés, Krahôs e outros.

Bem ao lado desse espaço, pregado no prédio que vai abrigar o anfiteatro multiuso há um pequeno paraíso: um lago artificial com água que circula sem parar, plantas aquáticas com dque para a antológica Vitória Régia, cuja flor só se abre pela manhã e pequenos exemplares de peixes da fauna aquática do Brasil. O espaço é de contemplação e o barulho da água traz sensação de bem-estar e tranquilidade, simulando uma pequena cachoeira com suas águas descendo em singela queda d’água.

Modernidade

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O anfiteatro tem um átrio para ser usado antes dos convivas adentrarem ao espaço e que pode ser utilizado também para pequenas exposições. O revestimento acústico impede problemas com as salas contíguas e foi construído com o que há de mais moderno em materiais e desenho. As salas podem ser separadas com uma divisória especial para servir de sala de aula, exposição de filmes, exibição de vídeos e um palco para apresentações diversas.

O sistema de som é de última geração, com fidelidade e qualidade de reprodução das melhores salas do gênero do Brasil. O sistema de ar condicionado recebeu uma inovação que Goiânia não conhecia: controle de umidade, para minorar os efeitos do tempo árido dos meses sem chuva, quando a umidade relativa do ar beira os 15%, ou até menos, transformando a capital em uma sucursal do deserto do Saara. A obra consumiu até agora aproximadamente R$ 2,5 milhões e resta uma previsão de gastos de R$ 300 mil para concluir. Tudo do orçamento próprio da Funai. Apenas uma emenda parlamentar, apresentada e defendida pelo deputado federal Rubens Otoni (PT-GO) auxiliou a obra.

Juraci Coelho explica que o que resta ser concluído é a instalação dos equipamentos de ar-condicionado e que a verba para essa conclusão já está garantida no orçamento do órgão. “Restam obras orçadas em R$ 300 mil para que possamos fazer a inauguração do museu e esse dinheiro já está garantido”, frisa.

Uma pequena parte de obra física ainda resta ser terminada. O prédio que abrigará a administração da unidade na parte superior e o estúdio de som e edição de som e imagem no térreo ainda estão por serem concluídos. Os móveis e demais equipamentos para fazer funcionar já estão guardados na “oca de vidro”.

A Funai pensou o Museu do Índio de Goiânia para ser o guardião das línguas faladas e da cultura dos índios do Brasil inteiro, e não apenas de Goiás ou do Centro-Oeste. São aproximadamente 200 línguas ou dialetos falados atualmente no Brasil e essa riqueza e diversidade não podem ser perdidas. O museu se destinará justamente a gravar as línguas faladas e não escritas, com expressões próprias e ditas por indivíduos que ainda guardam essas culturas. Vai servir também para treinar índios e não índios, pesquisadores, estudiosos e envolvidos com a preservação dessas culturas.

A expectativa de Juraci Coelho é de inaugurar o museu ainda este semestre.

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