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Parem de matar nossas crianças

O Brasil não precisa entrar em guerras. Ele já está em guerra. A guerra é civil. E a prova disso está nos acontecimentos, que se fossem noticiados lá fora, com certeza, comoveriam da mesma forma que ataques terroristas e violências contra as crianças que estão na Síria.

Os relatos se repetem. No mais recente, na sexta-feira, 13, em Aparecida de Goiânia, uma criança de 8 anos morreu ao ser baleada em frente de casa.

Apesar de socorrida pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), a criança morreu no local.  Mais um anjo levado aos céus que simboliza nossa completa incompetência em proteger as crianças.

O risco maior é sair de casa.  As causas variam entre erro em acertos de contas e brigas de trânsito. Os culpados pelas mortes são geralmente criminosos e policiais. Não existe uma política pública específica para segurança das crianças e adolescentes.

No caso de sexta-feira, a criança estava ao lado do irmão, quando foi “encontrada” por uma bala perdida.  A rua Santa Helena, no Jardim das Esmeraldas, acordou hoje com um silêncio e medo:  “Morar nessa p*** aqui é uma desgraça. É tiro todo dia nessa desgraça e agora matam nossos filhos. Paz, irmãozinho*****”, disse João faria, um dos moradores, que desabafa com a violência urbana.

É absurdo morrer desta forma: a criança – toda inocente –  dançava na festa do aniversário do irmão quando morreu.

Até agora a polícia tenta entender exatamente o que aconteceu: conforme relatos, um homem dentro de um carro passou atirando. Ele acertou a criança na boca.

A suspeita número 1, conforme a Polícia Militar de Goiás, é acerto de contas. Não com a criança, claro. Mas com seu irmão, que tem 22 anos.

Ele que celebrava a festa. O jovem já foi detido por tráfico de drogas, porte ilegal de arma e consta também como vítima de uma tentativa de homicídio.

CONSTANTE

O assassinato de crianças tornou-se uma constante na ruas de Goiás.  O estado é um dos que mais sinalizam para mortes violentas de crianças e adolescentes no país. Em proporção, o estado supera, por exemplo, o Rio de Janeiro, conforme levantamentos a partir dos dados do Data SUS/Ministério da Saúde.

As crianças estão desprotegidas e sofrem as ações imperfeitas de quem manipula as armas de fogo. É tiro para tudo quanto é lado contra crianças.

O garoto Guilherme Furtado de Oliveira, de 7 anos, por exemplo, foi baleado na cabeça durante uma briga de trânsito e morreu no ano passado. Na ocasião, o pai do garoto teria jogado o carro contra um motociclista. Sem perícia suficiente, um policial militar se envolveu no episódio e deu um tiro fatal.

Para não deixar dúvidas de que as crianças estão na mira de ações violentas dentro das cidades, na última semana um policial civil do Distrito Federal atirou em uma criança, em Águas Lindas.  Com seis anos, a criança estava no carro com o pai, na BR-070, em Cocalzinho de Goiás.

O policial que atirou disse ter sido vítima de um assalto. O delegado Danilo Victor Nunes de Souza relatou ao DM que a tese de defesa é "absurda".  O motivo teria sido, sim, uma briga de trânsito – um dos principais motivadores de mortes de crianças em vias públicas.

A atitude do policial pode ser mais do que irresponsabilidade e imperícia, o que reduziria a sua pena. Conforme o DM apurou junto ao Ministério Público que atende o município, é quase certo que o assassino deverá responder por tentativa de homicídio doloso – contra a criança e seus pais.  

No caso do Entorno do Distrito Federal, o menino foi atingido nas costas: a bala atravessou a lataria do carro, banco, cadeirinha e a feriu nas costas.

No final de 2015, um caso semelhante ao que ocorreu no Jardim das Esmeraldas na última sexta-feira chocou Formosa: uma criança de 8 anos foi baleada e morta de frente para a creche no Parque da Colina. A polícia chegou à conclusão que um acerto de contas teria motivado a morte da criança, que estava na rua.  

O caso de sexta-feira começará a ser investigado apenas amanhã, através da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA). Até lá, o que resta é velar e enterrar nossas crianças.

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