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A serpente da morte

Uma grávida seguia na manhã de sábado, 27, para sua maternidade. Estava há poucos minutos de ter seu filho. Em um Uber, ela se deslocava com a irmã rumo ao destino, além de duas outras amigas. Até então era o carro mais feliz do mundo, já que todas desejavam e muito ver a amiga com o bebê.  

Mais atrás, o marido, Roger Henrique, seguia de moto.  De repente, o rapaz percebeu que o carro que levava a esposa realizou uma ultrapassagem indevida. E milésimos de segundos depois o carro se descontrolava. Ao perder o controle, o pneu do carro explodiu.

Por pouco o veículo não caiu no córrego. Em vez disso, diz a Secretaria Municipal de Trânsito (SMT), o Uber bateu em um táxi, foi até um poste, derrubou o obstáculo e subiu no canteiro.

Tudo isso aconteceu na serpente de concreto que corta Goiânia, a Marginal Botafogo, uma das vias mais movimentadas de Goiânia e que acumula acidentes e histórias trágicas. Dessa vez, a grávida, Larissa Borges de Souza, sobreviveu. Mas foi levada com ferimentos para o Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo). O saldo do dia é de cinco pessoas feridas. E um bebê que nasceu no Hospital Materno Infantil.

O motorista do Uber, cujo nome o Diário da Manhã não conseguiu junto à Polícia e SMT, saiu sem nenhum arranhão.

O problema, todavia, permanece: a Marginal Botafogo é perigosa e tem pontos, comportamentos e zonas de previsibilidade quanto a acidentes. Mas pouco é feito para reduzir o índice de mortalidade na via – considerado um dos maiores de Goiânia.

Apesar da previsibilidade, os acidentes são criativos em outros momentos. Em 2016, por exemplo, um motociclista se chocou com outro e caiu da rua 10, indo parar no córrego da Marginal Botafogo. No final do ano, um carro caiu com quatro pessoas dentro do córrego. E assim ela acumula.

Outro trecho comum para acidentes ocorre no sentido centro/bairros, principalmente nas curvas. Os motoristas costumam correr acima do 100 km/h. No ano passado, na altura do setor Sul, um jovem morreu no local após se chocar com um poste.  No caso da morte de  Ivan da Silva, ele teria supostamente perdido o controle do carro na curva acentuada – 500 metros da avenida E.  

Os acidentes de moto são menos constantes do que os choques dos próprios motoristas. Mas dez dias depois da morte de Ivan um motociclista perdeu o controle de sua moto e subiu na área verde do parque Mutirama, morrendo no local.

De acordo com o Batalhão de Trânsito da Polícia Militar (PM),  a barreira lateral, entre as pontes da Rua 21 e da Avenida Universitária, no sentido Rodoviária, é também um local que acumula acidentes.

Não bastasse a imprudência, a marginal tem trajetos que necessitam de constantes atualizações na pavimentação. O sentido da marginal em direção do setor Sul, por exemplo, tem um trecho que exige recapeamento praticamente todas as semanas. As crateras que surgem na via levam constantemente motociclistas ao chão e provocam acidentes com os motoristas que passam desavisados.

O professor e engenheiro de trânsito João Carvalho de Sousa acredita que a marginal precisa ser interditada durante médio prazo para reconstrução e atualização da infraestrutura como um todo. “Do jeito que está, ela vai se deteriorar cada vez mais. Existem pelo menos 200 pontos que necessitam de intervenção de obras de engenharia e de reelaboração de um novo design para o trajeto”, diz.    

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