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COTIDIANO

Monitorados no crime

Os agentes prisionais de Goiás revelam grande preocupação com o sistema de monitoramento de presos e denunciam que estão impotentes para conter o grande número de violações que os presos cometem para continuar a praticar crimes. “Presos que deveriam estar quietos em suas casas saem à noite para roubar e o que podemos fazer para coibir isso é muito pouco, ou quase nada”, protesta um servidor efetivo do sistema prisional.

Somente na Grande Goiânia são cerca de 1.200 presos liberados do cárcere mediante monitoramento de tornozeleira eletrônica e ocorrem cerca de 100 registros de desrespeito ao perímetro de segurança por dia, principalmente de quinta-feira a domingo, ou feriados. Essa infração, chamada de “quebra da zona de inclusão”, coincide justamente com a alta de incidência de roubos de carros e assaltos nas noites e madrugadas. “Os presos já sabem com perfeição como inibir o funcionamento da tornozeleira e ficarem livres para continuar no crime”, comenta esse mesmo agente prisional.

O comentário revela a fragilidade do sistema de monitoramento por tornozeleiras e a impotência do sistema prisional para fiscalizar e inibir a continuidade da infração e dos crimes. Por cada tornozeleira, o Estado paga atualmente R$ 300,74 para a empresa SpaceCom, o que dá em média R$ 260 mil por mês e aproximadamente R$ 3,125 milhões por ano, de acordo com o último Termo Aditivo assinado entre a empresa e o Estado de Goiás. As tornozeleiras funcionam até determinando ponto, avaliam os especialistas, mas é muito fácil burlar seu funcionamento e partir para a prática de crimes novamente. Aliado a isso vem a condição limitada dos agentes de identificarem o real motivo da luz identificadora de cada tornozeleira eletrônica ter sumido na tela da central de monitoramento, seja por pane ou porque o preso simplesmente está no mundo livre, leve e solto. Mesmo assim a SpaceCom se julgou no direito, há alguns meses, de desligar tudo durante uma semana inteira porque estava com seus pagamentos em atraso. A empresa e os dirigentes do Sistema Prisional negam, mas todos os agentes ouvidos confirmam a greve da empresa.

Dano

“É muito fácil para eles anularem o sistema e a bandidagem descobriu isso há muito tempo, agora só aperfeiçoam o serviço a cada dia”, comenta outro experiente agente prisional. As práticas mais recorrentes são pingar água com sal em alguns pontos mais vulneráveis da tornozeleira. Isso provoca um curto-circuito que danifica o equipamento e na tela do sistema de monitoramento aparece que o objeto não funciona. Se alguma equipe aparecer no cafofo onde o preso deveria estar restrito, poderá encontrar o distinto detento domiciliar santamente recluso, apenas com a tornozeleira danificada. Eles já aprenderam também como burlar essa fiscalização.

Os presos sabem quem está sendo monitorado e qual o perímetro deles em relação à central de monitoramento. Geralmente as equipes vão primeiramente aos mais próximos, mas como o efetivo é baixo e os recursos escassos, a busca termina nos primeiros e só é retomada no próximo dia por outra equipe de plantão. Como são em média de 80 a 100 a partir de quinta-feira que surgem como tendo violado a “zona de inclusão” os agentes não conseguem fiscalizar nem a metade, então um contingente de mais de 50 está livre nas ruas para cometer os malfeitos de roubos e assaltos, contribuindo para as altas estatísticas de crimes na Capital. A equipe conta com nove Agentes Prisionais de carreira em escala de 24x72 horas. Somente dois agentes ficam no plantão à noite e seis durante o dia. Impossível acudir todo mundo que foge do perímetro riscado e permitido.

Há outras formas de danificar o equipamento, que nem de longe é à prova de fraudes. Os malacos aprenderam a jogar pó de alumínio no carregador ou provocar um ligeiro curto-circuito nessa fonte de energia que deve ser ligada na tomada. Tudo para ficar sem aparecer na tela que identifica seu endereço correto.

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