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Goiás tem mais de um carro para cada duas pessoas

Goiânia possui mais de 1,1 milhão de veículos registrados no Departamento Estadual de Trânsito de Goiás (Detran). O número constante nas estatísticas do próprio órgão inclui motocicletas, caminhões, ônibus e veículos agrícolas, mas é composto, em sua imensa maioria, pelos chamados automóveis de passeio. Em todo o Estado, esse número chega a 3,7 milhões de veículos. Comparando os dados do Detran com as estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para a população de Goiás, em 2016, significa dizer que existe mais de um veículo para cada duas pessoas em Goiás, com cerca de 6,5 milhões de habitantes.


A frota em Goiânia evoluiu quase 100 mil veículos nos últimos quatro anos, saindo dos dos  1.087.756 veículos em 2013, para os 1.172.723 em 2017. No Estado, essa evolução superou os 500 mil veículos.  Em 2013, o Detran registrou 3.205.993 veículos em todo o Estado. Já em 2017, o levantamento aponta 3.762.062 veículos registrados. A frota na capital goiana é proporcionalmente semelhante à registrada na cidade de São Paulo, o maior município brasileiro, que hoje tem cerca de 6 milhões de carros (e mais de 8 milhões de automotores – incluindo motocicletas, caminhões e ônibus).

Em São Paulo, a quantidade de carros aumenta mais do que o próprio número de habitantes, numa taxa anual de dois novos veículos a cada novo morador. Dados do Detran paulista, órgão responsável por lacrar os veículos que circulam no Estado, mostram que, entre janeiro e dezembro de 2016, a cidade de São Paulo ganhou 114,8 mil carros. Na média, foram acrescidos à frota, por mês, 9,5 mil automóveis. Caso esse patamar permaneça estável, em setembro deste ano o município atingirá o seu simbólico carro de número 6 milhões.

Assim como São Paulo e outras capitais brasileiras, Goiânia enfrenta o estímulo ao uso do carro ou moto. O entendimento é do membro da Associação Nacional de Transportes Coletivos, especialista em trânsito, Antenor Pinheiro. “Até cidades médias, como Anápolis, por exemplo, insistem em construir túneis, viadutos, etc”, exemplifica ele. Para o especialista, o crescimento da frota veicular no Brasil relaciona-se ainda com aspectos culturais, de certa forma reproduzindo as políticas públicas de Juscelino Kubitschek que identificou na indústria automobilística o fator indutor do desenvolvimento econômico brasileiro a partir da década de 1950.



Instaladas no eixo Rio-São Paulo, as indústrias automobilísticas desencadearam processos massivos de propaganda  e inculcação ideológica, construindo assim no imaginário da população o referencial do automóvel como bem patrimonial de elevado prestigio social. “Ser bem sucedido na vida necessariamente passava (e ainda hoje é este o sentimento) por ter um automóvel. Deslocar-se de automóvel passou a ser o sonho dos brasileiros, percepção muito presente ainda nos dias de hoje”, considera Pinheiro.

Paralelamente, as gestões das cidades brasileiras deixaram de investir prioritariamente nas infraestruturas de transportes públicos coletivos, direcionando seus orçamentos em investimentos voltados para atender a crescente demanda do transporte individual (carros e motocicletas). “No lugar de corredores exclusivos e preferenciais para os sistemas de ônibus, as cidades se moldaram em infraestruturas de engenharia para carros e motos”, explica o especialista, justificando que a situação não pode ser revertida caso não haja efetivo investimento no transporte coletivo. “Isso vai merecer das próximas gerações atenção especial sobre como desmontar estas estruturas em benefício aos sistemas públicos coletivos, bicicletas, calçadas”, emenda.

                           Características da frota

Norton Luiz Editor de Veículos

Com relação à idade da frota, Goiânia possui grande parte dos veículos com menos de 10 anos de uso. Segundo dados do Detran, a maioria dos carros que circula na capital foi fabricada em 2011. Do total de veículos, mais de 77 mil foram fabricados nesse ano. Em seguida, estão os veículos fabricados em 2013 e 2012, respectivamente, com mais de 71 mil e 70 mil veículos. O número de carros “do ano”, por sua vez, é o menor da tabela, com pouco mais de 7 mil unidades. Os automotores com mais de 10 anos, fabricados a aprtir de 2003, somam quase 176 mil veículos.



A nível de Estado, a frota mais considerável corresponde aos anos de 2011 e 2008, com 240 mil e 234 mil veículos, respectivamente. A frota mais nova, de 2017, não chega aos 20 mil veículos. Os carros com mais de uma década de uso, fabricados a partir de 2003, somam mais de 632 mil unidades. Os mesmos dados revelam que, em todo o Estado, o número de registros de veículos furtados ou roubados, subiu de 75 mil em todo o ano de 2013, para 100 mil nos primeiros meses de 2017. Em Goiânia, o número de furtos e roubos foi de 42 mil para 51 mil, no mesmo período.

                                                 Anápolis e Aparecida

Além da capital, outras cidades goianas possuem frota superior aos 100 mil veículos. No topo da lista estão Aparecida de Goiânia, Anápolis e Rio Verde, com 268 mil, 255 mil e 129 mil, respectivamente. Na lista das cidades com maior número de veículos automotores, aparecem ainda Itumbiara, com 78 mil; Catalão, com 74 mil; Jataí, com 70 mil; Formosa, com 69 mil; Luziânia, com 60 mil; e Caldas Novas, com 58 mil veículos automotores. Senador Canedo, na Região Metropolitana, aparece com pouco mais de 47 mil veículos.

No outro extremo das estatísticas, as pequenas cidade de Mimoso, Sítio d’Abadia e Amaralina aparecem nas estatíticas do Detran Goiás com menos de mil veículos registrados. Nesses municípios, são 334, 475 e 626 uniddes, respectivamente. O mapa de registros aponta que a grande maioria dos municípios goianos não pertence à faixa das cidades com até 9 mil veículos registrados. Uma única cidade, Goiânia, comporta 10% de todos os veículos registrados no Estado.

                                              Tendência nacional

Um dos efeitos e também uma das causas da crise na mobilidade, o número de automóveis nas metrópoles do país não para de crescer. Só de 2001 a 2012, a frota brasileira mais que dobrou, passando de 24 milhões para 50 milhões de veículos. Dados do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) revelam um novo grande salto nos últimoos cinco anos. O Brasil já tinha, em abril de 2017, mais de 94 milhões de unidades, incluindo todos os tipos de veículos automotores, como tratores e motos. Em 2015, quase 50 milhões dessas unidades eram carros, segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O Relatório da Frota Circulante elaborado pelo Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças) e Associação Brasileira da Indústria de Autopeças (Abipeças) com dados de 2015 apontou aumento de 2,5% na frota de autoveículos brasileira, em comparação com 2014. O crescimento foi menor que o de anos anteriores como reflexo da menor entrada de veículos novos no mercado. Como comparação, de 2011 para 2012 a alta registrada foi de 7,4%. O mesmo levantamento mostra que a frota circulante brasileira está predominantemente concentrada em cinco Estados: São Paulo, com 36,8% do total; Minas Gerais, 10,4%; Rio de Janeiro, 9%; Rio Grande do Sul, 8,5%; e Paraná, com 8,1%.



Por outro lado, em países como EUA, Canadá, Austrália, Japão e Nova Zelândia, os governos mudaram a matriz de mobilidade, dificultando a vida do automóvel e facilitando os sistemas coletivos, cicloviários e a pé. Grandes cidades latino-americanas passaram a reproduzir novos modelos de deslocamentos urbanos: Bogotá, Medelin, Cáli, Santiago do Chile, Guadalajara, Mar Del Plata, por exemplo. “No Brasil, estamos atrasados 20 anos, pois nossos gestores insistem em priorizar os sistemas individuais de transporte, quando o mundo todo faz o caminho inverso”, considera Antenor Pinheiro.

Para o especialista, no entanto, não se deve ser contra a indústria de automóveis. Até porque isso hoje é considerado impossível,  já que este setor responde atualmente por 22% do PIB Nacional. “O problema, portanto, não está no fato das pessoas terem carros e motos. O que está em discussão é o uso destes modais nos espaços urbanos, a regulamentação sobre o uso e ocupação do solo que permita inverter a tendência tradicional de favorecer os deslocamentos por carro e moto. “É preciso recuperar e qualificar os espaços de mobilidade com prioridade ao coletivo, à bicicleta e ao pedestre”, finaliza.

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