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Editora é criticada por livros com exercícios mais fáceis para meninas

A Editora Porto, de Portugal, suspendeu a venda dos livros infantis "Bloco de Atividades", após o material ser apontado por conteúdo sexista. As obras continham uma série de exercícios que estimulam o raciocínio lógico em crianças de 4 à 6 anos. Entretanto, a imagem que circulou na Internet mostra que o grau de dificuldade de uma dessas atividades era bem menor no livro destinado à meninas, além de conter outros itens que reforçam estereótipos de gênero na educação.

O caso repercutiu nas mídias sociais, causando polêmica e discussão sobre o tema. Professora de inglês e mestra em Literatura e Práticas Sociais, com ênfase em estudos feministas, pela Unversidade de Brasília (UnB), Dayse Muniz explica de que maneira um conteúdo como o dos livros da Editora Porto podem influenciar no desenvolvimento das crianças. "Crianças prestam atenção em tudo e, quando uma pessoa sugere que a capacidade intelectual de meninos e meninas é diferente, essa concepção naturalmente vai ser internalizada e perpetuada", afirma.

Com 8 anos de sala de aula, Dayse narra que o reforço desses estereótipos podem ser observados até no ambiente de ensino. "Em algumas situações percebemos que meninos ficam ofendidos ou surpresos quando meninas demonstram mais habilidades do que eles em alguma atividade ou duvidam que elas consigam pensar rápido ou solucionar problemas de maneira criativa", comenta. A mestra adverte ainda que conteúdo como o que foi publicado pela Editora Porto não é diferente dos livros pedagógicos distribuídos no Brasil."Nos livros didáticos percebemos essas coisas de maneira mais sutil, se a criança está aprendendo sobre profissões, geralmente os homens são médicos, as mulheres são donas de casa", exemplifica.

Em nota publicada na última terça (22/08), a Editora Porto se defendeu das acusações alegando que o conteúdo dos livros foram desenvolvidos com "cuidado editorial e pedagógico" e argumenta que os exercícios trabalham as mesmas competências e com exercícios semelhantes."A diferença está na ilustração e na abordagem artística que as diferentes ilustradoras fizeram. E se há um exemplo em que o exercício no caso das meninas é aparentemente mais fácil, há vários outros em que os exercícios são aparentemente mais difíceis", afirma a Editora e ressalta que se identifica com os valores da igualdade e da diversidade.

A Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género (CIG) do país lusitano avaliou o conteúdo dos livros e recomendou que a editora retirasse as referidas publicações dos pontos de vendas. Em nota á imprensa, a CIG aponta as diferenças dos livros que acentua os estereótipos de gênero. "numa atividade dirigida aos rapazes, a promoção do contacto com o exterior (campo, árvore, ancinho, águia, etc.), enquanto que para as raparigas a atividade apresenta cinco objetos, todos eles ligados a atividades domésticas (leite, manteiga, iogurte, alface e maçã)", afirma a nota.

Além se recomendar a retirada dos livros, a CIG se disponibilizou para revisar o conteúdo para retirar as mensagens que apontam diferenciação no tratamento destinado à meninas e meninos. Após a nota da CIG, a Editora Porto se manifestou acatando a proposta e pretende trabalhar em conjunto com a comissão a fim de rever os exercícios, mas reiterou que a proposta dos livros não foi sexista. "as edições em causa não foram trabalhadas sob qualquer perspectiva discriminatória ou preconceituosa, a qual é absolutamente contrária aos valores que norteiam a sua atividade editorial desde sempre", alega.

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