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Lente Aberta: desvendando a arte nua

Dos novos artistas fotográficos que atuam nessa cidade encravada no centro do Brasil, certamente um dos que mais se destacam, nas redes sociais e nos murmurinhos das ruas, é Venâncio Cruz. O jovem rapaz, com 21 anos de estrada, já fotografa há pelo menos três. O interesse pela oitava arte despertou na vida do camarada após o mesmo cursar durante dois anos Publicidade e Propaganda, uma parte da obra de Venâncio ilustra a Lente Aberta dessa semana.

O rapaz abandonou a faculdade, porém encontrou na fotografia um meio de expressão bastante palpável e segue firme e atuante até então, sendo para o mesmo algo que vai bem além de um produto comercial. Venâncio vem, nesses três últimos anos, explorando a nudez do corpo humano. Em pequenos detalhes ou na amplitude da forma, as texturas da pele, curvas, cabelos, pelos e suor. Para o jovem, o trabalho dele vem de um estudo, onde se obstinou a enxergar a expressão que um corpo consegue mostrar, sendo esse em estado de “corpo puro”.



A obra de Venâncio poderia facilmente ser confundida com uma tela, o nudismo renascentista aplicado aos modelos atuais, o universo contemporâneo e até mesmo imaginário. Temos a beleza do nudismo, que constrói e desconstrói a sensualidade presente no corpo humano. Um dos diferenciais da obra é o fato de trazer o homem como protagonista, mostrando a ideia do fotógrafo em fugir de padrões de todo tipo, inclusive do nudismo que retrata somente o feminino.

Além de fotógrafo, o jovem também está se formando em Artes Cênicas no Basileu França. “O teatro é minha grande paixão, e como não poderia ser diferente, minha atuação no teatro, as pesquisas e estudos que faço cotidianamente nessa área formam e ditam para mim um novo estilo e um novo meio de fazer fotografia.”



Talvez o rapaz não seja um fotógrafo, e, sim, um “artista performático “se expressando na fotografia”, nas palavras do mesmo. Fato é que diferentes sensações e impulsos podem ser refletidos na obra desse rapaz, que já fez exposições e que domina as redes sociais, com um trabalho ousado e construído em cada mínimo detalhe.

Confira a série arte nua. com texto de Venâncio Cruz:

O projeto “arte nua.”

"Um dia, em 2014, percebi que estava com algumas dezenas de ensaios, expressões e ideias sobre o nu, sobre o corpo, sobre a liberdade. Nesse dia, que acredito ter sido em uma tarde gostosa, sentado em um banco da Avenida Goiás, percebi que algo estava pronto, ou quase pronto.

Penso que nos últimos três anos houve uma fome de liberdade em mim, liberdade em um contexto bem mais amplo. As minhas reflexões e discussões sobre o que é “estar livre”, “procurar ser livre”, “lutar para ser livre” etc, não se encaixavam em nenhum grupo de pessoas “livres”. Era bem complexo, ainda é. Nesse período de três anos, descobri a fotografia, como brincadeira, como expressão, como espelho, e, junto com essa descoberta, me permiti na mesma época entrar sem medo no que mais amo, o teatro, o que me fez um pesquisador humano.



Foi um momento de descoberta artística, fui aprendendo a ser fotógrafo, a usar a câmera como ferramenta de expressão, e não de trabalho. Nesse aprendizado, me deparei com o nu humano e ali concluí que não existia algo mais bonito para ser fotografado. O ser humano nu é a poesia mais bonita para uma fotografia.

Pesquisei esse corpo sem roupas, e fui fotografando ele, usei meu próprio corpo como laboratório dessa pesquisa. Queria saber o que poderia significar um corpo nu, além de uma regra infringida.

Descobri que esse corpo, pelado, sem roupas, ousado, safado, pornográfico, sensual, sexual, entre outras qualidades, servia para mim e talvez para o mundo (meu mundo) como um objeto de liberdade, essa liberdade ampla que reflito a cada minuto das minhas 24 horas. O corpo nu veio para mim como o exemplo máximo dessa liberdade. Nascemos nus, e somos cobertos, não temos chances de aproveitar essa liberdade de sermos nus, daí começamos a ser presos e prender!



E foi desse pensamento, desse desejo de ser livre no próprio corpo, que veio o “arte nua.”, era minha arte nua, minha primeira expressão artística. Esse projeto é o caminho que percorri para (des)cobrir o corpo, descobrir esses corpos que, mesmo nus, estão presos. Por que tão presos? Por que não mostrar seu sexo? Não mostrar sua silhueta? Por que não mostrar você? Por que o nu para mim era mais que um corpo nu? Por que o corpo nu, para mim, era uma arma de liberdade? Me perguntei, perguntei para eles, e fui fotografando.

Voltando àquela tarde gostosa sentado em um banco da Avenida Goiás, foi ali que senti que precisava mostrar esse meu começo, essa minha discussão, esse meu questionamento. Queria pessoas conversando com aquilo, com aquele tanto de fotografias, aquele tanto de perguntas. Tinha que ter gente pra falar daquilo. Decidi juntar tudo que tinha pesquisado, tudo e todos que tinha fotografado, e olhar novamente, agora com um olhar de três anos mais velho, três anos pesquisando, três anos olhando e observando corpos nus.



Desse olhar vi que minha expressão artística era nua, nua de conceitos prontos. Me questiono até no que tenho certeza, minha arte questiona a própria liberdade que ela quer ser, deseja ser, ama ser. Percebi que a liberdade da minha arte era justamente ser livre para ser presa se quisesse, liberdade de questionar, de sentir e entender a si mesmo sem influências. Liberdade é o desejo natural que temos, liberdade é respeitar esse desejo.

Mostrei o projeto, e foi em uma tarde gostosa, em um lugar na Avenida Goiás, que conversaram com meu projeto, viveram ele. E hoje, depois disso, posso dizer que o “arte nua.” é apenas uma busca minha pelo entendimento da liberdade.

“Pensemos em liberdade como algo bem mais amplo que ser livre de alguma coisa.”

Confira a galeria com mais imagens da série:

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