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O legado das distorções de Sonic Youth

por Leon Carelli Com o envelhecimento da década de 1980, artistas da época, que impressionavam pelo semblante sórdido e ressaca da colorida e revolucionária década anterior, passam a assumir o posto de lendas vivas de uma geração até então pouco compreen

por Leon Carelli


Com o envelhecimento da década de 1980, artistas da época, que impressionavam pelo semblante sórdido e ressaca da colorida e revolucionária década anterior, passam a assumir o posto de lendas vivas de uma geração até então pouco compreendida. Com a continuidade do rock, que nos anos 90 foi ficando cada vez mais segmentado e nos anos 2000 foi possuído  pela mudança de costumes que trouxe a internet e influência eletrônica, a simplória década em questão pôde ser digerida, velada e enterrada, para enfim cair nas garras do saudosismo.

Guitarras distorcidas ao extremo, que criam cenas obscuras e entorpecem a mente, substituem os frenéticos e limpos solos característicos do rock 70. Os vocais contam situações sinestésicas, abatidos pela correria urbana congestionada no paredão de prédios da paisagem – por todos os lados – da cidade de Nova Iorque. Kim Gordom estava lá, ao lado de seus parceiros da banda Sonic Youth. Sua presença e autoria na evolução desse tipo de fazer música fez com que ela fosse imortalizada pelas gerações seguintes como uma espécie de ícone feminino do rock alternativo.

Esse status foi conquistado de forma diferente do que se costuma esperar de um rockstar. Gordon, enérgica e expressiva, assim como todas as outras figuras imortais, não perdia tempo com firulas vocais e poses de mal. Havia algo de estranho na forma de se apresentar do Sonic Youth. Uma apatia que busca aclamação introspectiva. Kim explica a sensação de tocar ao vivo dizendo: “Me sinto mais livre no palco. O público é uma abstração. Você realmente não vê ninguém fora do palco, mas sente o público dentro de você.”

No wave

A cena musical independente dos Estados Unidos na década de 1980 começou a ganhar força com o movimento No wave. Trata-se de um impulso de produções em Nova Iorque, que tinha fortes bases na cultura Do it Yourself (faça você mesmo) e criticava amplamente o movimento new wave (nova onda), que reunia artistas que possuiam contratos com grandes gravadoras, que alimentavam-se de suas capacidades midiáticas de promover artistas, lucros milionários, turnês internacionais e videoclipes superproduzidos.

De todo esse pessoal que buscava possibilidade de produzir e distribuir arte de forma crítica e independente estava Sonic Youth. O grupo explora a textura de guitarras ao extremo, sem se preocupar com a estrutura tradicional riff-de-guitarra-verso-refrão-solo-verso-refrão impregnada até mesmo dentro do meio “underground” de Nova Iorque (coisa que também acontece muito em Goiânia).

Maturidade

O álbum duplo Daydream Nation, de 1988, considerado por grande parte dos fãs como a obra prima da banda, chama a atenção para a nação do devaneio que se estabelece com a juventude da época, desrealizada pelo ritmo de vida urbano-explorativo. Lee Ranaldo e Steve Shelley completavam a formação da banda em seu momento mais áureo. As afinações esquisitas de guitarra e pausas para frisson mental de texturas, antes vistos apenas ao vivo, chamam a atenção para a originalidade da obra.

A banda foi formada em 1981 por Kim, baixista, e Thurston Moore, guitarrista. Eles dividiam os vocais e as composições. Também dividiram a vida por quase 30 anos. Casaram-se em 1984, e separaram-se em 2011, situação que promoveu um hiato da banda que dura até hoje. Moore explica-se: “A banda é uma democracia de tipos. Enquanto eu e Kim estamos resolvendo nossa situação, a banda não pode funcionar regularmente.”