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Itinerário Edéia

O DMRevista traz, hoje, ao leitor, um ensaio fotográfico realizado no início de 2015 na cidade de Edéia. Esse ensaio procura fazer um resgate das antigas construções da cidade, que revelam o início de sua consolidação e contrastam com as construções mais recentes. Edéia possui casas de arquitetura contrastante em ótimo estado de conservação. As fotografias revelam um pouco de como era o modo de vida das pessoas, em um passado não tão distante, e revivem memórias naqueles que presenciaram o processo de desenvolvimento da cidade.

No ano de 1913, três moradores das proximidades do Rio Turvo, proprietários da primeira casa comercial da região, deram início a uma povoação que mais tarde se consolidaria como o município de Edéia, 120 quilômetros de Goiânia. A cidade vive, hoje, principalmente, de agricultura, com o plantio de soja e cana-de-açúcar. A cultura de fazendas e grandes famílias possibilitou ainda o contato de várias gerações com o cerrado goiano com suas árvores, frutos, córregos e animais. Hoje muitas dessas pessoas habitam a cidade e relembram, com saudade, as belezas naturais da infância.

Muito se especula da origem do nome da cidade. No site da câmara municipal, existe uma possível história. “Uma das prováveis origens do nome é que alguém deveria sugerir uma ideia, e Edéia acabou como nome do município. Esta é uma das versões”. Outro rio importante para a região da cidade é o Rio dos Bois. Referência na prática de motocross, Edéia participa do circuito goiano da modalidade e possui uma das melhores postas do Estado.

Histórias

Nascida no município em 1957, Leila Rosa Pires, que hoje mora em Goiânia, conta algumas histórias que viveu na época que morava em Edéia. “Eu me lembro de Edéia como um lugar muito tranquilo. A única vez que fiquei com medo foi quando um elefante fugiu do circo que havia ficado por uns dias na cidade. Ele ficou louco e saiu arrebentando paredes e comendo os sacos de arroz que ele achava. Ele ficou solto durante um dia e uma noite. Um homem morreu pisoteado. Foi o terror da cidade”.

Outro acontecimento lembrado por Leila são as comemorações juninas. O padroeiro da cidade, Santo Antônio, dá nome à primeira capela e também foi homenageado na primeira fase do município, que se chamava Santo Antônio do Alegrete, e era anexado à cidade de Palmeiras. “As festas de Santo Antônio e São João aconteciam na praça em frente à antiga Igreja Católica da cidade. Tinha umas fogueiras gigantes, com mais de dois metros que ficavam queimando a noite inteira. Quadrilha, crisma em volta da fogueira, muita comida de milho, queijo, requeijão, quentão. A cidade inteira se reunia na praça pra soltar foguete na praça”.

Outro nome dado ao local foi Alegrete, que foi alterado mais tarde devido à incidência desse nome em outros lugares do País. Edéia foi elevada à categoria de município no ano de 1948. Outra mudança importante para a cidade foi o crescimento do distrito de Edealina, que ficava em seus limites municipais, a caminho da cidade de Pontalina, polo industrial de moda íntima do Estado. Edealina foi emancipada no ano de 1988, sendo desmembrada de Edéia e elevada à categoria de município.

Cerrado

Leila relembra os primeiros momentos de sua vida, que eram divididos entre o tempo que passava na cidade, devido à sua formação escolar, e aos fins de semana que passava na zona rural, em contato com muita natureza. “Na roça tinha um monte de fruta do Cerrado. Gabiroba, pequi, articum, murici, cajuzinho da serra, marmelo (mais conhecida por bosta de cachorro), bacupari (que as pessoas conhecem como baru), mama-cadela (que servia até pra curar acne). Depois que me mudei de lá, nunca mais comi essas frutas. Parece que todo esse cerrado onde eu vivi na infância virou soja e cana”.

A possibilidade de aproveitar os rios também é outra recordação de Leila, que hoje vê com tristeza a degradação daquilo que foi motivo de muita alegria na infância. “Outro lugar muito bonito era o córrego Imbé, perto da cidade, onde tomávamos banho e pescávamos cascudos. A água era muito limpa, tinha mina de água lá perto. Dava pra beber água nessa mina com a mão. Pacu, lambari, bagre... Tinha todos esses peixes. Hoje em dia, não tem mais mata ciliar perto dele e a água é suja”.

Regina Gomes, que mora na zona rural do município, fala da necessidade de preservar a cultura do cerrado e as belezas que vem se perdendo. “Muitas frutas que eu comia quando era pequena não existem mais. Algumas eu tenho plantadas no meu quintal, mas não é muito fácil de manter. Antigamente era muito fácil encontrar essas coisas na mata, tinha em abundância”. Regina também relembra o córrego do Imbé, e também o córrego Fala Verdade, que corta várias partes da zona rural do município.

A diversidade de bichos que pertencem à fauna do Cerrado edeiense também é lembrada por Leila. “Paca, ema, macaquinhos. De pássaros tinha um monte, alguns que nunca soube o nome. Lembro de ver arara, periquito e tucanos, que ficavam comendo os mamões no quintal. Tinha até gavião. Minha mãe escondia os pintinhos pros gaviões não comerem. Também existia as lendas de onça. Nunca cheguei a ver nenhuma, mas às vezes dava pra ouvir o barulho. Tatu, quati, sucuri e lobo-guará, eu já tive a oportunidade de ver de perto, na natureza, sem jaula”.

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