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CULTURA

“Divulgar a música paraense é minha missão”

Nascida e criada no bairro de Jurunas, que fica na periferia de Belém do Pará, Gaby Amarantos é uma artista de olho nas capacidades musicais de artistas populares, e em várias entrevistas declara sua missão no mundo de popularizar a música paraense, em todos os seus estilos, principalmente o tecnobrega. Iniciou sua carreira cantando em corais católicos. Passou oito anos à frente da banda TecnoShow, e em 2012 estourou nacionalmente com seu primeiro disco solo, Treme, que contém a canção ‘Ex mai love’, que foi abertura da telenovela Cheias de Charme, da Rede Globo. Hoje, 1º de agosto, ela completa 37 anos.

Filha de sambistas, Gaby se declara uma pessoa eclética, que chega a assustar as pessoas que não estão acostumadas a artistas que não se acorrentam ao próprio estilo, como contou em entrevista à revista TPM. “Outro dia, tuitei que estava ouvindo The Who e 90 pessoas comentaram indignadas, dizendo que não é possível uma cantora de tecnobrega gostar de rock”. Após ser afastada da igreja por “ser alegre demais”, tinha na cabeça canções de Elis Regina, Marisa Monte e Maria Bethânia, mas que com o tempo foi no brega, estilo que incendeia as casas de show de Belém, que encontrou conforto.

Raízes

Gaby Amarantos sempre se deixa levar pelo carinho e pela emoção quando o Pará é tema de alguma pergunta. Não há espaço para rivalidade, Gaby defende os mais variados estilos que surgiram em sua terra, e diz que veio para somar. “Eu megarrespeito artistas como a Fafá de Belém, que é maravilhosa. Acho a banda Calypso incrível”. Sobre o tecnobrega produzido pela Banda Calypso, a cantora diz que admira a forma com que a banda rompeu as barreiras do preconceito, mas ressalta ainda que existem particularidades dentro do universo de cada artista do teconobrega, que, apesar do rótulo que une a todos, os públicos são distintos e encaram os artistas de acordo com suas personalidades.

Em entrevista à revista ObaOba, ela comentou a importância da ponte feita pela Banda Calypso entre a música do Pará e as rádios de todo o País. “Eles cantam o Estado do Pará. Eu tenho uma forma de trabalhar parecida com a deles. A única diferença é que eu alcancei um outro tipo de público que nem eu mesmo esperava. Não que nossa música seja melhor. Mas hoje as coisas são mais fáceis, e nossa música tem uma pegada mais eletrônica, mais moderna. Por isso talvez a gente chegou nesse público que é moderninho, cult, hype, hipster”.

A arte produzida na periferia e o aprendizado para a vida que crescer em um ambiente não elitizado também são lembrados por Gaby Amarantos. Ela comenta o respeito à diversidade exemplificado através da homofobia. “Em Jurunas, as pessoas são muito mais livres. Claro que existe homofobia como em todo lugar, mas a figura do homossexual já é muito presente no bairro e já têm umas manifestações desde a infância. Essa é uma característica que a gente aprendeu a lidar muito bem”. A relação de Gaby com o público LGBT vem desde a banda TecnoShow, por seu estilo extravagante, discurso anti-homofóbico e presença de palco.

Apesar de fazer sucesso e viajar pelo mundo, Gaby ainda mora em Jurunas e pretende continuar por ali. “Não. Vou ficar no Jurunas, no meu bairro. Moro numa casa boa. E quero fazer um trabalho social lá. Sou a voz da periferia. Tenho a missão de divulgar não só o cenário do tecnobrega, mas a música paraense para o mundo. Daqui a alguns anos, acredito que vou estar agenciando outros artistas”. Estudar a cultura de periferias do mundo é uma prática comum na vida da cantora.”E pesquiso muito músicas de outras periferias, do Brasil, da Argentina, do Peru, da Jamaica. Meu hobby é ouvir música o dia inteiro.”

Preconceito

Apesar de manter o bom humor, Gaby comenta que nem sempre é fácil ser mulher, negra, oriunda de periferia e cantar um estilo considerado marginal por membros de classes sociais mais favorecidas economicamente. “Uma vez, uma banda não me quis porque eu sou negra e porque me achavam gorda. Soube disso depois e fiquei muito triste. E, em outra vez, fui gravar um DVD com a TecnoShow num clube de classe A de Belém, e a produtora me discriminou porque a galera não queria tecnobrega na casa. Pediram para eu parar meu show porque ali não tocava aquele tipo de música”.

A respeito da indústria cultural, a cantora mostra-se liberal e a favor do compartilhamento de canções pela intenet, e vislumbra a flexibilidade que as novas plataformas trouxeram para artistas populares, e a necessidade de reconhecimento desses meios pelas gravadoras. “Vejo o futuro sendo a internet, com a possibilidade de disponibilizar a sua música por YouTube, 4Shared... A obra é minha, faço o que quiser. Isso é a libertação! Vai ficar cada vez mais complicado para as gravadoras. Elas ainda são importantes para profissionalizar o artista, mas vejo isso, cada vez mais, como um movimento de reconhecer quem já está fazendo sucesso e não de apostar no novo”.

A cantora compartilhou ainda o que anda escutando, e que tem como hobbie conhecer novos estilos. “Venho de uma família de sambistas. Ouvir samba é algo muito presente na minha vida. Martinho da Vila, Noel Rosa, Cartola. Também sempre gostei de ouvir música clássica. Gosto muito de rock, do trash metal ao rock mais clássico: Chuck Berry e Jerry Lee Lewis, Janis Joplin, Jimmy Hendrix. Meu iPod é muito cheio de tudo. E eu adoro pesquisar os sons da periferia, os outros tecnobregas espalhados pelo mundo, como o kuduro, a cumbia eletrônica, o dubstep, o rap”.

  • Pérolas do Tecnobrega que consolidaram o estilo


Wanderley Andrade

O gênio do calypso (2002)

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Um dos primeiros artistas a ser reconhecido pelo rótulo tecnobrega, Wanderley Andrade é uma incógnita explosiva repleta de presença de palco e temas subversivos. Ele quer roubar o coração do público e traficar amor. E esse é o album traz toda a criatividade e explosão de loucura desse artista que que representa muito bem a musicalidade que conseguiu colocar a região norte do Brasil em evidência durante toda uma década “Conquista”, presente no disco, é um dos maiores sucessos do cantor. Segundo o cantor, seu visual exótico é “uma crítica irônica aos que o chamam de brega de forma pejorativa”.

Banda Calypso

Volume 6 (2004)

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A banda Calypso formou-se em 1999, com o casal Chimbinha (guitarras) e Joelma (vocais). São citados no livro “Tecnobrega - O Pará reinventando o negócio da música” como responsáveis por uma grande inovação na produção e distribuição de música. “Joelma e Chimbinha inventaram um novo jeito de gravar e distribuir músicas. A dupla, começou a gravar e vender sem apoio de uma gravadora. Criaram seu próprio selo e distribuíram seus CDs para grandes supermercados populares, frequentados por seus fãs”. O Volume 6 traz grandes hits como “A lua me traiu”, “Se quebrou”, e “Lágrimas de amor”. Vendeu mais de 1 milhão de cópias.

Companhia do Calypso

Ao vivo em Goiânia (2005)

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Uma alternativa ao sucesso quase hegemônico da Banda Calypso no cenário tecnobrega que tomou conta da década de 2000 no Brasil, a banda Companhia do Calypso conquistou seu público através de canções mais jovens e mais safadas. As cantoras Mylla Karvalho e Lenne Bandeira marcaram a formação clássica da banda. Mylla era uma artista completa, cantava e fazia malabarismos corporais ao mesmo tempo com apenas 18 anos. O disco traz sucessos como “Tchic Bum”, “Ligação à cobrar” e “Chá de semancol”. Foi gravado no Goiânia Park Show, com público de mais de 70 mil pessoas.

Banda Ravelly

Envolvendo Você (2009)

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Liderados pela cantora e compositora Vanda Ravelly, a banda traz um som completamente robótico, com alusões a uma Belém futurista, com naves, meteoros, cyborgues e distorções incomuns no gênero. Envolvendo você, lançado em 2009, chega a parecer um disco conceitual de tão concreto e uniforme. Eletromélody: a evolução daquela música característica que os artistas do norte fazem com tanta perfeição, e que conheço principalmente por conta da exaustiva execução pública do tecnobrega na primeira metade dos anos 2000. A canção “Rubi”

é um sucesso unânime entre os artistas do gênero, e já foi

regravada por vários deles.

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