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CULTURA

Balanço - FICA 2015

Por Heitor Vilela  e  Walacy Neto

Na última semana de Agosto, entre os dias 11 e 16, pela 17ª vez a bela e histórica cidade de Goiás, sediou o festival de cinema, FICA 2015. O tema ou bordão do evento desse ano foi “O desperdício também mata – Preserve a água, sem ela o mundo vira filme de terror.” Com uma extensa programação, entre as mostras principais e competitivas, mesas de debates com diretores e produtores da área de cinema e algumas palestras de peso, como a fala do cineasta Walter Carvalho.

Porém algumas questões frustrou bastante os moradores de Vila Boa, principalmente os comerciantes e prestadores de serviços, que contam com o FICA para aquela reserva e garantia de lucro para o restante do ano. O que foi claramente notado é que quem prestigiou a parte relacionada ao cinema e audiovisual do evento, foi basicamente quem faz parte da mesma. Ou seja, estudantes, convidados, cineastas, produtores do festival e a imprensa. Essas pessoas de fato, lotaram as palestras, debates e exibições no “cinemão” montado desta vez no Colégio SantAna, em frente a charmosa Praça do Chafariz.



Os turistas, em maioria saídos da capital goiana e até mesmo Brasília, dessa vez não lotaram os bares da praça do Coreto ou motivaram a população da pequena cidade de Goiás a partirem em diáspora ao alugar suas casas durante a semana. Segundo a maioria dos comerciantes de Vila Boa, essa edição foi “a pior desde a fundação do festival”. Vários fatores teriam causado tamanha frustração nos lojistas da cidade, a mudança de data em cima da hora, a época de seca e principalmente a ausência de uma programação musical voltada para grandes nomes do cenário nacional.

Outras contradições marcaram o FICA 2015, por exemplo o uso desmedido e exagerado de materiais descartáveis e extremamente poluentes. Em todos os bares, restaurantes e bancas de comida só era possível notar, copos, talheres e pratos de plástico. Não fosse o trabalho de dezenas de moradores carentes que participaram do “FICA Limpo” e se revezavam ao longo do dia inteiro (por apenas 60 reais a diária)  para catar a sujeira que esse material causava, seria uma verdadeira vergonha.

A dona de uma casa de tapioca de renome e tradição na cidade, contou que a exigência de se usar descartáveis nos restaurantes e bares durante o festival, foi baixada por decreto: “A prefeitura está multando todo estabelecimento que não utilizar copos e pratos descartáveis, disseram que era para manter a segurança e evitar problemas, mas é um absurdo se tratando de um evento de cunho ambiental”. A empresária ainda declarou que teria outras opções menos nocivas ao meio ambiente, como canecas de plástico duro, que poderiam ser reutilizadas ou aumento na segurança.



Outros comerciantes lamentaram os baixos lucros durante o festival, “o FICA sempre foi o nosso pé de meia, porque no restante do ano a cidade é praticamente morta turisticamente”. O corte de verbas não foi engolido facilmente como justificativa para a retirada de grandes shows nacionais: “não tem nenhum músico famoso para atrair o público e não se cortou uma pessoa se quer da produção do evento, todo mundo que trabalhou ano passado, continuou neste ano, então os cofres não devem estar tão vazios assim” desabafou o dono de um bar famoso da cidade.

Já os hotéis e pousadas não sofreram tanto assim, pois pelo menos quatro dos maiores nomes da hotelaria da cidade foram inteiramente fechados pelo governo para abrigar os convidados e imprensa. O que fez aumentar consideravelmente os preços das diárias para os poucos turistas que resolveram contemplar a cidade, principalmente no fim de semana, quando finalmente chegaram para curtir a vila e o festival.

Premiações

Com a finalização do Festival, a premiação era esperada pelos participantes e cineastas que competiam. Os valores de premiação, neste tipo de festival, servem não apenas como uma forma de recompensar o artista pelo trabalho bem feito, mas também significa uma quantidade maior de fundos financeiros para ser investidos em produções futuras.  Lázaro Ribeiro, por exemplo, produziu o documentário “Maria Macaca” sobre uma personagem da Cidade de Goiás, onde também reside. A película foi um dos grandes destaques desta edição, levando o prêmio de Júri Popular como melhor filme e levou o Troféu Luiz Gonzaga Soares. O filme também garantiu a segunda colocação na categoria melhor filme goiano. Em primeiro lugar ficou o diretor Ranulfo Borges, que levou o troféu João Bennio.

Ranulfo aproveitou a oportunidade para dirigir a palavra diretamente aos políticos presentes na solenidade. Mas especificamente para a atual secretaria de Educação, Esporte, Cultura e Lazer, Raquel Teixeira. Ele, primeiramente, agradeceu a oportunidade e destacou a importância de ter contato com diversos produtores de cinema do país. De acordo com Ranulfo, durante os encontros com os cineastas hospedados na Cidade de Goiás, fora redigida uma carta direcionada aos organizadores onde estes davam sugestões e críticas sobre suas impressões do FICA deste ano.



Assim como a programação musical dava foco aos artistas goianos, a parte referente ao cinema também pareceu ter esse olhar. Boa parte das premiações acabaram nas mãos de moradores do centro-oeste brasileiro. Ponto para os concorrentes do Estado que com uma produção de qualidade conseguiram garantir a premiação e arrecadar fundo suficiente para outros trabalhos.

A mostra que comemorava os 30 anos da Associação Brasileira de Documentaristas também premiou goianos. Na categoria Filme Experimental a poeta goiana Ksnirbaks levou o prêmio Martins Muniz de melhor filme com o trabalho intitulado “Mero”. Rei Souza também arrecadou uma parcela dessa sessão com o filme “1989”. Confira abaixo os vencedores.


Mostra Competitiva Fica 2015

TROFÉU CORA CORALINA (Melhor obra)
Transgenic Wars - Pela excelente investigação internacional que releva a evolução do conflito envolvendo o interesse de grandes corporações e o bem viver de todos nós.

TROFÉU CARMO BERNARDES (Melhor longa)
O Veneno está na mesa 2
Pela perspicaz associação entre o meio ambiente, saúde e econmia, propondo alternativas ao modelo hegemônico na agropecuária brasileira.

TROFÉU JESCO VON PUTTKAMER (Melhor média)
Índio Cidadão
Pela resgate histórico, força das imagens e urgência do tema.

ROFÉU ACARY PASSOS (Melhor curta)
Galus Galus
Pela adequação do desenho, condução dramática, criatividade e música na abordagem da temática urbana.

TROFÉU JOÃO BENNIO (Melhor Filme Goiano)
Lobo Solitário - Pelo paciente e sistemático acompanhamento durante vários anos da vida de um personagem único da cidade de Goiânia, dedicado a reciclagem e ao cuidado com animais.

TROFÉU BERNARDO ELIS (Segundo Melhor Filme Goiano)
Maria Macaca - Pela eficiente relação estabelecida entre o tema da água e a história da comunidade de Goiás.

MENÇÃO HONROSA 1
My Nam is Salt -
Pela excelência cinematográfica já comprovada pelos prêmios conquistados em diferentes festivais ao redor do mundo.

MENÇÃO HONROSA 2
El Rio que Nos Atraviesa - Pela força da narrativa calcada na experiência pessoal da realizadora, denunciando o avanço da indústria petrolífera na região amazônica e seu impacto nas comunidades ancestrais.

TROFÉU LUIZ GONZAGA SOARES (Júri popular)
Maria Macaca

TROFÉU IMPRENSA
Guiné, le territoire de oublie

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