Home / Cultura

CULTURA

Entre o lúdico e o real

Entremundos. Este é o nome da nova série da artista plástica goiana Jordana Hermano e também a forma mais lúdica e criativa, que ela criou para trazer reflexões ao mundo moderno. “Nesta série, expresso como estamos em vida espiritual e material. Quero que as pessoas olhem e se divirtam, mas ao mesmo tempo reflitam sobre nós humanos em plena transformação adaptativa. Falo do que sinto e do que vejo”, explica.

Em busca deste objetivo, a artista está em cartaz com a exposição, que, claro, também leva o nome Entremundos,  até o dia tal em fulano de tal. A mostra reúne 17 trabalhos em pequenos e médios formatos, dos quais a pintora utiliza a técnica mista e experimental sobre canvas.

 “È o meu olhar e meus sonhos. Esta técnica eu fui utilizando conforme meu trabalho foi evoluindo. Mas, técnica é uma coisa muito pessoal de cada artista e vem após muita experiência, transpiração e horas de trabalho”, argumenta.

O cerrado é assumidamente o combustível da arte de Jordana Hermano. No entanto, principalmente em Entremundos, não é de seu feitio reproduzi-lo tal qual como é. Em suas pinceladas, há um toque mágico e exagerado, só possível por suas influências na arte contemporânea. E, foi assim, que o bioma se transformou em um universo paralelo.

“Esta é uma série que veio pela minha observação pessoal sobre como o homem tem evoluído. Pois, vejo que hoje o homem não pensa: voa, não anda: roda” filosofa.

O começo

Foram muitos os caminhos da vida de Jordana Hermano a levaram a esta exposição. Alguns não muito encantadores como sua obra. Porém, o lado menos colorido falaremos depois. O que importa aqui é que mesmo atravessando muitos “perrengues”, esta artista nunca desanimou. “Minha arte é vital e eu pinto intuitivamente, como se fosse minha única alegria neste mundo caótico e sem limites, é a forma que me expresso nessa vida, com cores formas e sonhos”, divaga.

GetAttachment

Filha da escritora, jornalista e crítica de arte Alcione Abrão, a vida da criadora de Entremundos foi desde sempre povoada de arte. Literalmente. E a infância e adolescência - dividida entre Goiânia, São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia – possibilitou ainda mais contato com arte.  Pois, em todos locais dos quais passou, ela confessa que era “rata” de galeria e museus.

Esta sede pelas cores, lhe ajudou a construir o que chama de “linguagem visual”. “Fui fazendo minha leitura de tudo o que absorvi nestes anos todos de pesquisa e amor à arte”, explica.

O círculo de amizade da mãe também colaborou nesta leitura. Pois, sem ao menos sair de casa, podia conviver com artistas renomados. Alcyone Abrahão era amiga de nomes como Siron Franco e Cléber Gouvêa.

Mas, se por um lado esta convivência com o meio artístico ajudou a aguçar seu interesse pelos pincéis, não se pode dizer que a encheu de confiança. “Não era fácil pintar rodeada de grandes feras da arte. Me sentia um pouco sufocada”, admite a pintora.

A confiança de desenvolver sua arte começou a se aflorar quando morou sozinha na rebelde São Paulo, dos anos de 1980. Na capital, se envolveu com grupos de teatro – fazia até performances utilizando o nome de palhaço Sustinho – e, ao fazer interferências gráficas em eventos da noite paulistana se deparou com a arte contemporânea.

12241268_905342166182266_6233562789911867463_n

Dotada por estas referências, uma de suas primeiras exposições aconteceu em 1987, mas no Rio de Janeiro. Já na cidade baiana Nova-Viçosa, na qual sua mãe tinha construído uma pousada, ela também morou e montou seu ateliê. Lá amadureceu sua arte em diversas mostras – além de também ter se envolvido com a pescaria profissional.

Após cerca de 20 anos longe de suas raízes, Jordana Hermano voltou a Goiânia, e aqui, ela encontrou a inspiração, que se encaixaria perfeitamente à sua arte: o cerrado. Tomada pelas cores das aves e vegetação do bioma, ela fez dezenas de exposições, nos centros culturais da cidade.

Uma de suas derradeiras mostras aconteceu em 2013, na Secretaria Municipal de Cultura, e se chamouNatural Encantamento. Nesta exposição ela ainda homenageou a mãe, com o lançamento do livro Coleção Alcyone Abrahão Por Inteiro. A obra é uma edição organizada e revisada dos três livros da autora falecida há 28 anos. Nele há contos e relatos escritos entre as décadas de 70 e 80.

Não é fácil

Embora sempre ativa e pintando em sua “chácara-ateliê” afastada da cidade e envolta pela natureza, Jordana sofreu certa dificuldade para emplacar a série Entremundos. Pois a exposição emperrou na parte de captação de recursos.

Assim, alguns ajustes tiveram de ser feitos para que a mostra pudesse acontecer. E, se a exposição entrou em cartaz com 17 trabalhos, era para ser ainda maior. “Ela era uma grande série com painéis e dípticos e trípticos, mas por falta de captação e apoio, não foi possível realizar a mostra, então o secretario Ivanor me convidou para fazer um resumo da exposição. Então, na realidade, esta exposição é só a ponta do iceberg da minha obra”, diz a artista sorrindo, mas reticente.

A reticência, pode ser pelo motivo, de que para Jordana, as dificuldades em torno de se montar uma exposição fazem parte da “vida de artista”, que para ela nunca foi apenas repleta de cores. “Nunca temos estabilidade financeira, costumo dizer que vivo de milagre, todo mês uma surpresa”, revela.

DSC02237

Por este, ela conta que o maior sonho como pintora, não é expor no Louvre, mas sim viver com dignidade do seu trabalho. “A arte é a assinatura da civilização e necessita de mais atenção ao que vamos apresentar às futuras gerações, arte é cultura e também bem estar. Falta uma política que realmente apoie a arte e os artistas que estão em atividade criativa, é muito complicado, ser artista e ao mesmo tempo ter que ser, curador, divulgador, marchand e produtor... falta mais profissionalismo”, reclama.

No entanto, apesar dos apesares, a ponta do “iceberg” de Entremundos, não deixa de ser um convite para a exaltação da arte criativa e consciente produzida em Goiânia. A sua abertura, ela conta que “tristemente havia poucas pessoas”. Mas, o otimismo é um dos seus tons mais bonitos: “No começo é assim mesmo... depois melhora...”, diz ela novamente reticente.

1604858_905342129515603_4062680269112836004_n

Leia também:

  

edição
do dia

Capa do dia

últimas
notícias

+ notícias