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Filho canta as favoritas nos 100 anos de Bernardo Élis

Marcando o centenário de nascimento do escritor goiano Bernardo Élis, o Instituto Histórico e Geográfico de Goiás (IHGG) promoverá no próximo dia 17 (terça-feira), às 20 horas, no auditório do próprio IHGG (Praça Cívica, Rua 82 esquina com a Rua 85, Setor Sul), um pocket show com entrada livre com o economista, professor e piloto de acrobacias aéreas Semeão Curado, filho mais velho do escritor, que no espetáculo relembrará sua vida em família e cantará, com seu timbre de voz semelhante ao do renomado cantor Nelson Gonçalves, as músicas de que seu pai mais gostava.

Bernardo Élis Fleury de Campos Curado, nascido em Corumbá de Goiás em 15 de novembro de 1915, foi um advogado, professor, poeta, contista e romancista brasileiro. Foi o primeiro e único goiano a entrar para a Academia Brasileira de Letras.

Seu pai,Erico Curado, considerado o de maior expressão do simbolismo na terra de Anhanguera, era de família tradicional, porém só pôde proporcionar uma criação humilde aos filhos. Bernardo Élis publicou várias obras, entre elas Apenas um Violão,O Tronco (que posteriormente virou), e Ermos e Gerais, sua mais premiada obra. Como contista, foi escolhido para integrar importantes antologias nacionais, como a clássica Antologia do Conto Brasileiro Contemporâneo, do crítico literário Alfredo Bosi.

Em 1995, foi escolhido pelo então governador de Maguito Vilela, para presidir a Fundação Cultural Pedro Ludovico Teixeira, atual Agepel, órgão equivalente à Secretaria de Estado da Cultura. No mesmo ano, afastou-se do cargo, ocupado posteriormente por Linda Monteiro. Já a 31 de janeiro de 1999, a sua obra Veranico de Janeiro (1966) foi escolhida, por um seleto júri constituído por 10 especialistas escolhidos pelo jornal O Popular (edição número 16.476), o mais importante periódico do Estado de Goiás, como um dos 20 melhores livros goianos do século XX.

Em entrevista exclusiva ao Diário da Manhã, Semeão Curado, que já gravou dois CDs de muito sucesso entre os amigos e admiradores no Rio de Janeiro, onde mora, conta aqui como ele, economista, professor e consultor de instituições internacionais, deixou recentemente sua carreira também de piloto de acrobacias aéreas para se dedicar agora à música, com viés de se profissionalizar.

“Bernardo me incentivava a cantar no rádio, inclusive pondo um dinheirinho no meu bolso”

Por que você, economista e piloto de acrobacias aéreas, resolveu cantar?

Semeão - Na verdade eu canto desde muito tempo. Bernardo Élis, meu pai, era um grande admirador do Nelson Gonçalves. Sempre dizia que o Nelson cantava com todas as letras, flexionava bem as palavras e acentuava sem constrangimentos, dando uma dimensão inusitada ao português cantado. Antes do

Repórter Esso, que ouvia em ondas curtas pela Rádio Nacional, às 8 horas da manhã, sempre tocavam uma música de sucesso. E sempre o Nelson estava nas paradas. As músicas favoritas, na época, 1958, eram Normalista

Caminhemos

entre outras. Todas elas o Bernardo Élis cantarolava.

Como era Goiânia naquela época?

Semeão - As rádios, no caso a Brasil Central e a Rádio Clube, tinham seus programas de calouros. Eram  apresentadores o Cunha Júnior e o Sílvio Medeiros. Eu ia, já com 13 anos, cantava as músicas do Nelson e sempre era premiado, para satisfação do Bernardo Élis, que me incentivava muito, inclusive pondo um dinheirinho no meu bolso.

E depois, o que o levou a cantar de maneira, digamos, mais comprometida com a arte?

Semeão -Bom, sempre cantei. Por volta de  2 mil e poucos, fazia as minhas acrobacias aéreas pelas manhãs de sábado e domingo no Clube CEU, no Rio de Janeiro. Sempre vendo e admirando as acrobacias estava o Armando Nogueira, que era um entusiasta da aviação e gostava muito de ver as piruetas. O Armando tocava gaita muito bem, além de ser um grande conhecedor e apreciador de música. Certa vez, ao finalizar as minhas acrobacias e tomando café, falamos sobre música e sobre o Nelson. O Armando tirou na gaita  A volta do boêmio e eu cantei. Ele adorou. Pegou o telefone e ligou para um amigo: “Olhe, tem um piloto, o Semeão Curado, que canta como o Nelson. Só vendo”. Com isso incentivou-me a cantar. Por sinal, o Armando e sua gaita entrariam no meu CD. Infelizmente morreu antes.

E o que te levou a continuar nessa trajetória?

Semeão - Em 2010 parei de voar. Vendi o meu avião acrobático. Cantar é uma espécie de acrobacia. Permite uma introspecção e ficar com você na sua criação. Cantar é libertário e, sobretudo, é estar com você mesmo. Com isso fui tomando gosto e cantando.

“O Armando Nogueira tirou na gaita

A volta do boêmio  e eu cantei. Ele adorou. Pegou o telefone e ligou para um amigo: Olhe, tem um piloto que canta como o Nelson”

Por que escolheu Nelson Gonçalves como tema central de sua arte?

Semeão - Eu canto tudo de música popular brasileira. O Nelson é em função do timbre parecido, o que naturalmente me empurra para o seu repertório. Porém, sempre digo: eu não imito o Nelson, eu canto com o seu timbre, para mim o maior gogó já nascido no Brasil. Se eu quisesse  imitar o Nelson, não daria conta. Primeiro, Nelson  é inimitável; segundo, eu iria para o Circo Tihany, o qual nem sei se existe mais.

E os seu CD’s?

Semeão - O primeiro, lancei há dois anos e meio. São nove músicas que representam a carreira do Nelson. Foi dirigido por um grande músico, o Papito Mello, com belos arranjos. O CD, promocional e não vendido, é um sucesso. Nunca pensei o tanto que as pessoas, das mais diferentes idades e formações, gostam. O nome do CD é

Lembrando Nelson Gonçalves. O segundo, que estaremos lançando agora em Goiânia no centenário do Bernardo Élis, meu pai, se chama Inquietação, música do Ary Barroso que o Armando Nogueira disse-me que o Nelson deveria ter gravado. Então eu gravei. São sete músicas, sendo que duas delas -Inquietação Volta por Cima, do Paulo Vanzolini, nunca foram gravadas pelo Nelson.

Quais as música do CD Inquietação?

Semeão - O CD tem o arranjo musical do Papito e as músicas são Você diz que me ama, da Isolda;Cabelos brancos, do Herivelto Martins;O dono das calçadas,do Nelson Cavaquinho;Inquietação;do Ary Barroso;Naquela mesa, do Sérgio Bittencourt;Autorretrato, de Paulo César Pinheiro;  e Volta por cima de Paulo Vanzolini

E seus planos para o futuro?

Semeão - Já estou com cinco músicas, inclusive uma do Vinicius,  Medo de amar, e uma do Baden,

Samba triste.

Já estou com os arranjos e as bases prontos para gravá-las. Fora isso tenho cantado em bares e shows, sempre. É uma beleza, uma grande curtição.

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