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CULTURA

Carnaval erótico

Durante a semana do carnaval, fiquei encarregado de procurar por histórias intrigantes envolvendo exagero de álcool no carnaval. Ao realizar pesquisas no Google com os termos ‘loucuras de carnaval’, ‘relatos de carnaval’, percebi que a maioria esmagadora dos resultados me direcionava a websites especializados em contos eróticos. Os relatos reais de diversão e de acontecimentos inusitados eram bastante escassos. Isso me levou a refletir sobre a ligação entre sexo e carnaval. Também me lembrei de que a data promove um aumento das propagandas educativas na TV, orientando o uso de proteção.

Em uma análise superficial do material, percebi ainda que em boa parte dos contos não existe a exploração de elementos carnavalescos, e a data comemorativa é usada de forma genérica, apenas para justificar que no carnaval o sexo com desconhecidos é mais comum, o que daria um tom mais realista ao conto. Outros, por sua vez, possuíam narrativa mais coesa, onde todo um contexto carnavalesco era criado, com cronologia e ambientes que tornam a leitura mais literária e menos pornográfica. Nesse modelo de contos existe inclusive certo suspense, palavras mais cultas e investimento na construção psicológica dos protagonistas.

Contos


Selecionei dois exemplos de contos, cada um deles encaixa-se em uma das duas categorias sintetizadas no parágrafo anterior. O primeiro deles, com o título genérico ‘Loucuras de carnaval’, foi publicado em 14 de março de 2006 através do ‘Blog dos Contos’. Traz uma narrativa em primeira pessoa onde tudo acontece muito rápido, e a palavra ‘carnaval’ aparece apenas três vezes na página, contando com o título. A história gira basicamente em torno de duas mulheres que já saem de casa em busca de obter prazer através do sexo.

O carnaval é usado para justificar uma fantasia: “Terça de carnaval resolvemos ir a uma boate e prometemos arrumar uns gatos pra matar nosso tesão. Nos fantasiamos de índia, com sainha minúscula, adesivos nos seios e muita purpurina pelo corpo”. Na terceira e última vez que o carnaval é citado, as duas amigas estão bêbadas e desinibidas no banheiro. A euforia alcoólica é o motivo para que elas sintam-se à vontade para confidenciar as histórias que alimentam o texto. “Estávamos meio tontas da cerveja e fomos tomar banho juntas, confidenciando as nossas loucurinhas de carnaval... Mara me contou q deixou o bofe dela pegar em tudo [...]”.

O outro conto analisado está registrado no site ‘Espalhe o amor’, que tem como foco os temas ‘comportamento’, ‘relacionamentos’ e ‘espiritualidade’, sendo os contos eróticos apenas uma das fontes de material. O conto também traz o carnaval logo no título, “Conto de carnaval proibido até para maiores”. O personagem central é um homem exigente que conta com descrição psicológica bem mais detalhada: “Cansei de contar a quantidade de vezes em que dispensei o que é agradável aos olhos porque sabia que não alimentaria minha alma. Não porque eu fosse “santo”, mas sim porque eu era muito tímido e muito, muito, muito idealista mesmo”.

A palavra ‘carnaval’ foi usada 16 vezes no texto, que foi publicado no dia primeiro de março de 2014. Sua utilização foi mais bem aproveitada no primeiro conto, como podemos ver no trecho seguinte, que traz o termo para justificar certa atemporalidade, devido ao fluxo exagerado de entorpecentes usados durante a festividade. “Numa noite – talvez no Domingo de Carnaval, talvez na Segunda – fomos para a praia: eu, a Paula e o Ricardo – um amigo que eu já conhecia desde a infância, companheiro de muitas outras furadas carnavalescas”.

O próprio título do conto foi justificado no corpo do texto. Cria-se através das frases do autor uma noção de maior intensidade. “Era bonita de se ver e muito desejável. A partir dali, aquela cena tinha tudo para se tornar um verdadeiro conto de carnaval proibido para menores”. O imediatismo do carnaval também é abordado: “Muitos vão dizer que aquela foi a coisa mais idiota que se pode fazer com uma mulher daquelas, naquelas circunstâncias, em um Carnaval. Acontece que estas são as pessoas com uma visão de curto prazo, que mal podem esperar para terem seu próximo orgasmo”.

Não é difícil entender que em uma sociedade moldada através da moral do sexo sagrado, o carnaval seja chamado de ‘festa pagã’ ou ‘festa da libertinagem’. Se ainda hoje nas famílias mais conservadoras uma gravidez antes do casamento seja motivo de vergonha para a imagem do sobrenome, é de se esperar que muitos pais eduquem suas filhas para que elas não pratiquem atos sexuais antes de se casarem, ou para que se praticarem sintam-se culpadas e não compartilhem da experiência familiarmente. Aos filhos não é dada nenhum tipo de orientação, tendo em vista que o fato de não serem virgens à época do casamento em nada os prejudica.

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