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CULTURA

Do mangue para o mundo

“Modernizar o passado é uma evolução musical”. Esta frase, que Chico Science entoa, no começo da faixa “Monólogo Ao Pé do Ouvido”, define muito bem como este artista revolucionou o cenário musical brasileiro.  Cheio de personalidade liderou um movimento que propunha uma verdadeira conciliação musical entre o novo e o tradicional. E conseguiu. Sua música viajou mundo afora, usando como símbolo maior a biodiversidade dos mangues. É por isso que a data de hoje, do ano de 1997, trouxe uma notícia triste para o mundo das canções: este artista plural perdia a vida em um violento acidente de carro, na rodovia PE-1, que separa Olinda, da capital Recife.

Ele foi o vocalista e compositor do grupo Chico Science & Nação Zumbi, que saiu do subúrbio de Olinda (PE), para ocupar os principais festivais de música do Brasil e do mundo. A banda era pura mistura: reunia percussão, samplers e as guitarras pesadas do rock e, assim, deixava a todos embasbacados com o misto de hip hop, maracatu, ciranda, coco, entre vários outros estilos. Tudo isso, embalava ainda letras poéticas, contestadoras e muito coerentes com a realidade social do Brasil.

Dessa forma, que Science ajudou a comandar o chamado manguebeat, um dos últimos movimentos culturais mais relevantes da música brasileira. Seu símbolo era uma parabólica fincada na lama, e teve direito até a um manifesto, que foi escrito pelo vocalista da banda conterrânea Mundo Livre S.A, Fred Zero Quatro.

"Acho que o maior legado do manguebeat foi a noção de diversidade. Tínhamos um público que nos festivais começava a noite curtindo roda de ciranda e terminava com a mesma animação com a música eletrônica ou rock", disse Fred, em entrevista concedida em 2014 ao DMRevista.

O manguebeat, assim como Science, era colorido, conectado, moderno, mas ao mesmo tempo vanguardista e tradicional. E, logo contagiou da música, até à moda e arte da década de 90, em um mosaico colorido do próprio Brasil, com todas suas alegrias, e, claro, também suas mazelas. Chico, orquestrava tudo isso, juntamente com nomes, como: Cascabulho, Mestre Ambrósio, Sheik Tosado, Jorge Cabeleira e o Dia Que Seremos Todos Inúteis

No mangue


Dono de um espírito inquérito, criativo e dinâmico, tudo que compunha, cantava ou vestia em Chico Science soava autentico. E, esta sua identidade marcante tinha tudo a ver com a origem do menino humilde, cuja diversão na infância era catar caranguejo - e talvez conversar com urubus - nos mangues da cidade, para depois vendê-los - sem muito compromisso - em troca de alguns trocados.

Toda esta história de vida estava entranhada na mente em ebulição deste artista e também presente, nos dois emblemáticos álbuns que gravou com a Nação Zumbi: "Da Lama ao Caos" (1994) e "Afrociberdelia" (1997).

"Da Lama ao Caos" se tornou uma das preciosidades  da música brasileira, com canções como: "Banditismo por Uma Questão de Classe", "Rios, Pontes & Overdrives", "A Cidade", "A Praieira", além de, claro, da canção que dá nome ao disco. Com estas preciosidades, o álbum está na lista dos 100 melhores discos da música brasileira da Rolling Stone na 13ª posição.


Afrociberdelia


" também integrou esta lista - ficou em 18º lugar -, e marcou ainda a consagração definitiva do artista junto ao público. O álbum trazia a regravação da faixa composta por Nelson Jacobina e Jorge Mautner, "Maracatu Atômico", que ganhou as rádios de todo Brasil. (a música rendeu diversos remixs muitos, de fato, não agradaram Sicence). Outras canções deste trabalho também fizeram bastante sucesso, a exemplo de: "Manguetown", "Macô" e "O Cidadão do Mundo".

No pouco tempo que teve para curtir o sucesso, Science conseguiu rodar o país com seu grupo e também fazer turnês internacionais, embora a carreira de seu líder tenha sido meteórica, aquele movimento que su. Ergiu de forma tão divertida em Recife, ainda ecoa forte na música brasileira.

Além de a Nação Zumbi ter continuado sem Chico Science - com Jorge dü Peixe nos vocais -, e grupos como Mundo Livre S.A, também estaram ativas até hoje, a influência do manguebeat e de Science, estão em toda parte na música brasileira. É possível ver suas batidas e letras conscientes, em bandas como: Planet Hemp, O Rappa, Charlie Brown Jr, Cordel do Fogo Encantado, Os Paralamas do Sucesso, Mombojó, Sepultura, entre várias outras. Assim, é fato que a voz de Chico Science está longe de se calar.

Carnaval


A ansiedade de uma multidão de pernambucanos pelo Carnaval começa cada ano mais cedo. O Galo da Madrugada divulgou oito meses antes dos festejos de Momo, o tema do seu 39º desfile. O homenageado desta edição será Chico Science, o eterno mangueboy olindense.

O próximo desfile do maior bloco de rua do mundo, cujo tema será Galo, Frevo e Manguebeat, vai ser realizado no dia 6 de fevereiro de 2016. De acordo com o presidente do Galo da Madrugada, Rômulo Meneses, "os esboços dos carros alegóricos começam a ser feitos ainda em 2015".

"A homenagem que o Galo da Madrugada fará é, sobretudo, um reconhecimento à genialidade, à capacidade inovadora e à ousadia que Chico Science, assim como seus parceiros, teve ao unir uma diversidade de culturas e ritmos. O movimento Manguebeat promoveu a interação da cultura popular nordestina com o pop mundial, mesclando ritmos tipicamente nossos como frevo, coco, embolada, maracatus e ciranda com outros como rap, rock, funk e soul", destacou Rômulo Meneses.

A Revista Rolling Stone, uma das principais publicações de cultura e política do mundo, incluiu os dois álbuns da Nação Zumbi na lista dos 100 melhores discos da música brasileira. Em 2008, a mesma publicação promoveu Chico Science para 16ª lugar na Lista dos Cem Maiores Artistas da Música Brasileira.

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