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Poucos cineastas brasileiros possuem uma carreira tão respeitada como Eduardo Coutinho. Em mais de cinquenta anos de carreira, foi responsável por produções cinematográficas aclamadas pela crítica. Sua obra prima, 'Cabra marcado para morrer', de 1984, é citada como uma das mais importantes do cinema nacional. Além dela, outras produções como 'Edifício Master', 'Jogo de Cena' e 'Moscou' são aclamadas internacionalmente. O estilo próprio do diretor, que mistura ficção e realidade com maestria, é responsável por tamanho reconhecimento. Coutinho morreu em 2014, há exatos dois anos. Foi assassinado pelo próprio filho que sofre de esquizofrenia. Ele tinha 80 anos.
A confecção de 'Cabra marcado pra morrer', de 1984, foi uma verdadeira saga que se delongou durante duas décadas. O filme é uma narrativa semidocumental da vida do líder camponês paraibano João Pedro Teixeira, morto em 1962. Teve suas filmagens interrompidas em 1964, devido ao golpe militar e foi retomado 17 anos depois. Foram reunidos os mesmos técnicos, locais e personagens reais para contar a sua história. O foco é nas Ligas camponesas de Galiléia e de Sapé . A vida de João Pedro é narrada por sua viúva, Elizabeth Teixeira, que conta sobre a sua vida nesses vinte anos, assim como a de seus filhos, separados dela desde dezembro de 1964.
Censura
A produção adquiriu um status icônico desde que foi lançada, e representa a materialização dos atrasos que a ditadura militar proporcionou ao país em vários setores, sendo o da liberdade de expressão um dos principais. Na página de comentários dedicada ao filme no site Filmow, várias opiniões favoráveis ao filme foram expressas. Rafael Queiroz define o filme como uma atitude corajosa diante do período mais obscuro da política do país. "Um tapa na cara dos defensores contemporâneos da ditadura militar. Todo o trabalho investido para completar esse filme é um ataque. Não só o conteúdo das filmagens em si serve como uma crítica; mas, sim, a atitude baseada na produção e no lançamento".
Segundo Rafael, o ressurgimento do filme após o período turbulento representa uma crítica ferrenha e simboliza a persistência de Coutinho em seu projeto. "O governo pode ter calado midiaticamente as minorias camponesas após a PM assassinar ilegalmente o maior expoente sindicalista das Ligas Camponesas da Galiléia e de Sapé, mas depois, após a redemocratização, teve que engolir uma crítica maior ainda: o documentário da ficção que não pôde ser produzida por completo, os porquês disso, etc". A persistência em realizar o projeto também justifica a imagem de Coutinho, que é considerado o maior documentarista do país.
Fabrício Gabriel também levanta pontos positivos do filme, dando mérito à força dos personagens que compõem a narrativa. "Existe uma força narrativa em Cabra Marcado Para Morrer que vem de seus personagens. Personagens da vida real que em pouco tempo de tela ganham a simpatia do espectador". A viúva de João Pedro Teixeira, segundo Fabrício, prende o telespectador através de sua sensível sabedoria. "Dona Elizabeth é mais do que uma escola, é uma universidade inteira de perseverança e sabedoria em forma de gente".
Pós-ditadura
De arquitetura minuciosa e completamente original, o documentário Jogo de Cena traz várias mulheres compartilhando suas alegrias e tristezas. Ao mesmo tempo, atrizes famosas como Marília Pêra, Fernanda Torres e Andréa Beltrão tentam interpretar tais histórias. Comparadas, a realidade e a ficção adquirem um aspecto bastante particular. Depois desse processo, as próprias atrizes contam como foi a experiência de executar o desafio. Andréa Beltrão, por exemplo não conseguiu não chorar ao relatar a história de uma mãe que perdeu o filho no momento do parto.
Augusto César, no Filmow, relata sua experiência com Jogo de Cena. "Eu vejo esse filme constantemente, porque ele me toca. É o melhor documentário que eu já vi, e está entre os meus filmes preferidos, em todos os gêneros". A construção do filme e seus detalhes também é exaltada por Augusto. "
Num formato absolutamente simples, a grande atração são as histórias contadas por essas mulheres, tanto aquelas que estão contando suas próprias histórias de vida, assim como as atrizes que estão interpretando as vivências de outras, mas que colocam em suas personagens nuances, detalhes pessoais, que tornam suas falas particulares".
