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Mais cores do Brasil Central

Nesta edição, o Diário do Artista encerra o que acabou se transformando em uma “trilogia”, na qual estiveram alguns dos artistas goianos, que usam seu maior dom em nome do Cerrado. Assim, depois de percorrer o universo  pictórico de Samira Beérigo e Mari Sousa, hoje é dia de parar e contemplar as belezas naturais presentes na obra de Ricardo Gomes.

Crescido na cidade Corumbaíba (GO), onde seus pais eram trabalhadores rurais, a pergunta sobre por quê da escolha pelo Cerrado deve ter soado óbvia demais, para um artista, que cresceu rodeado de natureza, como ele. Mas mesmo assim, não deixa de responder empolgado: "É neste ambiente que encontramos as maiores variedades de cores e sabores. Os frutos são saborosos, suas flores são maravilhosas, seus pássaros exibem em variedade sons e cores que nos fazem nos curvar diante de Deus".

Devido a encantamento que nutre pelo bioma, suas obras levam como tema alguns habitantes do Cerrado, como os psitacídeos, grupo de aves,  no qual  estão as araras, papagaios, mulatas, jandaias e periquitos. Porém, frutos e flores de orquídeas, pequi, entre muitas outras, também estão sempre em seus quadros.

Portanto, a forma que Ricardo Gomes acha mais eficiente para se inspirar é  a de sempre dar um jeito de estar perto da natureza. No campo, que é quase seu “habitat natural”, ele capta tudo que seus olhos podem assimilar. E, um de seus maiores desafios enquanto artista, ele conta que é fazer quadros que pareçam o mais natural possível.

Para dar vazão aos seus exigentes apelos artísticos, o pintor optou pelo estilo figurativo realista. Contudo, como uma de suas metas é mostrar também o impacto do homem sobre a natureza - seja de forma positiva ou negativa - ele deixa seus traços percorrerem pelas formas subliminares do surrealismo, que conforme ele, empresta à sua obra um tom mais sugestivo e crítico.

"Parto desde pinceladas finas e definidas ao impressionismo das pinceladas mais soltas e espatuladas", detalha, completando ainda que atualmente tem usado o óleo sobre tela para pintar tanto o cerrado, como o que sobrou dele.

Arte na dor


Como é comum entre os artistas de qualquer, o dom de Ricardo com as tintas se manifestou na infância. E o início de sua carreira remete até à história de outro nome importante da arte: Frida Kahlo.  Pois, assim como a pintora mexicana, sua aproximação com as cores foi incentivada por um grave problema de saúde.

"Aos seis anos de idade eu tive um problema no quadril e como tratamento precisei ficar engessado por mais de um ano. Sentia muitas dores e ficava triste de ver meus amigos brincando e eu não . Foi aí que meus pais mandaram fazer uma mesinha que se encaixava sobre meu peito para eu  distrair desenhando", relembra.

Depois deste repouso forçado Ricardo tomou gosto de vez pelas cores. E delas nunca mais se desgrudou. Sem condições de viver somente da arte, no começo da carreira Ricardo se virava também pintando paredes e de letreiros. "Quando mudei para Goiânia, continuei a fazer um letreiro aqui, um desenho ali. Às vezes um desenho e uma parede; outras vezes uma tela e um retrato para alguém. Foi assim que as coisas foram acontecendo", recorda.

Com tanta prática, a cada dia Ricardo estava mais perto de se transformar no artista em tempo integral que é hoje. "Passei a fazer trabalhos de arte final para gráficas e agências publicitárias e vi que, a arte fazia cada vez mais parte do meu universo. Sentia que eu respirava arte, que as formas e cores corriam em meu sangue e faziam meu coração pulsar", revela.

Mas quanto maior o reconhecimento, maior a responsabilidade. E foi isto o que Ricardo Gomes constatou, quando suas obras começaram a despertar interesse do público. Por isso, enquanto criava, ele também tentava aprender tudo o que podia sobre arte. "Estudei a arte renascentista, barroca, impressionista e vários outros estilos e artistas. Ainda busco mais conhecimento, pois temos bons artistas contemporâneos e, conhecê-los  enriquece nossa obra”, afirma.

Exposições


Os estudos e talento fizeram de Ricardo um artista em tempo integral, que cria no próprio ateliê, onde também ministra cursos de desenho e pintura. Lá ele trabalha diariamente, já que para ele, o artista ideal tem que estar sempre planejando e criando coisas novas. E é isso que ele faz. Mas, não são todos os projetos ele sai falando por aí. "Ando trabalhando em algo que ainda não posso divulgar", despista.

Porém, sobre as diversas exposições que participou, ele não faz cerimônia em contar. Em Goiânia, já integrou projetos como o “Galeria Noturna” - em que artistas pintaram as portas de lojas do Centro de Goiânia. Mas, uma das mostras em seu currículo do qual possui mais orgulho aconteceu nos Estados Unidos.

"Em 2005 participei de uma exposição em que pude mostrar ao público americano a riqueza do nosso Cerrado. Esta exposição acontece todo ano e participam apenas artistas da América Latina. Eu era o único a representar o Brasil, com três obras".

A exposição internacional e o interesse contínuo que colecionadores de arte de diversos cantos do mundo possuem pela sua arte, indicam que um dos seus maiores sonhos como artista pode estar perto de se realizar.  "Quero ser reconhecido e respeitado por todos, com dono de um trabalho sério e que leva as pessoas a pensar e refletir sobre o que somos, o que temos e o que podemos fazer para termos uma vida melhor”.

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