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Retrofuturismo

O   termo ‘retrofuturístico’ faz referência à tendência das artes de resgatar a influência de representações do futuro criadas em algum momento do passado. Caracterizado por uma mistura de estilos antigos (retrô) que retratam tecnologia futurista, o retrofuturismo explora temas de tensão entre o futuro e o passado, bem como as consequências alienantes e capacitadores proporcionadas pela tecnologia. Os produtos considerados retrofuturistas são geralmente apresentado através de criações artísticas e tecnologias modificadas que vislumbram artefatos que poderiam existir em uma realidade paralela ou futuro remoto. Pode ser visto como uma perspectiva otimista sobre o futuro, ou mesmo como uma manifestação na moda, arquitetura, design, videogames, etc.

O retrofuturismo é constituído com base nas ideias do próprio futurismo, mas se diferencia deste em diversos contextos. No campo das artes de vanguarda, literatura e design, o futurismo é um conceito bastante difundido. As características do retrofuturismo incluem dois tópicos principais: o futuro visto do passado, bem como o passado visto do futuro. A primeira definição, a mais apropriada, é diretamente inspirada pelo futuro imaginado que existia na mente de escritores, artistas e cineastas no período que antecedeu a década de 1960. Tais visões futuristas são renovadas e apropriadas ao presente, oferecendo uma imagem nostálgica e contrafactual de como o futuro poderia ser, mas não é. As imagens causam uma sensação mista de atraso e tecnologia.

O segundo tópico define uma tendência contrária ao verdadeiro retrofuturismo, e trata-se de um futurismo retrô. Tem início através de um apelo retrô para estilos antigos das artes e da moda, e inclui o uso de tecnologias recentes apresentadas em design que remete ao passado. Na prática, todas as duas definições não são definitivamente distintas, tendo em vista que contribuem com uma visão similar. O primeiro tipo de retrofuturismo foi inevitavelmente influenciado pela ciência, tecnologia e consciência social do presente. As criações modernas retrofuturísticas (segunda definição) não são simplesmente cópias das inspirações anteriores aos anos 1960. Em vez disso, trazem um frescor irônico por serem vistas em uma perspectiva moderna.


Exemplos

Um dos temas recorrentes em resgates retrofuturistas é o da alimentação humana no futuro. As pílulas alimentares, por exemplo, eram vistas de uma maneira bastante diferente em previsões cômicas dos anos 1960, quando o mundo vivia um boom na área das ciências espaciais. De acordo com Athelstan Spilhaus, escritor da história em quadrinhos Our new age (Nossa nova era), que traz uma visão influenciada pela literatura de Orson Welles, comida sintética, pílulas inteligentes e garçons cangurus poderiam fazer parte do cotidiano das pessoas na década de 2050. A cada semana, a publicação trazia uma história diferente, com temas que englobam desde as luas de marte à robótica. O autor explicava as coisas de forma direta, o que tornava sua obra interessante.

Atualmente, a maior utopia tecnológica entre nós, segundo Matt Novak, um dos autores do site Smithsonian, seria a esperança de um dia sermos capazes de fazer o upload completo de nossos cérebros para os computadores. Mas em 1965, a visão do ano de 2016 estaria satisfeita com uma simples ligação direta. “Biohackers de porão estão constantemente experimentando maneiras de alterar o corpo humano, mas ainda estamos distantes de tal singularidade tecnológica”, afirma. De acordo com um dos desenhos de Athelstan Spilhaus, em 1986 estaríamos na era da comida sintética, similar à alimentação à base de pílulas. Seguindo o mesmo raciocínio, em 2006, os povos veriam um aumento da democracia que permitiriam avanço nas telecomunicações (internet?).

Em outro artigo chamado “Eu vi o [retro]futuro”, o mesmo autor, Matt Novak, afirma que “as pessoas são atraídas pelo futurismo pela grandiosidade espetacular que reside em sua essência. No entanto, as visões passadas do futuro refletem as esperanças e os medos norte-americanos de uma maneira fantástica, e assim o fazem com uma honestidade única”. De acordo com o autor, o retrofuturismo apresenta uma verdadeira ligação com a história que se difere de qualquer outra. “As visões de imagens cativantes de carros voadores, por exemplo, oferecem uma janela ímpar para a história.” Matt Novak, que também é autor do blog Paleofuture, conclui o artigo dizendo que “se há alguma visão futurista que ainda não encontrei, esta seria a do status quo”.

Sonho 2000

No blog Hoje é um bom dia, escrito por Izzy Nobre, podemos encontrar uma visão brasileira em relação à tendência retrofuturista, que ainda não ganhou tanta força no país. Na publicação Retrofuturismo, ou como a galera do passado achava que o futuro seria, ele afirma que os anos 2000 realmente mexiam com a imaginação dos artistas do século XX. “Retrofuturismo era uma vertente artística pré-contemporânea que tentava imaginar como o futuro seria. Ou seja, desenhos de décadas passadas de como eles achavam que o mítico ano 2000 seria. Essa arte não é exclusivamente específica ao ano 2000 ‘em ponto’, mas você sabe como temos um certo fetiche por anos redondinhos, né? Geralmente o ano 2000 era o alvo dos artistas. Ninguém imaginava como o ano 2003 seria.”

O autor aponta erros e acertos dos artistas do passado, e conclui dizendo que as inovações tecnológicas de determinado período histórico exerceram grande influência nos vislumbramentos apresentados. O sonho de voar é um deles. “A aviação começava a aparecer naquela época, e os malucos já achavam que em breve ela dominaria nossa vida. Eles acertaram e erraram ao mesmo tempo, porque 100 anos depois ainda não temos os tão sonhados carros voadores que eles já imaginavam”, explica Izzy. Ele interpreta o movimento como uma forma de contato com a mentalidade do passado. “Elas nos dão um pequeno insight sobre como a galera daquela época imaginava o rumo que a tecnologia tomaria.”

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