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Verdadeiramente surreal

Uma chuva ou arco-íris de botos, vacas dançando balé, andando de skate ou apenas documentando o momento em selfies. Estas são só algumas situações inusitadas, que o artista plástico durante a noite e gari durante o dia, Manoel Santos, inventa em seus quadros. Suas obras, que ostentam um universo ainda rico em cor, humor e críticas sociais, vão estar reunidas na exposição Imaginário, que fica em cartaz até o dia 30 de março no Museu de Arte de Britânia.

Assim, quem estiver passando o carnaval no Lago dos Tigres, principal atração turística da cidade goiana, que está a cerca de 330 km da capital, vai poder aproveitar para degustar um pouco das criações deste artista. Com curadoria de Antonio da Mata e produção de Malu da Cunha, a mostra apresenta 24 obras, acrílicas sobre tela, em tamanhos variados.

Britânia é a menor cidade do Brasil a ter um museu de arte. Justamente por isso, a escolhida para sediar a Imaginário, que tem como intuito descentralizar o acesso à arte, já que a maioria das exposições acontecem nos centros urbanos.

Identificação

Apesar de pincelar temas bastante atuais, a exemplo da cultura do consumo, da crise econômica e política, além da onipresença das mídias sociais, algumas das inspirações de Manoel foram constituídas a partir de memórias bem remotas–junto à uma mente extremamente criativa, claro.

“Quando criança morava em uma região mais afastada do centro urbano de Goiânia e, nossos vizinhos tinham vacas. E as vacas rompiam a cerca e bagunçavam nossas roupas dos varais. Vendo esta cena, imaginava as vacas saindo por aí todas vestidas”, contou rindo o artista em entrevista ao Diário da Manhã, acrescentando que aconteceu o mesmo com as roupas de balé das crianças vizinhas, que geraram o quadro Dançado Balé.

O bom humor está nas palavras e ações deste artista–que costuma dizer que a profissão de gari é seu feijão com arroz e arte te dá a salada. E as cores são o meio pelo qual consegue contagiar com este espírito o espectador. “Quero sempre divertir as pessoas”. Até nos concorridos vernissages das exposições consegue interagir com humor com os presentes, principalmente com aqueles que curiosamente se identificam (segundo ele isso sempre acontece) com seus animais surreais.

“Nas aberturas das mostras, principalmente os amigos e conhecidos, sempre me perguntam: ‘Este sou eu? -Este é você?’. O povo brinca muito, quando vê meus quadros e este é um dos objetivos do meu trabalho”, revelou o artista.

Por estas características, Antonio da Mata, o curador de Imaginário, em um dos trechos do catálogo da mostra, diz que a partir de uma obra bruta, Manoel Santos faz uma “espécie de rudez alegre e colorida que descreve um mundo aleatório e tranquilo, poético e lírico”.

Estilo

Tamanha identificação do público, Manoel acredita que se deve à sua alma primitivista. Acompanhado do naif, estilo da arte ingênua, sem que seja necessário um conhecimento acadêmico, ele acredita consegue uma comunicação direta com as pessoas. “O público entende meu recado”, afirmou o artista, que em seguida lamentou o fato de que as galerias de arte não costumam abrir com muita frequência suas portas para artistas primitivistas.

Mesmo se queixando por mais espaço, Manoel vive um bom momento na arte. Celebra a parceria com Malu da Cunha e começa o ano com boas perspectivas. Além de “Imaginário”, também está em cartaz até o dia 12 de março na “1ªExposição Naif no Centro-Oeste” (ENANCO), no Museu de Arte de Goiânia (MAG).

E planeja um futuro grandioso: seu sonho é seguir os passos do maior ídolo e grande pintor naif: Antônio Poteiro e viajar juntos com os quadros que pinta pelo mundo. Se depender de premiações, este projeto não será uma utopia. Manoel tem uma coleção delas, sendo a última em 2015, quando obteve o 1° Lugar–Categoria Arte Primitiva–Prêmio SESI Arte criatividade. Então, provavelmente seus sonhos estão perto de sair do imaginário.

De artista para artista

A mente fértil de Manoel Santos e a capacidade de fazer críticas agudas à sociedade, sem perder o humor, sempre foram os trunfos de sua caminhada. Na infância, queria ser esportista, jogador do Vila Nova. Mas, quis o mundo que ele logo se enturmasse com o artista plástico Ladir Martins de Figueiredo. “Sempre via ele pintando bóias frias e fui ficando encantado com a arte”, relembrou.

Tal amizade levou Manoel para um antes caminho impensável: foi ser modelo vivo na Faculdade de Artes Visuais da UFG. “Voltava para casa com corpo todo doendo de fazer poses”, disparou sorrindo. O fato é que a convivência com o meio artístico lhe proporcionou uma orientação acadêmica e, não demorou até que começasse a criar também.

Nas primeiras obra ganhou um caro conselho, vindo de ninguém menos do que do artista plástico, Cléber Gouvêa. “No começo pintava figura humana e animal. ‘Clebão’ logo me chamou e me deu uma bronca: ‘Mas você gosta de pintar gente ou bicho? Foque em um dos dois’. Voltei para casa magoado e pintei uma tela só com animais. No outro dia deixei na sala dele e saí, com medo. Ele mandou me chamar, me abraçou e disse: ‘faça uma pintura bastante limpa, pra não borrar”, relembrou Manoel, que a partir daquele momento sentiu que aquele era um papo de artista para artista.

Exposição Imaginário de Manoel Santos

Onde: Museu de Arte de Britânia (R. Otacílio de Castro, 307, Britânia - GO)

Visitação: até 30 de março de 2017

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