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CULTURA

De volta ao século XIX

Alguns artistas acabam ganhando o rótulo de reclusos e escondem sua vida pessoal para manter o foco apenas em seu trabalho. Takato Yamamoto é um deles. O artista nasceu em 1960, e produz imagens sombrias e pitorescas envolvendo sexo e morte. Ele define seu trabalho como “esteticismo Heisei”, o que não significa muito, tendo em vista que a denominação apenas remete ao Período Heisei, era atual do Japão que teve início em 1889, o que nos leva a traduzir tal denominação como esteticismo japonês contemporâneo. Por outro lado, o termo esteticismo faz referência ao movimento estético, que acredita na “arte pela arte”, com ênfase nas qualidades visuais da obra: no design além de seu valor prático, moral ou narrativo.

O período Heisei propõe um período de promoção da paz à sociedade japonesa. A resposta de Yamamoto a isso não é simplesmente estética, mas também se coloca diante de um movimento chamado arte decadente, que ganhou forma na França em meados do século XIX. O autor pioneiro desse movimento, Charles Boudelaire, define “decadência” como a preferência pelo que é bonito e exótico, uma redenção literal ao fantástico. Tal definição se encaixa muito bem ao trabalho de Yamamoto, segundo o site Dangerous Minds. Um olhar mais aproximado sobre sua obra revela que também existem outras influências, como a Art Noveau (uma dos precursores da Art déco), além do simbolismo (outro movimento literário que surgiu na frança, esse criado por poetas).

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Arte Decadente

Paul Gallagher, autor do artigo sobre Yamamoto no site Dangerous Minds, discorre sobre a forma com que Yamamoto combina os elementos presentes em sua obra, e traça um paralelo entre a obra do japonês e do gravurista belga Félicien Rops (1933-1898), cujo trabalho também apresenta veias eróticas e ocultistas. “A mistura entre sexo e terror fantástico de Yamamoto insinuam as gravuras de Félicien Rops (ligado ao movimento Arte Decadente). Enquanto o japonês cria imagens de morte em meio a abraços amorosos, Rops expõe sua visão do sexo como portador de potencial destrutivo–uma obsessão nascida de seu medo da sífilis, doença sexualmente transmissível muito comum na Europa durante os séculos XVIII e XIX.

O mesmo autor também aponta outros elementos presentes na Arte Decadente formam pontos de intersecção com a obra de Yamamoto. “Adicionando outros temas Decadentes como vampirismo, esventramento (tortura que consiste em abrir o ventre da vítima e remover seus órgãos internos), a preferência por jovens garotas escravizadas, e um toque delicado de homoerotismo expresso através de garotos andrógenos e com rostos graciosos, temos a lista completa de paralelos traçados entre Yamamoto e a arte do século XIX”. Vale lembrar que o esventramento é uma prática estreitamente relacionada ao passado feudal do Japão, e pode apresentar inúmeras interpretações ligadas à honra e ao poder de domínio. Samurais se matavam dessa forma para livrar sua alma da desonra.

Extremos

Sobre as influências do movimento Art Nouveau, que atingiu seu ápice entre as décadas de 1890 e 1920, Paul Gallagher cita artistas como exemplo os ilustradores Aubrey Beardsley e Harry Clarke. Ambos possuíam uma maneira minuciosa e grandiosa de se expressar. O irlandês Harry Clarke (1889-1931) apresentava nuances eróticas em ilustrações de livros de autores como Edgar Allan Poe e também obteve destaque no cenário artístico por trabalhos religiosos em vidro. O inglês Aubrey Beardsley (1872-1898) buscava referências na própria arte japonesa para desenvolver seu trabalho com tendências ao erótico-grotesco. Sua inspiração vinha principalmente das tradicionais xilogravuras japonesas e do estilo ukyio-e (conhecido vulgarmente como “estampa japonesa”).

O site Juxtapoz ressalta a placidez presente no trabalho de Yamamoto, mesmo ao lidar com temas que evocam sensações extremas. “A arte requintada de Takato Yamamoto explora temas ligados à escuridão, escravidão, metamorfose, amor e morte. A perspectiva é sempre calma e serena – nunca retratando violência – pelo contrário, soa iminente, parece estar acontecendo em tempo real, com movimentos recém finalizados”. A mágica de grande parte de suas ilustrações desenha-se ao redor de traços femininos. “O trabalho exuberante de Yamamoto, com suas composições perfeccionistas, retrata jovens mulheres asiáticas em momentos de serenidade, e ressalta-se através de uma narrativa minada de pontos obscuros”.

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