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Em novo clipe, Ana Cañas convida 86 mulheres a responderem contra a violência

A música aborda diretamente a questão da violência contra a mulher e ganhou um clipe, dirigido por Isadora Brant e João Wainer, que pode ser visto em seu canal no Youtube. O vídeo reúne mulheres que estão na linha de frente da militância e resistência de movimentos sociais, culturais e feministas.

Filmado em São Paulo e no Rio, durante quatro dias, o clipe, feito em retratos, mostra as histórias dessas mulheres e a relação de cada uma com a violência, abuso ou assédio que já sofreram.

Durante as gravações foi pedido para cada uma delas fechar os olhos e pensar em toda agressão e opressão que viveram ao longo de suas vidas e quando abrissem os olhos, devolvessem para a câmera uma resposta através do olhar. “Muitas emoções vieram à tona. Algumas gritaram, se rebelaram, outras choraram. É uma mistura de sentimentos, todos muito verdadeiros e presentes. Pude perceber que essa é uma dor que todas nós carregamos, não importando a classe social, a idade ou a cor da pele”, conta Ana.

A música, que flerta com a linguagem do rap, teve produção do duo Instituto, de Rica Amabis e Tejo Damasceno, que já trabalhou com Sabotage e Criolo, entre outros artistas. A capa do single também ganhou um toque artístico ao ser produzida por Mag Magrela.

Entre as mulheres que participam do clipe, estão nomes como Maria da Penha, Elza Soares, Eliane Dias, Dona Maria – presidente da Cooperativa de Reciclagem em São Paulo, Carmen Silva e Preta Ferreira – líderes da ocupação Cambridge, a cantora Karina Buhr, Preta Rara – rapper e criadora do blog “Eu, Empregada Doméstica”, as atrizes Júlia Lemmertz, Mariana Lima e Sophie Charlotte, a grafiteira Magrela, Dona Divina – residente e liderança na ocupação Mauá, a cacique indígena de 24 anos, Márcia, da aldeia Jaraguá, Jeckie Brown –atriz do grupo “Nós do Morro” no Vidigal (RJ) e muitas outras, todas mulheres ligadas à resistência feminista e aos movimentos sociais e culturais do país.

Escrevi a música a partir de uma dor pessoal, de uma história real que vivi. Sou vítima de assédio sexual e acredito que o debate, o diálogo e a troca de experiências similares jogam luz a uma questão urgente, de violência e opressão”, explica Ana. “A ideia do clipe é quebrar o silêncio em torno dessa dor profunda e devastadora que carregamos e dar voz a todas as mulheres que se sintam oprimidas, machucadas ou agredidas, convidando-as a responder a isso, dando um basta a essa situação de forma direta”.

“Ao longo da minha vida, perdi a conta de quantos assédios enfrentei.

Aprendi muito cedo a conviver com uma dor insuportável causada por um gesto ou ato de violência que é considerado ‘normal’ e aceito por grande parte da sociedade – incluindo mulheres.

Durante anos, permaneci calada.

E por muitas vezes, me senti fraca.

Quando quis gritar, senti minha voz trêmula e o corpo teve medo.

A alma sangrou inúmeras vezes.

Pois nós temos sim, direito ao respeito, à consciência, à denúncia, à dignidade.

Isso é o mínimo, na real.

É primeira instância e condição básica da existência.

Pois eu não vou fingir mais que isso não me fere, que não me destrói.

Eu NÃO vou mais me calar.

Por todas nós, mulheres feridas, vítimas.

Por todo silêncio, toda a dor.

Esse é um momento de resistência.

Um momento da nossa voz voar mais alto.

Juntas, somos mais.

Juntas, somos a mudança.

Não há como ser mulher e não ser forte.

Num mundo opressivo, misógino, machista, numa cultural essencialmente patriarcal, nós aprendemos a sobreviver.

Mas, mais que isso, queremos viver.

Com a igualdade na alma, entranhada na vida.

Com a beleza do respeito e da fraternal convivência.

Com a liberdade como substância diária.

Essa luta é sua, é minha, é de todo ser humano. Independe do gênero.

Por uma cultura que preze a diferença como a sua maior riqueza.

Por um dia, por um 'todo dia', sem a dor da violência que nos dilacera e afasta da luz e da paz na jornada dos corpos e das almas.”

(Ana Cañas)

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