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"Foram os Sussurros que me Matam" problematiza exposição midiática

Mel Lisboa interpreta uma celebridade que está prestes a entrar num reality show. Atriz diz que longa traz temas contemporâneos

Ingrid Savoy, papel da atriz Mel Lisboa, se vê diante da iminência de um escândalo - Foto: Isabella Lanave/ Divulgação Ingrid Savoy, papel da atriz Mel Lisboa, se vê diante da iminência de um escândalo - Foto: Isabella Lanave/ Divulgação

Mel Lisboa se esmera em construir a história do audiovisual brasileiro. Viveu a militante à esquerda Cristina em “Sonhos e Desejos”, do diretor Marcelo Santiago, e venceu em 2006 – com essa personagem – o prêmio de melhor atriz no Festival de Gramado. Luta armada (passava-se na ditadura) se mistura às loucuras apaixonadas de um triângulo amoroso.

Entre 2014 e 2016, Mel viria a se estabelecer no teatro após elogiada atuação no musical “Rita Lee Mora ao Lado”. Tamanho sucesso de público lhe valeu certa vez uma visita inesperada: Rita Lee. Conforme escreveu a rainha na sua “Autobiografia”, a atriz era “gostosa” e, ademais, interpretou “Rita Lee melhor do que ela mesma, só que bem mais bonita”.

É preciso que se diga o óbvio: nem sempre foi fácil. Ou nem sempre é. Raras são as ocasiões nas quais um ator não corre riscos. Riscos, inclusive, de natureza financeira. Depois, corre-se risco de sumir o trampo e, como se não bastasse, plantam-se pontos de interrogação na cabeça devido às questões existenciais. Cisma-se até que o correto seria abandonar a carreira.

Em algum momento da década passada, Mel havia perdido as contas de quantas vezes entendeu ser necessário deixar pra lá essa coisa de atuação, de ser atriz, de viver outras vidas. Só que apareceu, então, a chance de virar Rita naquele musical-fenômeno. Irrecusável, claro. Logo depois, chamaram-lhe para se tornar a jornalista Thereza na série “Coisa Mais Linda” – personagem que elucidou o machismo nas redações pretéritas. Inegável, óbvio.

Agora, aos 42 anos, a atriz gaúcha entra em cartaz no Cine Cultura com o filme “Foram os Sussurros que me Mataram”. Dirigido pelo cineasta e artista visual Arthur Tuoto, o longa-metragem narra a história de Ingrid Savoy, uma celebridade que está às vias de adentrar num reality show. Ela está confinada num quarto de hotel, como fazem os famosos e anônimos antes de entrarem nesses programas, e pra lá das janelas a cidade pega fogo.

São os anarquistas protestando pela metrópole de forma autogestionária. Além das ações diretas a serviço da revolução, Ingrid começa a ter visões premonitórias. Paparazzis a atacam, e ela percebe algo capaz de destruí-la: a iminência de um escândalo midiático. Essa premissa contribuiu para que o filme fosse bem-recebido pela crítica e pelo público no Festival de Tiradentes, realizado no último mês de janeiro, na histórica cidade mineira.


		"Foram os Sussurros que me Matam" problematiza exposição midiática
Mel afirma que o longa traz temas como violência provocada pela exposição dos reality shows. Foto: Giovanna Heroso/ Divulgação

Mel afirma que o longa traz temas como violência provocada pela exposição dos reality shows e a superficialidade em tempos de redes sociais. “Assistir a um filme na primeira semana de estreia é uma forma muito eficaz de apoiar o cinema nacional, pois ajuda o filme a ficar mais tempo em cartaz e chegar a mais pessoas”, pontua a atriz, no Instagram.

Encenação

Para o cineasta, o filme se debruça numa tradição de encenação e palavra. É um recurso dramático que tira do dispositivo essencial da cena suas possibilidades cinematográficas. Daí o diálogo ser o principal elemento da história. “A principal característica da obra, nesse sentido, é o seu tom anti-naturalista”, explica Arthur, em material de divulgação.

O diretor partiu das referências cênicas para o cinema construídas por Júlio Bressane, expoente do cinema marginal brasileiro, nos anos 70. Não há realismo na dinâmica da cena em “Foram os Sussurros que me Mataram”. Ao contrário, o filme busca um jogo que Arthur nomeia como “irreverente, uma entonação empossada que revele uma ambiguidade”.


		"Foram os Sussurros que me Matam" problematiza exposição midiática
Personagem não cai em representação clichê de celebridade. Foto: Giovanna Heroso/ Divulgação

“Estamos entre o patético e o solene, o melodrama e o humor. Os personagens acreditam piamente no que dizem, mas existe lógica do absurdo que integra todos os seus entornos. A partir desse tom dúbio, o filme vislumbra uma série de reflexões que vão desde a lógica do entretenimento no mundo contemporâneo à relação entre espectador e produto”, afirma.

Ingrid, a protagonista interpretada por Mel Lisboa, não cai na mera representação de uma celebridade. Ele carrega consigo, sim, uma força espetacularizada. Na visão do cineasta, por mais que exista ali tal tipificação, sobretudo em certas “excentricidades habituais caricatas”, a personagem precisa ser situada além de uma simples condição clichê da pessoa famosa.

FORAM OS SUSSURROS QUEM ME MATARAM

Duração: 75 minutos

Direção: Arthur Tuoto

Classificação: 14 anos

Onde: Cine Cultura

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