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Paul McCartney coloca multidão a seus pés em Brasília

Artista começa show, no Mané Garrincha, de maneira morna com músicas de seus últimos trabalhos e faz temperatura subir ao enfileirar hits dos Beatles e Wings

Banda: Paul (centro) é acompanhado por Paul "Wix" Wickens (teclados, ao fundo), Brian Ray (baixo/guitarra, à direita), Rusty Anderson (guitarra, à esquerda) e Abe Laboriel Jr (bateria, ao fundo - Foto: Marcos Hermes/ Divulgação Banda: Paul (centro) é acompanhado por Paul "Wix" Wickens (teclados, ao fundo), Brian Ray (baixo/guitarra, à direita), Rusty Anderson (guitarra, à esquerda) e Abe Laboriel Jr (bateria, ao fundo - Foto: Marcos Hermes/ Divulgação

Há uma canção dos Beatles pra cada momento da vida, se for pensar bem. Foi a conclusão a que consegui chegar enquanto ouvia os primeiros acordes e versos de “Something”, nesta quinta-feira, 30, no Mané Garrincha, em Brasília. Me perdoem: derramei lágrimas apaixonadas quando o beatle tocou a canção escrita por George Harrison, no disco “Abbey Road”, de 69. Ali joguei as mãos pro céu e, de olhos fechados e movimentando a cabeça, senti a guitarra, o baixo e a bateria regerem meu coração na sinfonia cardíaca.

Eu estava na pista entre beatlemaníacos vestindo camisetas da lendária banda britânica. Uns exibiam estampas com a capa do elepê “Revolver”. Já outros, mais discretos, trajavam aquela clássica preta com a tipografia inconfundível dizendo “The Beatles”. A música dinamitou qualquer receio que pudesse ter sobre a idade avançada da lenda e os impactos disso em sua performance ao vivo. Quanta bobagem! Paul é mestre, se exibe como tal, desfila suas composições sensacionais como quem se junta aos amigos para papear numa sexta à noite.

De blazer preto, calça da mesma cor e camisa azul clara, Paul apareceu no palco às 20h48. Quebrou a pontualidade inglesa em meros 18 minutos. “Boa noite, véi”, saudou o músico, para delírio das 55 mil pessoas presentes no estádio. Sem papinho, abriu o primeiro concerto da turnê “Got Back” em solo brasileiro com o hit “Can´t Buy Me Love”, gravado em “A Hard Day´s Night”, lançado em 64. É símbolo irrefutável da febre mundial que se tornou a beatlemania. Depois, uma sequência de músicas jogou a temperatura lá embaixo.


		Paul McCartney coloca multidão a seus pés em Brasília
Fãs: público foi à loucura durante concerto. Foto: Marcos Hermes/ Divulgação

Se “Junior Farm”, “Letting Go” e “She´s a Woman” esfriaram o público na arena, Paul arrancou gritos histéricos em nós assim que a banda puxou “Got To Get You Into My Life”, uma das mais interessantes do repertório gravada em “Revolver”, de 66. Mas voltou a privilegiar as canções mais recentes com “Come On To Me”. Uau, bela música! Guitarra esperta, vibrante, pulsante. Você começa a balançar a ponta dos pés no chão. E esse baixão furioso aqui, hein? Vai martelando orgasmos sonoros, costurando sonhos excitantes… Caso seja maluco pela distorção guitarrística, como este que vos tecla, arrisca-se até a desenhar acordes ao vento.

Sempre preferi um concerto de rock a uma cacofonia qualquer. O pulso rítmico coagula o sangue em “Let Me Roll It”, pérola residente de “Band On The Run”, o melhor disco dos Wings. Yes, cara, deixe-me rolar! Paul abraça a liberdade. Liberdade que lhe foi perdida após ter sido pego com drogas, nos anos 70. Isso o reforçou a ser percebido como um incorrigível fora-da-lei. Podemos dizer, sem medo de tecer loas, que Paul McCartney estava de saco cheio dos Beatles. Percebe-se tal rearranjo na sonoridade experimental da faixa que nomeia o elepê mais famoso desse período: cinco viradas rítmicas. Não faz feio pra Pink Floyd algum.

Fui à loucura três ou quatro vezes, ao menos. A primeira delas, ainda no começo da apresentação, encontrou alimento no riff wah-wah de “Foxy Lady”, hino da guitarra hendrixiana. Paul, gentleman, prestou reverência ao deus do blues-rock. As demais ocasiões nas quais me despiroquei total foram na comovente “Something”. Começou tranquila, um bandolim soando calmo, aí o guitarrista Rusty Anderson extraiu notas da alma no solo sentimental criado por Harrison, “meu irmão”, nas palavras proferidas pelo dono da festa.

Na infância beatlamaníaco, depois fã de Hendrix e fanático por Jeff Beck, Rusty desfilou pelo braço de suas Telecaster, Stratocaster e Les Paul uma sensibilidade alimentada por enorme competência melódica. Já toca com Paul há 22 anos. Não é só o guitarrista principal do grupo que acompanha o ex-beatle mundo afora, mas também o instrumentista que gravou todos os álbuns do lendário músico britânico neste milênio, com exceção de “Kisses on the Bottom”, de alma jazzística e de poesia apaixonada. Caso você nunca tenha se perguntado, o relacionamento criativo de Paul com John durou 14 anos. Wings foi pouco além de uma década.


		Paul McCartney coloca multidão a seus pés em Brasília
Emocionante: beatle encantou plateia com poderoso repertório. Foto: Marcos Hermes/ Divulgação

Das suas mãos, velozes e precisas, Rusty extrai um timbre bonito e a partir do qual a gente se arrepia na plateia. Esse som se junta com a base rítmica comandada por Brian Ray, músico que carrega no pulso a batida consagrada pelo rock de Elvis Presley e Little Richard. Nos palcos, ele acompanhou Keith Richards e Santana, Joe Cocker e Bonnie Raitt, além de John Lee Hooker e Bo Diddley, nomes alçados ao posto de clássicos do blues. Brian fica, durante o show inteiro, entre a guitarra e o baixo. Quando troca olhar com Rusty, prepare-se: é magia!

A cada frase dita na guitarra, o público batia palma e estendia as mãos pra cima, como se a música feita no palco simbolizasse um ritual. Me corrijo: era um ritual. Um ritual beatlemaníaco e nós, espalhados pela pista, pista premium, cadeira e cadeira superior, éramos seus fiéis nesse templo roqueiro localizado na Asa Norte de Brasília. A música de Paul ainda encontrava tempero nas teclas de múltiplos timbres que Paul “Wix” Wickens percorreu ao longo da noite. Com baquetas à mão e bumbo aos pés, o carismático Abe Laboriel Jr (bateria) ditava lá de trás o compasso para Sir James Paul McCartney, que o seguia com a classe comum a uma realeza do rock.

Impossível dar errado. Em duas horas e meia, os ex-colegas de Beatles receberam homenagens, exceto Starr, mas nenhuma levou as 55 mil pessoas a se emocionarem tanto quando Paul se referiu a Lennon como “meu irmão”. Isso aconteceu mais perto do final, em “I´ve Got a Felling”, com a voz do parceiro isolada. Foi extraída do último show que a banda britânica fez, em 1969, no telhado da gravadora Apple Records. Dois beatles, dois gênios, dois mestres! O mundo seria um lugar terrível se a música deles não tivesse nos tirado do marasmo medíocre, das guerras de consciência e da caretice de nossos pais.


		Paul McCartney coloca multidão a seus pés em Brasília
Paul (ao centro), Paul “Wix” Wickens e Abe Laboriel Jr: músicos proporcionaram noite perfeita, no Mané Garrincha. Foto: Marcos Hermes/ Divulgação

Mas antes, quando Paul se livrou do blazer, arregaçou as mangas e ficou mais à vontade, notamos que lhe sobra técnica. Ok, a voz já não é a mesma de outrora. Também, pudera: estamos falando de um cara que já passou dos 80 anos! Foi bom assisti-lo enérgico na já mencionada “Let Me Roll It”. O baterista Abe Laboriel, um dos melhores do mundo, caprichou na dancinha durante “Dance Tonight” e esticou o tapete musical para Paul desfilar cantando “Blackbird”. Só deu pra identificar isso aqui vindo da plateia: gritos, gritos e gritos. Difícil haver outro tipo de reação.

Já me encontrava esbaforido, língua pra fora, fibrilando felicidade roqueira. E Paul, sacana como só ele é, tratou ainda de enfileirar "Getting Better”, “Nineteen Hundred and Eighty-Five”, “Maybe I’m Amazed” e “Here Today”. Essa última dedicada a Lennon, aliás. Manjado no setlist de “Got Back”, a primeira parte inicia e finaliza com canções de “Abbey Road”, último disco que Ringo, Paul, John e George gravaram juntos e o penúltimo da discografia dos Beatles. É arrebatador escutar “You Never Give Me Your Money” e “She Came in Through the Bathroom Window”, mesmo parecendo que uma parte do público sequer as conheciam.

Paul se prende ao repertório: pouca improvisação dos músicos e transição entre músicas bem encaixada, solos precisos e linhas de baixo sacolejantes. O melhor, além dos clássicos e composições da fase psicodélica dos Beatles, foi assistir ao músico demonstrar sua versatilidade, tocando o indefectível baixo Höfner e o belo piano (“Let It Be”, “Hey Jude” e “My Valentine”), além do violão e da guitarra (destaque para "Sgt Pepper reprise/Helter Skelter"). Fiquei em êxtase, energia nas alturas, como se estivesse ligado àquele amplificador Vox em que os músicos plugaram seus instrumentos na última quinta, 30. Inesquecível.

Veja qual foi o setlist:

Set List

Can’t Buy Me Love

Juniors Farm

Letting Go

She’s A Woman

Got To Get You Into My Life

Come On To Me

Let Me Roll It

Getting Better

Let Em In

My Valentine

1985

Maybe I’m Amazed

I’ve Just Seen A Face

In Spite Of All The Danger

Love Me Do

Dance Tonight

Blackbird

Here Today

New

Lady Madonna

Fuh You

College/Bathroom

Jet

Mr Kite

Something

Obla Di Obla Da

Band on the Run

Get Back

Let It Be

Live and Let Die

Hey Jude


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Passeio pela carreira: Paul apresentou canções marcantes dos tempos de Beatles e Wings. Foto: Marcos Hermes/ Divulgação

Próximos shows:

03/12 - Belo Horizonte, MG - Arena MRV – Esgotado

04/12 – Belo Horizonte, MG – Arena MRV – Últimos ingressos

07/12 – São Paulo, SP - Allianz Parque - Esgotado

09/12 - São Paulo, SP - Allianz Parque - Esgotado

10/12 - São Paulo, SP - Allianz Parque - Esgotado

13/12 - Curitiba, PR - Estádio Couto Pereira - Esgotado

16/12 - Rio de Janeiro, RJ – Maracanã - Esgotado

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