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ECONOMIA

Humanidade está devorando o Cerrado

Kiyoaki Kagueyama,Especial para Diário da Manhã

Durante muito tempo, o Cerrado foi desprezado como se não passasse de um imenso terreno baldio salpicado de árvores retorcidas, não despertava atenção como área potencial de desenvolvimento econômico, muito menos como um ecossistema digno de preocupações preservacionistas. Porém, em apenas três décadas, este cenário mudou completamente. Na década de 70, cientistas brasileiros criaram técnicas de correção do solo ácido e introduziram novas espécies de gramíneas para alimentar o gado e estas duas iniciativas desencadearam uma revolução na região, transformando o “patinho feio” na “gansa dos ovos de ouro” do Brasil.

Hoje, 42% da soja, 32% do milho e 40% do rebanho bovino nacionais saem no Cerrado, além do setor sucroalcooleiro, que é uma das atividades que mais cresce por aqui. Essa expansão  provocou degradação ambiental e, por tabela, colocou o Cerrado na pauta das inquietações dos ecologistas. O desenvolvimento econômico, afinal, está matando o Cerrado? O primeiro estudo sobre a degradação da região, que acaba de ficar pronto, traça respostas. Feito a partir de fotos de satélites, o trabalho do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) revela que, da área original de Cerrado, correspondente a 22% do território nacional ou a soma de dez países europeus, apenas um terço permanece intacto.

Outra terça parte foi degradada por pequenos agricultores ou cortada por estradas, os restantes 30% estão irremediavelmente perdidos, cobertos por cidades ou plantações. Para se ter ideia do tamanho da área de Cerrado comprometida pelo agronegócio, basta dizer que as lavouras de soja, milho, cana-de-açúcar e pastagens para abrigar o gado bovino ocupam, dentro do Cerrado, uma área equivalente a de todos os Estados da região Sudeste (São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo) mais o Estado do Rio Grande do Norte.

Proteção

Se considerarmos que o Cerrado é o berço das águas no País,  responsável pela manutenção dos aquíferos subterrâneos funcionando como uma imensa zona de captação hídrica, podemos concluir que é necessário protege-lo urgentemente, pois a falta de água potável é um problema que passou a atingir comunidades que há bem pouco tempo jamais haviam enfrentado a seca, como pode ser ver recentemente em São Paulo.

Hoje, pouco mais de 1% do Cerrado está protegido. Faltam parques e unidades de conservação – Embora a totalidade da biodiversidade da região ainda esteja longe de ser conhecida, ninguém duvida que a destruição do Cerrado é uma desgraça que precisa ser evitada.

O importante para que os bichos, plantas e mananciais sobrevivam não é frear o avanço econômico, mas manter virgens áreas representativas da diversidade vegetal e animal, com a criação de parques e reservas. Isso, no entanto, está longe de acontecer. Apenas 1,5% do Cerrado está protegido. É pouco em relação à média do território nacional, que tem 2,6% da área preservada, e menos ainda em comparação com a Amazônia, com 3,8%. Novos parques, aliados ao cumprimento do atual código florestal, preservariam a vida selvagem do Cerrado.

Mas o problema do Cerrado não se resume apenas ao reduzido número de áreas de conservação ou à caça ilegal, que já seriam questões suficientes para preocupação. O problema maior tem raízes nas políticas agrícola e de mineração impróprias e no crescimento da população. Historicamente, a expansão agropastoril e o extrativismo mineral têm se caracterizado por um modelo predatório. A ocupação da região é desejável, mas desde que aconteça racionalmente.

Responsabilidade Social

Preocupados com este grave problema, algumas empresas estão empenhadas em buscar alternativas sustentáveis que minimizem os impactos de sua atividade sobre o bioma, mesmo que inicialmente os investimentos necessários sejam altos. Estes empresários entendem que algo precisa ser feito e deram o pontapé inicial para a mudança no jogo.

O grupo empresarial Jalles Machado S.A. localizado em Goianésia-GO, é uma empresa do setor sucroalcooleiro, que está investindo pesado na sustentabilidade e serve de “modelo ecologicamente correto”, segundo o relações públicas da ONG Guerreiros da Natureza, A. C. Volpone. Dentre as ações, podemos destacar a substituição da queima da palhada pela colheita mecanizada da cana, o investimento na geração de energia elétrica com o aproveitamento do vapor residual do processo de produção, o plantio de seringueiras nas áreas de recuperação e a reintrodução de espécies como a ema na região.

Outro bom exemplo foi a criação da APA do Encantado, na região do alto Araguaia, onde além da recuperação da flora, com o plantio de mais de 2 milhões de sementes nativas, ocorre a reintrodução de espécies da fauna, que é protegida pelo proprietário da área.

Empresas como a Aducat, especializada em reaproveitar micronutrientes de resíduos industriais, estão reduzindo a demanda por alguns minerais, impactando diretamente em uma das grandes vilãs que agridem o Cerrado, a mineração.

“Estamos fazendo um trabalho de formiguinhas, cada um fazendo uma pequena parcela de um grande trabalho, se continuarmos assim, tenho a esperança que conseguiremos atingir nosso objetivo e salvar o que resta do cerrado. Protegendo, desta forma, não só fauna e flora, mas também, os nossos recursos hídricos tão essenciais para sobrevivência quanto a produção de alimentos que está dizimando o bioma”, comenta o gestor ambiental, Álvaro Barbosa (Aducat).

Para A. C. Volpone, “Otavinho Lage, Álvaro da Aducat, Batista Custódio, João Paulo e vários outros parceiros são muito mais que empresários, são anjos da guarda do meio ambiente, o que já fizeram e continuam fazendo pela preservação é formidável. Se depender da ação destas pessoas, com certeza a humanidade vai para de devorar o Cerrado.

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