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ECONOMIA

Tecnologia limpa é a bola da vez

O produtor de trigo nos campos do Cerrado tem adotado avançados sistemas de cultivo. A bola da vez agora é a tecnologia limpa. Através desta característica é possível diminuir os custos de produção e minimizar impactos ao ambiente através da redução na utilização de água e energia elétrica, o que tem tornado esse produto uma "tecnologia limpa". Seu ciclo curto pode permitir ainda que o produtor agregue mais culturas à sua lavoura irrigada, melhorando o sistema de produção da região.

A cultivar deve ser plantada cedo, pois não tolera chuva na colheita. Rendimentos de sete mil quilos por hectare, considerada a cultivar mais produtiva indicada para a região do Planalto Central. Estes dados e os demais constantes da série Trigo Irrigado constam de trabalho inédito da equipe de pesquisadores da Embrapa Trigo, sediada no Rio Grande do Sul, e publicados em primeira mão pelo Diário da Manhã.

A variedade BRS 404 (Embrapa) constitui alternativa para o cultivo de sequeiro nos Estados de Goiás, Minas Gerais e no Distrito Federal. Ciclo precoce, com 120 dias até a maturação. É destinado à classe comercial pão, com estabilidade na produção de farinha. Primeira cultivar a apresentar maior tolerância à brusone com indicação de moderamente suscetível à doença. A BRS 394 (Embrapa), após quatro anos de avaliação em regiões produtoras de trigo irrigado, a cultivar foi indicada para cultivo naqueles Estados. Ciclo precoce, classe comercial melhorador e boa resistência à debulha. No período 2010 a 2013, o rendimento médio superou 7,5 toneladas por hectare.

Doenças

A brusone é a principal doença do trigo de expressão econômica no Cerrado, principalmente nos cultivos em sistema irrigado. A fase de espigamento do trigo caracteriza-se como sendo a de maior sensibilidade da planta, já que infecção da espiga é a forma mais destrutiva da doença, quando o fungo ataca a ráquis, impedindo o enchimento dos grãos e secando as espigas rapidamente. Os danos podem resultar em perda total da lavoura se o espigamento do trigo coincidir com condições climáticas favoráveis ao fungo, como temperaturas entre 24 e 28ºC e um período de molhamento da espiga de 16 a 24 horas.

Em busca de soluções que amenizem o problema, a Embrapa está desenvolvendo três projetos de pesquisa visando cultivares mais resistentes à brusone. Anualmente são avaliados cerca de 200 genótipos de trigo, além da seleção de fungicidas mais eficientes, hospedeiros alternativos, épocas e locais de cultivo com maior incidência, variáveis climáticas, estudos sobre o fungo, ocorrência e severidade.

Estação de Triticultura Tropical da Embrapa desenvolve espécies adaptadas ao nosso clima

Para atender à demanda de cultivo de trigo no Cerrado, a Embrapa desenvolve, desde a década de 1980, um programa de melhoramento voltado à adaptação do cereal ao clima tropical, já que o cultivo historicamente acontece em temperaturas amenas no inverno sul-brasileiro.

Em 2010, a diretoria da Embrapa aprovou o projeto de expansão da pesquisa com trigo no Brasil Central, apresentado pela Embrapa Trigo com o apoio do setor produtivo. Dentro do programa de triticultura no Cerrado está em execução a instalação de uma estação experimental, em Uberaba (MG) com equipe de pesquisadores e técnicos para atuar como suporte às ações de pesquisa e de transferência na região.

Para a criação do Núcleo Avançado de Pesquisa de Trigo Tropical estão previstos investimentos de R$ 2,5 milhões na construção de prédios, laboratórios e preparo da área de campo para a instalação de experimentos que terão como local a Fazenda Itiguapira, a 30 km de Uberaba. Até a conclusão das obras, a equipe de pesquisa está instalada na Estação Experimental Getúlio Vargas, unidade da Epamig em Uberaba. Os experimentos a campo estão sendo conduzidos no campus do Instituto Federal do Triângulo Mineiro e áreas cedidas pelos produtores da região, além de outras unidades da Embrapa localizadas no Cerrado.

Núcleo Avançado de Trigo Tropical

Evolução das pesquisas e tecnologias de trigo na região quente e seca do Brasil Central. Os primeiros registros de cultivo de trigo em Minas Gerais datam do início do século passado, com experimentos de cultivo realizados na Fazenda de Monte Alto, no Triângulo Mineiro, entre os anos de 1928 e 1930.

O cereal foi objeto de campanha na década de 40, quando foi criada a Estação Experimental de Patos de Minas (filiada ao Instituto Agronômico do Oeste, hoje patrimônio da Epamig, que resultou na criação de cultivares adaptadas ao Estado, como a cultivar BH 1146, com melhor tolerância ao calor, à seca e ao alumínio do solo).

Após, seguiram-se fases de crescimento e decadência da cultura, sobrevivendo apenas ao entusiasmo de alguns pesquisadores, como os da Epamig, que desde 1975 desenvolve pesquisas de melhoramento genético do trigo para o cultivo de sequeiro, em parceria com a Embrapa. Nas últimas três décadas, o trabalho da Epamig foi responsável pela recomendação de mais de um.

Em 1965, o Instituto Agronômico do Oeste foi transformado em Instituto de Pesquisa e Experimentação Agropecuária do Centro-Oeste (Ipeaco) e, com a criação da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), deu origem ao Centro Nacional de Pesquisa de Milho e Sorgo (Embrapa Milho e Sorgo) em 1976.

A partir dos anos 80, o trigo sofreu a concorrência de culturas mais rentáveis e a falta de tradição de cultivo pelos produtores. A Cooperativa Agropecuária do Alto Paranaíba (Coopadap) sobreviveu aos altos e baixos da cultura e continua sendo uma referência da triticultura mineira.

Os esforços de melhoramento resultaram no lançamento de novos materiais nas décadas de 1990 (Embrapa 22, Embrapa 41, Embrapa 42 e Aliança) e de 2000 (BRS 207, BRS 254, BRS 264, MSG 3 - Brilhante, UFVT 1 - Pioneiro, CD 105, CD 108, CD 11, D 116, CD 117, CD 118, CD 150, CD 151 e CD 154). Nos anos 2000, destacam-se a definição do zoneamento e sua publicação para fins de seguro agrícola e o método de cálculo de lâmina para irrigação. Em 2002, foram publicadas portarias que estendiam o zoneamento para o cultivo de trigo nos estados de Minas Gerais, São Paulo, Goiás e Distrito Federal.

Duas novas cultivares

Em 2015, o lançamento de duas novas cultivares (BRS 404 e BRS 394) com foco em maiores produtividades – acima de sete mil quilos por hectare no irrigado – e melhor tolerância a doenças, especialmente no sistema de sequeiro. Minas Gerais cultiva atualmente uma área em torno de três milhões de hectares de grãos, sendo 90% ocupada pelo milho e pela soja. Por ser uma gramínea, o trigo entra no sistema de produção da região para quebrar o ciclo de doenças de algumas leguminosas, principalmente os fungos de solo.

As opções para cultivo na época de "safrinha" são milho, sorgo, girassol e trigo. Enquanto milho e sorgo já ocupam 250 mil ha, o trigo ainda não atinge 70 mil hectares. A área potencial para a produção de trigo é estimada em 120 mil hectares, somadas a produção irrigada (85 mil ha) e de sequeiro (42 mil 26 ha). As regiões mais favoráveis ao cultivo são Noroeste, Sul, Alto Paranaíba e Triângulo Mineiro. O cultivo de trigo em Minas Gerais está estabelecido em regiões de clima mais ameno com altitude acima de acima de 500 metros, para cultivo irrigado, e de 800 metros, para cultivo de sequeiro. Em sistemas irrigados, o cereal apresenta potencial de rendimento acima de 7.000 quilos por hectare com cultivares bem adaptadas à região.

Em sistemas de sequeiro, novas cultivares disponíveis têm apresentado rendimentos de até 4.000 quilos por hectare. Comparativamente às demais regiões produtoras do País, o clima quente e seco da região potencializa a obtenção de qualidade tecnológica, especialmente, direcionada à panificação. (W.S.)

O QUE SE GANHA COM O TRIGO

Segundo dados do IBGE, Minas Gerais possui 55 estabelecimentos agropecuários com registro de cultivo de trigo, sendo que 72,7% das unidades registraram cultivo de trigo sob a irrigação e 58,8% da área foi semeada com uso de semente certificada. A área média de cultivo de trigo por propriedade era de 170,9 hectares por estabelecimento e 54,9% da área de cultivo localizavam-se em propriedades com área total maior que 2.500 hectares. Os rendimentos médios de cultivos em sistema de irrigação (4.160 quilos por hectare) eram 70% superiores as áreas sob o sequeiro 2.447 quilos por hectare.

A grande totalidade da produção (97,8% da quantidade produzida) foi vendida, sendo que 44,5% foram vendidas diretamente para a indústria; 29% comercializada ou entregue a cooperativa; 13,8% vendida diretamente a intermediários e 10,9% entregue a empresas integradoras.

Atualmente, são cultivados 67 mil hectares de trigo, com uma produção anual de 218 milhões de toneladas, o que atende cerca de 20% do consumo em Minas (Seapa MG, 2015). Somente o complexo industrial (moagem e produção de derivados de trigo) demanda mais de 1.078,2 mil toneladas/ano, sem considerar a reserva de sementes e ração animal (Demori, 2013).

Segundo os dados da Abitrigo, o Estado conta com quatro moinhos em atividade que foram responsáveis pela moagem de 395,373 toneladas de trigo, 3,53% da moagem no País Em 2011, as importações de produtos do agronegócio no estado somaram US$ 383,77 milhões, sendo as compras externas lideradas pelo trigo, que representou 39% do valor importado pelo segmento em Minas Gerais. Em 2012, as importações de trigo grão e farinha de trigo totalizaram US$ 192,11 milhões.

De qualquer forma, a produção mineira tem crescido ao longo dos anos. No período de 2008-2012, as taxas médias de crescimento de área e de produção foram de 17,3% aa e 15,5% aa, respectivamente. Em 2011, foi criado pelo governo de Minas, através da Secretaria Estadual de Agricultura, o Programa de Desenvolvimento da Competitividade da Cadeia Produtiva do Trigo em Minas Gerais (Comtrigo), com o propósito de coordenar a organização da cadeia produtiva visando à competitividade do trigo mineiro, formando um novo polo de produção do cereal no Brasil. Entre as metas do programa estão: atender 50% da demanda do Estado no período de cinco anos; aumentar a área de 23 para 100 mil hectares; elevar a utilização da capacidade dos moinhos de 60 para 90%.

Redução do ICMS

A redução do ICMS sobre farinhas e derivados do trigo já foi conquistada pela cadeia produtiva a partir do programa. A atuação do poder executivo no Estado também acontece através da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), identificando necessidades e oportunidades na produção, e da Emater/MG, responsável pela capacitação e acompanhamento dos produtores que adotam a cultura do trigo.

Na representação dos produtores, foi criada a Associação dos Triticultores do Estado de Minas Gerais (Atriemg), em parceria com o programa Comtrigo, com a finalidade de desenvolver a cultura no Estado. No início, em 2005, a entidade começou com 12 produtores e hoje agrega todos os produtores mineiros dedicados ao cultivo do trigo. Em 2011, foi criado um fundo destinado a apoiar a Atriemg, onde toda a venda realizada dentro de Minas Gerais retém um percentual do comprador e o mesmo valor do produtor.

A sede da associação é itinerante, identificada pela residência do presidente em exercício, mas com representantes da diretoria em todo o Estado. A partir da organização da cadeia produtiva, unindo indústria, governo e produtores, a produção do estado passou de 25 mil toneladas (2005) para 120 mil toneladas em 2012.

A redução do ICMS sobre o trigo teve como objetivo ampliar o acesso da produção mineira aos mercados do Sudeste, assim, o tributo foi zerado sobre qualquer movimentação de trigo, 2 Informações pessoais do vice-presidente da Atriemg 2013, Eduardo Elias Abrahin. 29 farinhas e derivados, valor que antes era de 2% para os produtos vindos de SP e de 12% para saída de trigo de MG.

A mesorregião de Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba registrou o maior crescimento de área passando de 1,86 mil hectares, em 1999, para 15,1 mil hectares, em 2009, taxa de crescimento médio anual de 30,5% aa no período. (W.S)

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