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Pecuária: O peso econômico do cavalo

Discorrendo sobre a importância econômica da equideocultura, mesmo em tempos de desafios sanitários, necessidade urgente de organização da cadeia produtiva e crise econômica generalizada, o professor da Universidade de São Paulo (USP) Roberto Arruda esteve com produtores, estudantes e representantes do setor ontem (19). Ele foi responsável por ministrar a palestra de abertura do 1º Seminário de Equideocultura realizado pela Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg). Nesta empreitada, a entidade contou com o apoio do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural em Goiás (Senar Goiás) e do Instituto Inovar. Arruda fez questão de destacar a importância de o produtor entender, de fato, o funcionamento da cadeia produtiva da atividade.

Dando as boas-vindas aos presentes, o presidente da Faeg, José Mário Schreiner, falou sobre a representatividade econômica, cultural e social da equideocultura e do tratamento especial que a entidade vem dando à atividade. "A criação da Comissão de Equideocultura foi um passo grande em direção à organização do setor, pois nela acompanham-se, de perto, os debates da atividade, além de conscientizar os produtores da necessidade de mobilizar a classe". Schreiner, que também é vice-presidente diretor da Confederação Nacional da Agricultura (CNA) e precisou participar do evento via videoconferência, destacou os cursos e treinamentos na área da equideocultura oferecidos pelo Senar Goiás, além do Programa Equoterapia, que integra a grade da entidade desde 2011.

Agronegócio do cavalo

Durante sua palestra, Roberto Arruda apresentou o complexo do agronegócio do cavalo, destacando que é necessário acabar com a ideia de que o agronegócio é feito apenas de pecuária e agricultura. "Também é preciso entender que a equideocultura pode ser dividida em duas partes: a atividade voltada para o trabalho do campo, e outra voltada para o lado empresarial. A criação de cavalos não foca apenas o trabalho rural. O animal também é utilizado em escolas, esportes, eventos e atividades turísticas".

Ele também alerta para o valor de um produtor que conheça as etapas de criação do cavalo, antes da porteira, dentro da propriedade e fora da porteira, e que valorize os cuidados com a sanidade animal. "Os casos de mormo registrados em Goiás - foram nove nos últimos nove meses - nos mostram como é importante cuidar do animal. Muitas vezes, o produtor investe pesado em máquinas e se esquece de gastar com o cavalo".

Cenário econômico

Falando do cenário econômico da cadeia, Arruda diz que enxerga a atualidade com bons olhos. "Como um todo, estamos passando por uma crise, saudável para os equídeos, que vai formar e profissionalizar as pessoas envolvidas no setor. Elas serão obrigadas a se qualificarem. Por outro lado, novas oportunidades estão surgindo mesmo em tempos de crise. Cada vez mais executivos estressados buscam viver próximos dos animais. Esse ninho de mercado ganha com a o período difícil".

O Brasil conta hoje com 7.487.657 cabeças, entre equinos, muares e asininos – o maior rebanho de equinos na América Latina e o terceiro mundial. Além disso, é o 8º maior exportador da carne equina no mundo, que deixa o país rumo, principalmente, à Rússia, Bélgica, Itália, Japão e Vietnã, onde o alimento é uma iguaria. Goiás possui o 4º maior rebanho do Brasil, com 446.219 cabeças, entre equinos, muares e asininos.

Entre números e expectativas positivas, o produtor Leandro Garcia caracteriza o setor como "carente de informação". Vindo de Anápolis, onde possui 14 animais destinados à lida e participação em competições esportivas, ele fez questão de elogiar a iniciativa da Faeg e contar sobre o medo de transportar seus cavalos até municípios de outros Estados.

"Em um único dia a gente pode ter acesso a vários tipos de conhecimento, trocar experiências e receber orientações sobre situações pontuais que nos preocupam demais. Exemplo é a participação dos nossos animais em competições nas quais eles terão contato com outros milhares de cavalos que podem ter alguma doença". Leandro enxerga como urgente a organização do setor e como necessária a mudança na legislação sanitária no que diz respeito aos cuidados com os equídeos.

Conhecendo mais a atividade

Segundo a assessora técnica da Faeg para a área de pecuária, Christiane Rossi, a ideia do seminário é mostrar ao produtor a importância da atividade no cenário nacional e apresentar algumas facetas muitas vezes desconhecida por quem cria o animal. Ela conta ainda que a entidade vem sentindo necessidade de organizar um evento como o dessa quarta-feira (19) desde que a Comissão de Equideocultura foi criada. Sobre a Comissão, Christiane explica que o grupo busca as demandas do setor e trabalha na tentativa de apresentar soluções. "Percebemos que precisávamos, cada vez mais, levar informação ao produtor rural e a todas as entidades envolvidas na cadeia produtiva. Até então a importância econômica da atividade não era tão conhecida".

Roberto Arruda, que também coordena a Equonomia - grupo da USP que estuda a economia da equideocultura - concorda com a assessora técnica. Ele entende que a organização da cadeia é fundamental, mas alega que para isso "é necessário informação e conhecimento". Aliada à necessidade de um produtor mais informado, o professor destacou a mudança do setor, que vem - mesmo que a passos pequenos - sendo alertado pela nova fase da indústria.

"A própria embalagem dos produtos para equinos eram bem simples e agora já são mais sofisticadas: feitas para um novo público". Nesse contexto, Roberto alerta para a união e atenção redobrada dos produtores. "Para sermos ouvidos pelo governo precisamos ter uma organização forte. Só assim vamos conseguir mostrar ao mundo a importância do segmento e a necessidade de políticas públicas voltadas para o setor".

Exportação de carne

Arruda apresentou ainda um estudo, feito entre 2006 e 2015, mostrando falhas que impedem efetiva a organização do setor. "A confusão na quantidade de animais existentes no Brasil é uma delas. Segundo a Pesquisa Pecuária Municipal, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) são cerca de 5,5 milhões de cavalos. Já o Censo Agropecuário aponta um pouco menos. Temos uma estimativa de que são cinco milhões, sendo 3,9 usados para a lida no campo e 1,1 para a prática de esportes".

No Brasil o cavalo é um animal mais utilizado para estimação e esporte, mas a exportação da carne já é uma realidade, ainda que pequena. Em todo o País, em 2014, faturamos R$ 4,1 milhões com a venda de animais vivos e R$ 6,6 milhões com a venda de carnes. Em 2015, de janeiro a junho, foram exportados US$ 3,90 milhões em carne de cavalo e US$ 1,92 milhão em cavalos vivos, respectivamente ocorrendo aumento expressivo de 66% e 40%, comparando com o mesmo período de 2014. Além da carne existem ainda outros subprodutos provenientes do abate de equídeos – equinos, muares e asininos –, como pincéis, ração para outros animais, vacinas ototerápicas, mortadelas e salsicharias.

Arroba do boi gordo cai em plena entressafra

Otimista no começo do ano com as possibilidades de crescimento do sistema de confinamento de gado de corte nas principais regiões pecuaristas brasileiras, o gerente executivo da Associação dos Confinadores do Brasil, Bruno de Jesus Andrade, mostra-se bem mais reticente em meados de 2015. "De um cenário positivo no primeiro trimestre, com preços médios de R$132,92 a arroba para os atuais R$127,37, a arroba do boi gordo à vista", observa. A redução foi de 4,2% no valor pago ao boi gordo, em plena entressafra, em Goiás.

Bruno Andrade atribui o decréscimo à menor demanda por carne bovina no mercado externo e interno. Tomando por base dados da Associação Brasileira de Exportadores de Carne (Abiec), até julho as exportações renderam US$3,2 milhões, queda de 19% em faturamento em relação ao mesmo período de 2014. Em relação ao volume vendido, 770 mil toneladas, queda de 15%. O executivo da Assocon confirma que algumas indústrias nesse período cessaram os abates ou fecharam algumas unidades. "O objetivo foi aumentar a sua performance, diminuindo a ociosidade", ressalta.

oferta de animais

A oferta de animais para abate também sofreu redução. Dados do SIF (Serviço de Inspeção Federal) apontam redução de 10% aproximadamente no volume abatido no primeiro semestre deste ano em relação ao primeiro semestre de 2014. Na opinião de Bruno Andrade, "esse ponto, também, promoveu em certa escala o fechamento de algumas unidades frigoríficas", disse. A maior parte dessas ocorrências se deu no Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.

Bruno lamenta. Segundo ele, o confinamento vislumbrou um cenário favorável em janeiro, mas viu, ao longo dos meses, a deterioração. Os preços pagos aos produtores sofreram queda. "E essa situação fez com que muitos confinamentos médios e grandes refizessem suas metas. E, hoje, no cômputo geral, talvez, tenhamos menos animais confinados que em 2014", assinalou o executivo.

Em Goiás, um dos líderes no ranking no Brasil, os confinamentos de grande porte "não apresentam lotação total". Para Bruno Andrade, esse fator se deve ao custo da aquisição do boi magro. "A atividade torna impraticável", pondera. Além desse aspecto, ao longo das últimas semanas, o milho teve um aumento de preço (principal ingrediente usada nas dietas de confinamento) e o preço do boi gordo apresentou uma queda no mercado físico e sua projeção para o futuro.

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