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ECONOMIA

O povo vai à luta

A paralisação das atividades da Votorantim Metais em Niquelândia vão causar danos à população, apesar das ações mitigadoras que a empresa, em parceria com o governo estadual, adotou para valer até a superveniência de fatos novos: o aumento das cotações do níquel no mercado internacional.

A demissão de trabalhadores é inevitável. Mais de quinhentos serão dispensados. Trabalhadores terceirizados também ficarão sem trabalho. Basta ver o setor de transportes de minério da jazida até a planta de beneficiamento. Uma cooperativa de proprietários de caminhões fora de estrada tocam o negócio. São 140 caminhões, cada um empregando 4 motoristas em rodízio. Só aí tem-se um contingente de 560 trabalhadores altamente qualificados a serem dispensados.

É verdade que a Votorantim vai manter um destacamento com a função de dar manutenção às instalações da empresa. E vai também remanejar pessoal para a fábrica de cimento que possui em Edealina, Goiás. E também foi anunciado que muitos caminhões serão deslocados para outras jazidas da Votorantim, espalhadas pelo país afora.

Ainda assim, o impacto sobre a economia local será enorme. O prefeito de Niquelândia, Luiz Teixeira, estima perdas de receita da ordem de 1 milhão de reais ao mês. A municipalidade deixará de arrecadar royaties, isqn, ICMS e compensação por produtos exportados. Com isso, a prefeitura terá que dispensar funcionários e paralisar obras. Acrescente-se que a queda de arrecadação se dará não apenas diretamente, em razão do fechamento da Votorantim Metais. Haverá queda indireta em razão do achatamento das atividades comerciais. A crise é sistêmica e seus efeitos se farão sentir em todas as esferas da economia comercial. E, embora com menor impacto, sobre a economia goiana.

A boa notícia, porém, é que a própria sociedade de Niquelândia, em vez de cair no desespero já está se mobilizando, e muito rapidamente, para enfrentar a situação. Cinco dias atrás, representantes de todas as entidades da sociedade civil se reuniu para debater a situação e indicar alternativas. Com apoio e participação das autoridades municipais e estaduais, os niquelandenses chegaram a um consenso sobre táticas e estratégias para enfrentar e vencer a calamidade econômica.

Em um documento intitulado “Carta aberta das entidades de Niquelândia às autoridades às autoridades públicas municipais”, várias instituições elencam sugestões sobre o que fazer. Assinam a “Carta” as entidades sindicais, associações do comércio e da industria, associações de profissionais liberais e de trabalhadores autônomos, lojas maçônicas, igrejas evangélicas e Ordem dos Advogados do Brasil – seção local.

Ao poder público municipal é sugerida a decretação de um estado de emergência social, criação de um grupo de trabalho para fazer levantamento de campo e monitorar a situação da economia visando subsidiar ações futuras em vários níveis, e promover ações publicitárias de combate ao pessimismo.

Um proposta interessante, dirigida ao poder estadual, é a criação de um fundo de amparo a municípios mineradores por exaustão de minas. Desastres ambientais e interrupção das atividades minerais. Outra sugestão é a aceleração dos processos de discriminação de terras devolutas e regularização fundiária, o que fomentaria as atividades agropecuárias no município.

Outra demanda é a conclusão imediata das obras de pavimentação da estrada que liga Niquelândia a Alto Paraíso, bem como a pavimentação da rodovia ligando Muquem a Água Fria, integrando a cidade ao um importante circuito turístico que inclui Pirenópolis, Basília etc.

Ao governo federal, as forças vivas do município vão demandar ao Incra a reativação da industria de beneficiamento do coco babaçu. Vão pleitear ainda que o Governo Federal faça aportes significativos ao fundo de financiamento aos municípios por exaustão de minas. E vão solicitar ao Ministério do Meio Ambiente a liberação do projeto de implantação do projeto de processamento de frutos do cerrado.

Perante à Votorantim, os niquelandenses vão solicitar rápido acerto e pagamento por serviços prestados, para evitar a inadimplências desses prestadores junto ao comércio local. Vão pleitear uma doação de 7 milhões de reais para dotar um fundo, a ser criado, de desenvolvimento agropecuário, de cartar privado, a ser gerido por um comitê multilateral de representantes dos poderes públicos e entidades da sociedade civil. A prioridade do fundo seria o financiamento da industria do leite.

Também se solicita à Votorantim a entrega, em comodato, de alguns imóveis rurais da empresa, os quais seriam destinados à criação de peixes e plantação de hortaliças. Pede-se também uma doação de 4 milhões de reais à Prefeitura, bem como o empréstimos de máquinas e equipamentos que possam ser utilizados em obras públicas de execução direta pela municipalidade. Por fim, é pleiteada a doação de um prédio escolar e de 40 casas de um vial operária para o desenvolvimento de projetos técnicos-educacionais.

Todas essas alternativas de enfrentamento têm o seu êxito condicionado à boa vontade das partes demandadas. Do ponto de vista das autoridades goianas, é fora de dúvida que Niquelândia poderá contar com a boa vontade de todos. O secretário do Meio Ambiente, Vilmar Alves, que é filho da terra e representante político da cidade, vem trabalhando no sentido de articular todas as ações necessárias. Foi Vilmar quem viajou a São Paulo para buscar os executivos da Votorantim para a reunião de segunda-feira passada com o Governador Marconi Perillo.

Não se sabe por quanto tempo vai durar a crise do Níquel, embora todos deem como certo que ela vai passar. A crise, no momento, é o efeito de uma combinação de fatores adversos que achatam o preço do minério, tornando antieconômica a sua extração e beneficiamento. Um desses fatores é o elevado nível dos estoques e a retração da economia chinesa, grande importador. Redução da demanda em momento de oferta aquecida leva inevitavelmente em aviltamento dos preços.

Até que a calamidade passe, a sociedade local, altamente dependente da economia do níquel, terá que suportar as agruras da crise. Acender velas é melhor do que maldizer a escuridão. Contudo, o momento vai provar se os sempre alardeados compromissos sociais da Votorantim são para valer ou são retórica marqueteira.

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