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Há recorde, mas faturamento volta a cair

Em 2015, mesmo com todas as dificuldades enfrentadas pela economia brasileira, o agronegócio exportou volume recorde – após a redução de 6% em 2014. O câmbio alavancou a atratividade dos produtos agrícolas exportados, mesmo com a queda generalizada dos preços em dólar. Cálculos do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, mostram que, entre janeiro e dezembro de 2015, comparativamente ao mesmo período de 2014, o volume exportado pelo agronegócio brasileiro cresceu 15,9%, e os preços em dólares recebidos pelos exportadores do setor retraíram-se em mais de 18%.

Nesse mesmo comparativo, com volume em alta e preços externos (em dólar) em queda, o faturamento em dólar do setor recuou quase 9% – em 20014, já havia caído 3%, fechando em US$ 98 bilhões –, retornando à casa dos US$ 89 bilhões. Em Reais, contudo, o faturamento cresceu 14%. A desvalorização média de 22% da taxa de câmbio efetiva real do agronegócio (IC-Agro/Cepea) nesse período quase que compensou toda a queda de preços de forma que a atratividade das exportações do agronegócio brasileiro teve redução de apenas 1,1%.

China, principal importadora           


 A desvalorização do Real, no entanto, proporcionou que a maioria dos produtos acompanhados obtivesse alta de preços internalizados em reais (IAT-Agro/Cepea), como é o caso da madeira (15,47%), celulose (12,66%), carne bovina (11,93%), café (11,65%), frutas (10,82%), suco de laranja (9,52%), milho (8,21%) e carne de aves (3,12%). Para os demais produtos, a desvalorização do câmbio não foi suficiente para compensar toda a queda do preço externo. Como consequência, houve redução da atratividade das exportações de carne suína (11,92%), etanol (10,47%), soja em grão (7,47%), farelo de soja (5,50%, óleo de soja (1,63%) e açúcar (1%).

Em termos agregados, a China continua sendo o principal destino das exportações dos produtos do agronegócio brasileiro e tem aumentado sua importância como parceira comercial do País nos últimos anos. Em 2015, sua participação foi de 24% nas exportações totais do agronegócio nacional, ante 22,8% em 2014. A soja em grão continua sendo o principal produto das compras chinesas e, em 2015, mais de 70% das vendas brasileiras para a China estiveram concentradas em produtos do grupo cereais/leguminosas e oleaginosas.

Outro parceiro importante do Brasil é o continente europeu. Os países da Zona do Euro compraram 18,3% das vendas totais do agronegócio brasileiro em 2015, percentual que se reduziu comparativamente aos 20,9% registrados em 2014. No caso dos países europeus, também os cereais foram os produtos que apresentaram maior importância; no entanto, café, produtos florestais, carnes e frutas também apresentaram participação relevante (acima de 10%).

Os Estados Unidos continuam sendo o terceiro destino das exportações agro brasileiras, mantendo sua participação em torno de 7% nos últimos anos. Em 2015, o principal grupo de produtos embarcados para os Estados Unidos foram os produtos florestais, mas café, carne bovina e açúcar também apresentaram relevante volume de vendas para esse país.

Além desses, outros importantes demandantes foram: Rússia, Hong Kong, Venezuela, Japão, Arábia Saudita, Coreia do Sul e Egito. A participação do grupo dos “demais países” aumentou em relação a 2014, chegando a 33,5% do total e tornando-se a maior, conforme a agregação apresentada na Figura 7 – esse grupo engloba 189 países com pequena participação individual. A diversificação dos parceiros comerciais é positiva à medida que diminui a vulnerabilidade das exportações a variações de algumas poucas economias.

Soja na liderança


No rol de produtos, não houve mudança no ranking (faturamento) em relação a 2014. Dados do Cepea mostram que o complexo soja se manteve na liderança das exportações brasileiras de produtos do agronegócio, seguido, dentre os setores mais importantes, pelo de carnes (bovina, de aves e de suínos) e, na sequência, esteve o setor de produtos florestais, que superou o sucroalcooleiro (quarto lugar) já em 2014; o café continuou na quinta posição.

O açúcar, principal produto exportado pelo setor sucroalcooleiro mais uma vez teve sua participação reduzida na pauta de exportações agro, recuando de 10,6% em 2014 para 9,6% em 2015. Os produtos do setor de bovinos também perderam participação, caindo de 12,7% para 10,9% - seu faturamento voltou a ficar abaixo de US$ 10 bilhões/ano. O setor de aves e suínos teve ligeira queda, indo de 9,7% para 9,3% (mesmo percentual de 2013). Já o café manteve sua participação praticamente estável, passando de 7,3% para 7,4% no faturamento total do setor, e o grupo dos cereais/leguminosas/oleaginosas, que inclui a soja em grão, teve crescimento superior a um ponto percentual, indo de 35,5% para 36,6%.

Longo prazo


 O volume exportado pelo agronegócio brasileiro aumentou 267% entre 2000 e 2015 (médias anuais), período em que a moeda nacional, em termos reais, se valorizou 37,6% frente à cesta de moedas dos dez principais parceiros comerciais do agronegócio.Nos mesmos 16 anos, a atratividade das exportações do agro, que representa os preços em reais,oscilou pouco, principalmente nos últimos três anos, apresentando decréscimo de apenas 0,4% em relação a 2000. Já os preços em dólar dos produtos agropecuários exportados obtêm valorização de 60,8% no período, apesar das quedas anuais observadas a partir de 2011.

Em 2015, conforme cálculos do Cepea, o superávit gerado pelo agronegócio foi superior a US$ 75 bilhões no ano e mais que compensou toda saída de moeda gerada pelos outros setores – o déficit comercial proveniente dos outros setores produtivos foi de aproximadamente US$ 55 bilhões em 2015. Com isso, a balança comercial fechou o ano com superávit por volta de US$ 19 bilhões. Nos últimos 16 anos, de 2000 a 2015, o saldo comercial do agronegócio brasileiro (receitas das exportações menos gastos com importações em dólares) mais que quintuplicou, aumentando 447%.

Expectativa para 2016


A produção agropecuária brasileira deve crescer a taxas menores, segundo a Conab, assim como a demanda da China, principal parceiro comercial do setor. Por outro lado, destacam pesquisadores do Cepea, há expectativa de bom crescimento da economia norte-americana, o que pode estimular suas compras e interromper a diminuição que tem apresentado em relação aos produtos do agronegócio brasileiro.

O Real deve continuar nos patamares atuais ou mesmo ter novas desvalorizações por conta dos problemas domésticos e externos. Com isso, a competitividade dos produtos brasileiros seguirá elevada, devendo estimular os embarques. Em termos de preços, no entanto, não se sabe se ainda há espaço para mais quedas, uma vez que muitos produtos tiveram reduções bastante significativas em seus preços em dólar em 2015.  

Desse modo, a equipe Cepea avalia que o cenário deve se manter positivo para o setor agroexportador brasileiro em 2016, principalmente em termos de volume. O desempenho efetivo do setor, ponderam, vai depender das condições de oferta mundial, do poder aquisitivo de importantes demandantes, que devem sofrer com as intermináveis quedas do preço do petróleo, e da intensidade dos eventos climáticos adversos, que podem comprometer parte da produção agropecuária ao longo do ano.  

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