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Reforma política: “panaceia” ou “palhaçada”?

Luis Carlos Martins ,Especial para Diário da Manhã

De tempos em tempos, especialmente nos de crises, o tema da "reforma política" é sacado da "cartola" como solução mágica dos problemas nacionais. (1) Indaga-se: a reforma política é a panaceia ou é uma palhaçada? As respostas dependerão das causas, das propostas, das finalidades e dos participantes desse processo normativo.

Qual o principal problema da representação política brasileira? A ausência de correspondência entre a atuação dos eleitos e os anseios dos eleitores. Há um profundo divórcio, real ou simbólico, entre aquilo que desejam os eleitores e as práticas dos eleitos.

Como melhorar e aproximar a identidade entre os eleitores e os eleitos? Essa é a indagação que merece uma resposta normativa e política adequada. Para isso, será necessário investigar as causas do divórcio entre o representante político e os seus representados. Neste breve espaço, exporemos algumas visões intuitivas sobre essa questão, já lançadas em outras oportunidades.

Começaremos com a estrutura e dinâmica dos partidos políticos brasileiros (art. 17, CF). Algumas mudanças, que seriam significativas e acabariam com as "legendas de aluguel", seria o fim do Fundo Partidário e do acesso gratuito ao rádio e à televisão (art. 17, § 3º, CF), bem como da imunidade tributária ou de qualquer favor ou benefício fiscal (art. 150, VI, "c", CF), e também a proibição de coligações partidárias, tanto para as eleições majoritárias (presidente, governador, prefeito e senador) como para as proporcionais (deputados e vereadores).

O partido político deve ser absolutamente independente dos favores estatais e deve revelar para o seu eleitorado, bem como filiados e simpatizantes, a sua ambição de chegar ao poder de acordo com o seu programa e com os seus respectivos candidatos. Essas medidas fariam o número de partidos cair dos atuais 32, segundo informações do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). (3) Para no máximo uns 5 Partidos Políticos. Seriam poucos, mas seriam robustos e representativos.

Outra medida de saneamento político consistiria em exigir uma "quarentena" de quem esteja filiado a uma agremiação partidária e queira mudar de partido. Dever-se-ia exigir pelo menos 5 anos entre um Partido e outro. Mudar de partido político deve ser uma ação pensada, refletida, fruto de amadurecimento, e não uma simples "jogada" eleitoreira ou casuística.

No plano estritamente eleitoral, algumas mudanças seriam relevantes para baratear as campanhas para os candidatos, para os partidos e para a sociedade. Com efeito, as eleições deveriam ser unificadas. De presidente a prefeito. De senador a vereador. Todas deveriam ocorrer no mesmo período e votação no mesmo dia. Os mandatos deveriam ser unificados em 6 anos. E, para os cargos executivos (presidente, governador e prefeito), deveria ser proibida nova "candidatura" daquele que já houvera ocupado o respectivo cargo. E, para os cargos legislativos (senador, deputado e vereador), uma única recondução para o mesmo e respectivo cargo. Política não é profissão. Há de ser vocação de quem tem serviços prestados e relevantes à comunidade.

Outra medida de redução dos custos consiste na adoção do voto distrital puro, com exigência de segundo turno se nenhum candidato obtiver a maioria absoluta dos votos válidos. Esse modelo reduziria, pelo menos para as eleições legislativas, o espaço territorial de campanha e criaria um forte vínculo entre o eleito (deputado ou vereador) e o eleitorado. E criaria a figura da "oposição" ao parlamentar. Eis, talvez, o principal motivo da "má qualidade da representação política" parlamentar: a ausência de oposição. Democracia é, antes de tudo, oposição e dissenso. É preciso criar um "opositor" direto e imediato ao parlamentar eleito, e o melhor mecanismo para tal fim consiste no modelo do distrito eleitoral.

Outra medida de caráter econômico que iria fortalecer os partidos já foi acima ventilada: o fim do financiamento público-estatal dos partidos e o fim da gratuidade de acesso ao rádio e à televisão. Atualmente, com os novos veículos de comunicação de massa não há necessidade de a sociedade, mediante impostos ou renúncias fiscais, financiar projetos políticos. O sagrado dinheiro do contribuinte deve ser canalizado para a promoção do bem geral de toda a coletividade, sem distinções raciais, étnicas, sociais, sexuais, culturais, econômicas, religiosas ou ideológicas. O dinheiro é de todos e deve ser gasto com todos, e não apenas com algumas "categorias". Menos Estado, mais Sociedade. E como os partidos se financiariam? Com os recursos de seus filiados e simpatizantes.

Todavia, a mais importante de todas as reformas não é de caráter político ou jurídico-normativa. É de caráter cultural. Ou o eleitor (cidadão) passa a ser criterioso e responsável com a sua liberdade política, de votar e de ser votado, ou de nada adiantam as boas leis e instituições, com melhores intenções e virtudes, pois cada um de nós é o principal "guardião" de nossas consciências e interesses. A culpa das más escolhas políticas não é das "estrelas" e as soluções não estão no "céu". A responsabilidade é de cada um de nós no sagrado exercício do voto. É bem verdade que na democracia há sempre o risco de a maioria vencedora fazer escolhas ruins, tanto para ela, como para a minoria derrotada, mas esse é ônus por se viver em um regime com os bônus das liberdades políticas. De tempos em tempos, somos convidados a correr esse risco. E não devemos transferir para ninguém as nossas responsabilidades, nem as nossas liberdades.

(Luis Carlos Martins Alves Júnior, especialista e doutor em Direito Constitucional)

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