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Produtores apresentam proposta conjunta à Manacá

Sem receber regularmente desde novembro, cerca de cem produtores goianos decidiram pela formulação de uma proposta conjunta para que o Laticínio Manacá quite a dívida, junto a cinco municípios, estimada em mais de R$ 1 milhão. Para a elaboração da proposta, o grupo contou com o auxílio da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), que se reuniu com representantes de cooperativas, associações e produtores individuais na sede do Sindicato Rural de Ceres. O encontro aconteceu segunda-feira e a proposta engloba as cidades de Goianésia, Uruana, Rubiataba, Campinorte e Petrolina. Também para orientar os produtores, o assessor jurídico da Faeg, Augusto Andrade, esteve em Ceres e abordou assuntos como a importância dos contratos nas negociações junto às empresas que compram o leite.

Assim que a proposta for redigida, a Faeg vai intermediar o agendamento de uma nova reunião, que deve acontecer na próxima semana. Na ocasião, a sugestão será de que os produtores forneçam mensalmente um percentual da produção e recebam, juntamente com o pagamento do produto entregue, parte do saldo devedor atrasado. A intenção é dividir o débito em cinco meses.

Além dos que foram representados em Ceres, estima-se que mais de mil produtores goianos estejam sem receber, mas alguns deles optaram por iniciar negociações individuais com o Laticínio Manacá, o que na opinião do gerente de Assuntos Técnicos e Econômicos da Faeg, Edson Novaes, é muito complicado, visto que a empresa entrou com um pedido de recuperação judicial junto ao Poder Judiciário. O valor total, antes avaliado em mais de R$ 35 milhões, deve alcançar cifras ainda maiores, já que essa foi apenas a quantia resgatada pelas instituições financeiras para quitar débitos em aberto.

Prazo x prejuízo

No último dia 3, o Laticínio Manacá entrou com um pedido de recuperação judicial junto ao Poder Judiciário – o que, se aceito, dará à empresa um prazo para tentar um acordo com credores sobre um plano de recuperação. Edson explica que resolver o impasse é uma questão de defesa social, já que o não pagamento afeta diretamente a economia popular do Estado de Goiás. O grande problema do pedido de recuperação judicial é que a empresa tem 60 dias para apresentar o plano de recuperação à Justiça.

Por meio do documento, o laticínio informa aos credores como as dívidas serão pagas, em qual prazo e como fará isso. Edson Novaes argumenta que 60 dias é um prazo longo demais diante das dificuldades financeiras enfrentadas pelos produtores. A situação é agravada pelo fato de que, segundo a legislação, os produtores são os últimos a receber. Eles ficam atrás dos funcionários, instituições financeiras, Estado e outros fornecedores.

Edmar José Figueiredo, vice-presidente do Sindicato Rural de Campinorte, esteve no Sindicato Rural de Ceres representando 27 produtores que trabalham de forma independente. De acordo com ele, juntos, os produtores ofereciam uma média de 8.500 litros de leite por dia à Manacá. Sem receber pelos meses de março e abril, eles decidiram por interromper o fornecimento desde o último dia 1º de maio. A dívida está em mais de R$ 500 mil. "Nós temos uma expectativa grande de que o Manacá aceite nossa proposta. É muito importante que ela seja feita em conjunto, assim ampliamos nossa força e nossas chances de conseguir resolver o impasse".

A pedido do próprio laticínio, um primeiro encontro aconteceu no dia 10. Na ocasião um representante da empresa não apresentou nenhuma proposta de pagamento relativo aos valores em atraso. Para o presidente da Cooperativa Mista dos Pequenos Produtores Rurais de Rubiataba (Coomafar), a união dos produtores é fundamental para que a causa ganhe voz. O grupo é composto por 77 cooperados, mas apenas 8 forneciam leite para o Manacá. Desde o dia 25 de maio o fornecimento não acontece mais. A dívida gira em torno de R$ 100 mil.

Sentindo o prejuízo

Com um saldo a receber de cerca de R$ 500 mil – o que representa aproximadamente 400 mil litros de leite, 21 produtores da Associação dos Produtores de Leite de Goianésia (Aproleite) interromperam o repasse do produto para o Manacá no dia 6 de maio. Sem receber desde o início de abril, o grupo segue lamentando os prejuízos e buscando alternativas individuais para fornecer o leite para outras empresas. A Aproleite conta com 47 associados no total, mas apenas 21 forneciam leite para a Manacá. Segundo o presidente da entidade, Ivon Corrêa, a proposta conjunta é a melhor saída até o momento. "Tem que haver união de forças, porque só através do associativismo e corporativismo vamos conseguir bons resultados".

Presidente da Cooperativa Agropecuária dos Produtores Rurais e Agricultores Familiares de Uruana e Região (Cooperuruana), José Antônio de Melo afirma que, no total, 36 cooperados produzem leite para a empresa e estão sem receber mais de R$ 400 mil, desde março. No último dia cinco de maio, eles cortaram o fornecimento. José Antônio explica que toda a cooperativa apoia uma negociação conjunta. "Nós temos produtores que entregam 300 litros, mas temos outros que fornecem 30. Mesmo em uma situação de crise, a gente entende que o cooperativismo é a melhor maneira de trabalhar".

invasão

No último dia 12, produtores já haviam se reunido na Faeg. Na ocasião, representantes de mais de 20 municípios e, pelo menos, 10 cooperativas e associações se uniram aos departamentos técnico e jurídico da entidade para estudar possibilidades de solucionar o impasse. Entre as possibilidades analisadas na reunião estava, inclusive, a de os produtores assumirem a administração da empresa.

O encontro contou com a presença do presidente da Faeg, José Mário Schreiner, que classificou como inadmissível o fato de os produtores trabalharem, entregarem o leite que é comercializado e não receberem por isso. "Não gostamos de ter que discutir esses assuntos, mas faz parte do nosso ofício. Precisamos nos organizar mais ainda para nos prepararmos para situações como esta, na qual, sem dúvidas, houve problemas de gestão na indústria", pontuou.

No total, mais de 50 municípios produzem leite para a empresa, sediada em Rianápolis, município localizado a 140 km de Goiânia. Entre as cidades envolvidas estão: Ceres, Uruana, Goianésia, Itapuranga, Mozarlândia, Nova Crixás, Araguapaz e Porangatu, entre várias outras.

Manifestação

Na quarta-feira (10), cerca de 300 produtores realizaram uma manifestação contra a empresa bloqueando, por mais de duas horas, um trecho da BR-153, no perímetro urbano de Rianápolis. Na ocasião, houve queima de pneus e a passagem de veículos foi impossibilitada gerando um congestionamento de aproximadamente seis quilômetros nos dois sentidos. O movimento começou no início da tarde e a pista só foi liberada por volta das 17h30, com auxílio do Corpo de Bombeiros e da Polícia Rodoviária Federal.

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