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OPINIÃO

E, a conversa rolou...

Na varanda, cuidava eu de encontrar tema histórico para o Suplemento Literário da Academia Goiana de Letras, quando chegam o Seu Joaquim e seu neto Cauê. Ele é agricultor, nasceu nesse mesmo chão nos anos quarenta. Em 1951, a família mudou-se para outras terras ... mais tarde, disse o sr. Joaquim, como nascia todo ano um fio, e... os fazendeiro não queria famia grande; o sr. Giberto, não oiava isso não, só queria sabe se o caboco tinha as mão grossa. Meu pai era desses, mais vortô pra cá; fiquei moço aqui. Daqui é tamem minha muié, bunita demais desde minina, ... até hoje é das mais bunita, a senhora viu, né?

Ele viera assinar um contrato de trabalho, plantio de guariroba, mas, eu o esquecera em Goiânia.

Num faiz mal não dona Maria, entre nois palavra vale. Vorto outra hora.

E, a conversa rolou.

- Então Sr. Joaquim, como vão as guarirobas? Nasceram bem?

- Oia, dona Maria, tá nasceno, num tá mió purque eu fiquei tentano arresorvê um probrema meu e de mais 33 companheiros.

- Que problema é esse, sr. Joaquim?

- É isso, o governo faz plano, é do tempo do Lula, fica só no papel; minha famia e eu já votamo nele, ninguém vota mais.

- Mas, o que aconteceu mesmo?

- Nois entrou, as 34 famias, na compra de 68 alqueire de terra aqui no município de Pontalina. Veio o agrimensô federal, fez tudo direitinho, fartava registra a reserva legal, e aí ficava 68 alqueire menos 18, intão nois ia trabaia, as 34 famias em 50 alqueire, tava bão dimais. O preço total da dívida de cada um era 40 contos, pra pagar durante 17 anos.

Nois, Dona Maria, a senhora sabe, eu sei trata a terra, os outros tamém é igual eu, uns mais forte, outros mais fraco, mas, nem um de nois é sem terra e nem invasor de terra, nois comprou, tudo lavrador, pessoa que sabe trabaiá a terra, eles (os sem terra) a maioria não sabe nem pega direito na enxada; é muita preguiça, precisa ver gente vedendo direito, os mais sabido compra, pra vende mais adiante; nois os 34 não é nada disso, nois só perdemo, nesse negócio do Lula, cada um precisava dar dois conto para por as terras nos eixo do incra, com a reserva legal, e mais outras coisa exigida. Muitos de nois fez economia até de boca, outros vederam geladeira, televisão, até corchão prá pagá os dois conto. Uns já miór de vida, entusiasmado, começou a fazer muda de planta e economiza pra construir no seu chão. Oiá, foi uma esperança e alegria danada, as muié começaram a cozinha nas trempe de pedra com lenha pra não compra gás, a gente tava feliz; com uma esperança danada, a gente nem durmia de tanto pensa no futuro.

O dono dos 68 alqueire fez tudo certinho, tudo legal, só que o dinheiro pra pagar os 68 alqueire, o preço de cada alqueire era de 20 contos, dinheiro demais, mais não vinha. E nois esperamo, esperamo, ainda bem que eu disiludi e vim pedi chão da guariroba, e graças a Deus, tô bem na vida, nois perdemos tudo, purque nois num registrô o contrato... ficava por um conto de reis, nois sem dinheiro, foi ruim, fazê o quê, né? O proprietário não entrega a terra mais pelo preço combinado, porque ela vale 60 conto agora; a terra dele tá arrumadinha, nois sem esperança, entramo na justiça, o advogado é da União, nois perdeu...

Meu Deus, está aqui a crônica. Meu assunto seria histórico. E foi mesmo...

A conversa com o sr. Joaquim não parou aqui. Tem mais.

Estância de Bandeira, 25 de novembro de 2012.

(Maria Augusta de Sant’Anna Moraes, historiadora, membro da Academia Goiana de Letras e da Academia Piracanjubense de Letras e Artes)

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