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OPINIÃO

Pau que dá em Chico dá em Francisco

Dia desses, o ex-ministro da Saúde, Alexandre Padillha em encontro com amigos numa pizzaria de São Paulo fora abordado de forma hostil e grosseira por desafetos do Partido dos Trabalhadores; anteriormente, o ex-ministro Guido Mantega ao acompanhar a esposa em um hospital da mesma cidade fora igualmente hostilizado e assacado por algumas pessoas que ali estavam; o ex-senador por Sergipe e ex-presidente da Petrobras, José Eduardo Dutra também fora desafiado e é claro, hostilizado por uma claque que se achava no mesmo avião no aeroporto de Brasília; no último congresso do PT, em Salvador, uma referência antipetista e assumidamente golpista invade o evento para atacar, segundo o mesmo, Lula e os militantes do Partido; dia desses, o prefeito de São Paulo, o também petista Fernando Haddad, ao tomar um “pingado” em uma lanchonete de São Paulo fora, também e da mesma forma, destratado e insultado publicamente por um militante de direita. Todos esses eventos foram evidentemente filmados, registrados e postos nas redes sociais.

Bom... O fato é que esses episódios estão interligados, possuem relação direta entre si e expressam um macro-cenário que está posto e que de fato, precisa ser compreendido e evidentemente desfeito para o bem da própria e miúda democracia brasileira e da vida política nacional.

Cumpre ainda afirmar que destes episódios absolutamente reprováveis cabem diversas considerações, contudo, vou tentar me fixar em pelo menos duas delas e que considero essenciais. A primeira é a que respeita ao clima criado, sustentado e mantido pela oposição/mídia em torno dos problemas que envolvem quadros políticos do PT e que, conforme sabemos estão sob intensa investigação.

De forma mais específica me reporto a muito badalada Operação Lava Jato que investiga esquemas de superfaturamento e de propinas envolvendo a Petrobras e empresas prestadoras de serviço. Pois bem, esta operação realiza a um ano e meio intensa investigação envolvendo dentre outros partidos, o PT e suas principais lideranças e que até agora, é preciso que se diga, não provou absolutamente nada contra, sobretudo, o ex-presidente Lula da Silva ou a Presidente Dilma Rousseff.

Vejamos bem, estou me referindo a principal operação já realizada pela Política Federal, onde os principais empresários da construção civil do país foram presos; arranjadores, agenciadores e intermediários também foram detidos; onde o benefício da delação premiada fora disponibilizada aos envolvidos e até agora; nada, estou dizendo, nada fora provado contra Lula ou Dilma.

É curioso que nenhuma destas pessoas não tenha efetivamente afirmado qualquer coisa contra Lula, Dilma ou os principais expoentes do PT. Mesmo o tesoureiro Vaccari Neto teve sua prisão contestada pelos excessos e desproporcionalidades e, conforme já se sabe, a determinação do juiz federal Sérgio Moro foi motivo de duras críticas e reprovações jurídicas entre seus pares pela ausência de base e sentido jurídico.

Mas, confesso que sou desses que defende que as investigações devam seguir e ser aprofundadas a bem da democracia, da sociedade brasileira e de nosso futuro. Mas é importante e central tornar claro que denuncias não são sentenças transitadas e julgadas. O bom senso sugere que se espere até o final das investigações, bem como do veredicto final das autoridades judiciárias.

Se não sabem, em uma democracia, em um estado de direito, cabe ao poder judiciário o atributo e a função de julgar. O mínimo que se espera de militantes políticos minimamente sabedores é que conheçam das regras básicas de funcionamento de uma república para que não incorram em excessos totalitários e que tantos males já fizeram para a sociabilidade brasileira.

Outra consideração a ser feita é que essas hostilidades, evidentemente seletivas, orientadas e com foco único e exclusivo no PT e em seus membros representa e indica um precedente absolutamente perigoso para a lógica convival entre partidos políticos. Mas o que esses agressores, afinal, é do que se trata, pretendem estimular na militância petista? O que querem produzir? Estão seguros de que querem confronto? Estão certos de que isso será bom, positivo para o melhoramento da política brasileira e da forma como acontece?

Proponho aquele fragmento poético da banda brasileira Titãs que diz: “... Só quero saber do que pode dar certo, não tenho tempo a perder”. Muito apropriado para a feitura democrática e que defendo. Vamos para o que pode dar certo! Já sabemos que violência, agressão e hostilidade não dá certo porque vivemos isso na maior parte do tempo político nacional. Isso gera ódio, revolta, revide e uma espiral de agressões sem-fim e sem sentido.

Respeito, observância, atenção e direito humano são temas modernos, atuais e necessários para a construção de uma cultura política e convival superior, ilustrada e futurista. É o que deve ser estabelecido entre todos os que acreditam na boa política.

(Ângelo Cavalcante, economista, cientista político, doutorando em Geografia Humana pela Universidade de São Paulo (USP) e professor da Universidade Estadual de Goiás (UEG), campus Itumbiara)

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