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OPINIÃO

Notas sobre o processo de aprender

A aprendizagem que venho defendendo extrapola os conteúdos formais, mas não os desconsidera. Abrange o aprendizado de todas as competências oriundas das disciplinas escolares e necessárias à inclusão cidadã do educando, porém dialoga com os sentidos da cotidianidade. Como diria Gadotti (2000) educar é cuidar para que os seres humanos se tornem verdadeiramente humanos, na essência da palavra.

A avaliação da aprendizagem é um tema recorrente, seja por parte de pais, alunos ou professores, ele sempre vem à tona e, na maioria das vezes, o que prevalece é uma preocupação com o desempenho escolar materializado pelo alcance de boas notas. Estas devem retratar e quantificar com fidelidade o aprendizado do educando. Sempre que penso sobre o assunto aprendizagem e avaliação uma questão me vem à mente: O que é aprender e como aferir se a aprendizagem foi promovida?

Essa tarefa exigirá da educação e do educador que o ensino seja conduzido de forma que as áreas do conhecimento habitualmente privilegiadas no currículo escolar como Português, Matemática, História, Geografia, Biologia, Artes, sejam transversalizadas por ideários de solidariedade, de cooperação, de justiça, de equidade, de tolerância, de imaginação e de desejo, trata-se de uma educação capaz de alfabetizar e desenvolver as capacidades de leitura, interpretação e escrita, e que seja igualmente hábil a alfabetizar ecologicamente, eticamente e esteticamente os alunos.

Diante do que entendo ser papel da educação, e, sobretudo o significado da promoção de aprendizagens, questiono se a partir dessas premissas seria possível simplesmente avaliar o desempenho escolar pela verificação e quantificação dessas aprendizagens. Como medir o quanto de solidariedade e humanismo o educando pode aprender ao desvendar os componentes do Índice de Desenvolvimento Humano – IDH, por exemplo?

A aprendizagem não é algo dado, nem mesmo despejado em provas e testes, depende também de uma apreensão pessoal, inerente à construção de uma trajetória rica, reflexiva e relacional, fazendo da vida um espaço de aprendizagem. Para isso há que se caminhar em atitude de abertura, interagindo com o acontecer dinâmico do próprio caminho e se relacionando com os pares da jornada de maneira criativa e dialógica. O que inclui fazer da própria avaliação um espaço de aprendizagem, de produção de significados para o planejamento docente, que compreende o interrogar constante da realidade de cada dia, é viver permanentemente um riquíssimo processo educativo.

Segundo Cappelletti,1998, “Numa concepção histórico-dialética, avaliar abre um espaço para que o sujeito faça uma reflexão sobre a sua prática, sobre a sua atuação. “Avalia - se a ação por tudo que a concretiza, as ideias e conceitos, os meios, os instrumentos, os programas, os desempenhos e os resultados”. Claro está que a relação ensino - aprendizagem é indissociável. Se o sujeito que vive o processo de aquisição de conhecimentos não atingiu determinados objetivos, é necessário repensar a forma como foi conduzido esse processo, a metodologia adotada, as condições estruturais tanto da escola quanto da comunidade entre tantos outros fatores e, partindo desse repensar buscar alternativas capazes de romper com as dificuldades apresentadas.

O processo de aprendizagem não pode ser marcado pela rigidez do tempo, o que não significa que perderá seu rigor e compromisso social, entretanto caminhará levando em conta os tempos de cada ser humano, exercitando uma transformação contínua, para que o aprendizado aconteça de forma clara, segura, rica e imersa na beleza de articular criativamente as diferentes linguagens. Acima de tudo cuidando para que a avaliação tenha sentido, primeiramente, para quem aprende e também se desenvolva em um espaço de confiança, de aceitação mútua, de harmonia consigo e com o grupo, de auto realização e  de construção criativa.

(Márcia Carvalho, pedagoga, psicopedagoga, mestra em Sociedade, Políticas Públicas e  Meio Ambiente, chefe de gabinete da Agetul- Agencia Municipal de Eventos, Turismo e Lazer e diretora secretária da Fundação Ulysses Guimarães)

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