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OPINIÃO

A crônica do “Minino do Pé Perebento” Extrato VI

João José de Sousa Jr ,Especial para Opinião Pública

Às vezes o destino se revolta e decide fechar todas as portas ao mesmo tempo. Buscamos luz, mas apenas as trevas parecem reinar soberanas. Buscamos um caminho, nas nenhum deles parece confiável. Contamos as dificuldades do nosso momento a algumas pessoas, mas elas estão preocupadas com as dificuldades delas. Aí começamos a buscar culpados: alguém que não surgiu em meu caminho; uma oportunidade que não recebi; uma injustiça que sofri, mas a verdade é que não existem culpados. O destino se revoltou e mexeu em tudo de uma vez, mas logo ele deve se acalmar. Um dia, afinal, os ventos mudam e acabam soprando a nosso favor. É só ter calma e esperar o momento exato. Não podemos mudar os caminhos do vento, mas certamente podemos mudar os nossos.

(Thiago Mendes)

Tudo na vida é passageiro, assim como a própria vida, tanto as tristezas como também as alegrias. Praticar a paciência é perseverar no bem e nas boas ações, ter simplicidade, fé e pensamentos positivos mesmo perante as mais difíceis situações; é saber viver e fazer da nossa vida um constante aprendizado. É ter a consciência de que todas as pessoas erram, de que o ser humano ainda é um ser imperfeito em busca da perfeição e por isso ainda sofre e sabe que, se muitas vezes nos decepcionamos com pessoas, é porque esperamos mais do que elas estão preparadas para dar, dentro de seu contexto e grau de compreensão. Deste modo, meu amigo, toda vez que olho para essa frase, meu coração se aquieta e a paz me invade e assim vou caminhando por esses mares bravios e revoltos.

Acho que fiz demais! No decorrer desta minha vida de trancos e barrancos, não tenho tudo que desejo, mas amo tudo que tenho, pois conforme o misericordioso leitor (Henrique G. Dias) poderá observar, minha luta foi renhida com muito sangue, suor e lágrimas! Por isso sou feliz, pois a vitória por si só (como os políticos e seus herdeiros), nada representa quando vem a ser desprovida do merecimento, pois são vitórias obtidas com enganação fora das trincheiras da guerra do dia a dia. (Autor Anônimo)

Minha avó, nossa real provedora, ia ao armazém do seu Jorge Turco uma vez por mês (só lá que ela comprava fiado pela caderneta) e de lá da Gameleira, outro lado da cidade, trazia um sacão de alimentos equilibrado em sua cabeça. Percurso de mais ou menos 10 km. Saía estes alimentos do sofrido e justo salário do meu avô, jardineiro da Prefeitura do BerabaBão, funcionário há muitos anos da municipalidade. Esta contribuição foi vital para nosso sustento do dia a dia. Mas um fato divertido, não poderia também deixar de ser relatado, os doces trazidos para o meu avô e outras iguarias que eram disputadas pela meninada até no tapa, recebiam fartas “cuspidas” do vovô, a fim de eliminar a sanha locupletátoria da faminta molecada, concorrente aos deliciosos quitutes. A partir de tais feitos, meu avô se tornava vitorioso, pois nem chegávamos perto dos guardados apetitosos, antes batizados com as estratégicas e habilidosas “cuspidas”. Já estava o mesmo, no início de sua “caduquice”, facilitada pelas pretéritas goladas de cachaça no seu Benedito Amâncio, buteco das proximidades.

Como já disse, meu pai foi garçom do Jockey Clube de Uberaba. Tempos depois fiquei sabendo que, apesar de primo da minha mãe, o namoro iniciou – se quando este, diuturnamente quando saía do trabalho nas madrugadas, muitas vezes encontrava com minha mãe e tia (meninas), ambas sentadas nas escadarias do Jockey, aguardando minha vó e meu avô que trabalhavam na varrição da cidade. A elas atirava algumas moedinhas. Sequer sabia como se descortinaria o destino, prenunciando a “Saga dos Rabinhas”. Os ricaços sócios que transitavam pelo Jockey já causavam inveja ao garoto humilde; porém, este “Minino do Pé Perebento” antevia, já com certeza, que um dia distante reuniria também condições de ali adentrar e desfrutar!

Jamais exasperava-me, ia seguindo devagar, saboreando as teias traçadas pelo destino. Era um sonho distante, mas realizável, por que não? Meu pai já não trabalhou ali? Eu prometia a mim mesmo ir muito mais longe. Ademais, minha mãe sentava-se muito nas escadarias do Jockey quando era menina, portanto a força genética da interconectividade cósmica já mordiscava as engrenagens do destino. O poder oculto e ainda inexplorado começava já a se materializar, quando, não sei por que, caiu-me às mãos o livro TNT Nossa Força Mental e o Moço Bom, ambos estilo auto-ajuda, com muitas similaridades com o “Segredo” de Ronda Byrne, hoje de sucesso mundial.

Foi nas ladeiras da rua descalça Irmão Afonso e da Medalha, como também no “Pocinho”, onde tomava banho, que adquiri o gosto pela manipulação do barro argiloso, advindo de abundantes barrancos dos morros da Mercês, elaborando vasinhos, potes e panelinhas. Era a maior satisfação quando a argila entremeava e escapulia dos meus dedos. As veredas, fontes, minas d´água, rochas em geral muito me chamavam a atenção, principalmente em viagens ao interior, como também em Ribeirão das Neves, em 1960. Acho que ali começava a vislumbrar uma futura vocação ao estudo das “Entranhas da Terra”, já que oportunamente passava nos cinemas da cidade as 20.000 léguas submarinas e Viagem ao Centro da Terra, de Júlio Verner.

Mais tarde vim a analisar a opção pela Agronomia, porém lutei com unhas e dentes a fim de chegar à Geologia, e acho que foi o “dedo” dos céus que me levou até lá, pois nunca vi dar tão certo com meus anseios e expectativas aventureiras. Sei que alternativamente me daria muito bem, também, com os tratos alfarrábicos da Arqueologia e Antropologia.

(João José de Sousa Jr., geólogo,  comendador do Araguaia, ex-professor da UFMG, articulista e cronista do Diário da Manhã)

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