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OPINIÃO

O jubileu de diamante do professor Barsanulfo

Flávia Menezes ,Especial para Opinião Pública

Em 16 de julho de 1970 (através do DecretoLei nº 1.106) e apoiado pela Doutrina de Segurança Nacional, o governo militar pôs em prática o seu projeto de “Modernização do Brasil”, também conhecido como Plano de Integração Nacional, o PIN. O objetivo era ocupar as chamadas regiões inóspitas e uni-las ao resto do país, como por exemplo, o Norte e o Nordeste.

Nesta perspectiva, a construção de rodovias passou a representar o símbolo desse processo de integração, e o DNER, criado desde 1937, foi órgão responsável por fortalecer e dar sentido a esta missão destinada a expandir e a aperfeiçoar a malha rodoviária brasileira – desde o seu nascimento o DNER já construía estradas, incentivado pelo ímpeto governamental de unir o país.

Interessada em conhecer um pouco mais sobre este passado que impulsionou o desenvolvimento do país através das estradas, a Revista Tributo buscou falar com alguns associados e servidores do extinto DNER que vivenciaram esta valiosa experiência. Fomos até falar com um personagem que ajudou a ilustrar um trecho desta importante história: o associado e antigo servidor do DNER, o professor Barsanulfo Pereira Gomes.

Hoje, aos 80 anos, Barsanulfo ocupa o cargo de diretor da Regional/GO-TO. Sentado em sua confortável poltrona, protegida por uma mesa repleta de fotografias e saudades, ele nos recebe em sua sala e nos conta que começou a trabalhar no DNER com 14 anos de idade, mais exatamente em 1948.

Resumindo a entrevista, apresentamos o que se segue:

Pergunta: Professor, o que significa a palavra “Integrar para não Entregar”?

Resposta: Esse foi o slogan que o governo adotou junto com o Plano de Integração Nacional. O plano foi formalizado em 1970, mas já se falava de integração antes disso. Na minha opinião, esta foi a frase que sintetizou a preocupação do governo e da maioria da população brasileira com a possibilidade de uma invasão estrangeira no país.

Vivíamos o período pós-Segunda Guerra Mundial e a ameaça de uma invasão estrangeira, por mais remota que fosse, fez o governo adotar uma política econômica que resultasse, necessariamente, no desenvolvimento e na segurança nacional.

Pergunta: Então, para ao senhor, esta frase “Integrar para não Entregar” é o resultado de uma postura defensiva do governo, uma preocupação?

Resposta: Sim, na época o governo divulgou em todo o território nacional este slogan que se transformou em uma propaganda polí9tica de cunho preventivo: integrar para não entregar. Ou seja, despertar a nação para uma realidade que precisava ser confrontada – a urgência de unir um Brasil que ainda não se conhecia.

Pergunta: Qual foi o papel do DNER no meio desta transformação? O que acontecia com ele naquele memento?

Resposta: Naquela altura (1970) o Departamento Nacional de Estradas de Rodagens – DNER – era forte e já tinha dado início ao trabalho de expansão e aperfeiçoamento rodoviário. Ele foi o órgão responsável por dar sentido ao projeto de integração.

Pergunta: E ele já tinha autonomia para tanto?

Resposta: A autonomia financeira e administrativa do DNER foi adquirida através do Decreto-Lei 8.463, de 1945, que também criou o Fundo Rodoviário Nacional, e com o Plano Rodoviário Nacional em mãos o rodoviarismo brasileiro encontraria, então, o mecanismo capaz de leva-lo à expansão.

Porém, foi somente a partir da descentralização administrativa do DNER e da criação dos Distritos Rodoviários que o Brasil começou a expandir e a interligar o norte ao sul.

Pergunta: Professor, com 14 anos de idade o senhor já pegava em enxada para abrir estradas?

Resposta: Na época, já não se utilizava enxada para abrir estrada e, sim, máquinas. Eu trabalhava como operador de terraplanagem.

Pergunta: Qual era o ambiente no país naqueles dias em que só se falava em integração?

Resposta: Aquele foi um momento importante, histórico. Mesmo com o fim da Segunda Guerra Mundial houve um período de insegurança no país, medo de uma invasão estrangeira. Os países que não pertencessem ao eixo nazista eram considerados, na época, um alvo fácil. Foram dias em que todos só pensavam em construir estradas para unir o país de norte ao sul.

Em 1948, o engenheiro agrônomo Bernardo Sayão era o diretor da Colônia Agrícola Nacional de Goiás. Foi designado pelo Presidente Getúlio Vargas para o cargo – um pioneiro em construções de estradas de penetração.

No mesmo ano de 1948 começamos a construção da rodovia que ligava Anápolis-Miracema por administração direta do DNER, mas, foi somente a partir da construção da Rio-Bahia que deu início, efetivamente, a integração nacional.

Pergunta: O DNER tinha homens preparados para esses desafios?

Resposta: Na época o DNER formou muitos trabalhadores, equipes de motoristas, mecânicos e operadores de máquinas. Aqui em Goiânia conheci alguns que foram treinados na Colônia Agrícola e escolhidos para irem buscar no Rio de Janeiro (mais exatamente em Parada de Lucas) os primeiros tratores adquiridos pelo órgão para serem utilizados no desmatamento e corte de estradas.

Eram tratores sucateados de guerra, máquinas gentilmente oferecidas pelos aliados e conduzidas em comboio até Goiânia. Uma longa viagem de terra que durou exatamente um mês.

Pergunta: Creio que esses fatos ocorreram entre 1948 a 1953, uma época que a Asdner não existia, ela só foi surgir a partir de 1954. Nestes dias já se falava em associação? O senhor chegou a conhecer o patrono Bonfim?

Resposta: Sei pouco sobre o processo de formação da Asdner. Mas sei que antes de 1954 o Bonfim era diretor de Cooperativa. Sei disso porque naquele momento eu estava deixando o posto de operador de máquina para fazer um curso de “madureza”, uma época em que comecei a lutar politicamente a favor dos meus colegas.

Pergunta: O senhor lutou por eles?

Resposta: Sim, trabalhava com eles e sofria como eles. Era um reflexo! Então, naturalmente eu consegui a liderança. Quando chegou o momento da eleição, um coordenador me mandou falar com o Bonfim no Rio de Janeiro.

Na época eu não entendia nada de política e nem tinha ideologia, mas, mesmo assim, consegui liderar e manter o grupo unido. Os chefes dos Distritos apoiavam a oposição e os operários apoiavam o Bonfim, Claro que fui para o lado da chapa do Bonfim... Então, a primeira eleição que participei foi ao lado do patrono da Asdner, Manoel Rodrigues Bonfim.

(Flávia Menezes, jornalista, escritora associada à Associação Goiana de Imprensa e redatora do Jornal da Cultura Goiana)

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