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OPINIÃO

A criança e suas potencialidades

Retomando o livro Educação do espírito, de Walter de Oliveira, extraímos a premissa de que a criança de hoje é o espírito eterno que ora reinicia sua trajetória e sua aprendizagem no mundo. Assim entendido, é pela educação do espírito que se desenvolvem suas potencialidades no rumo da evolução contínua sempre em nova escala ascencional.

Walter de Oliveira remete à questão 352 de O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, que esclarece: “Ao nascer, o Espírito recobra imediatamente a plenitude de suas faculdades? – Não, elas se desenvolvem gradualmente com os órgãos. É para ele uma nova existência e é necessário que aprenda a se servir dos seus instrumentos. As ideias lhe tornam pouco a pouco, como a um homem que sai do sono e se encontra em posição diferente da que tinha na véspera.”

Diz o autor, textualmente: “Uma criança, pois, embora sendo um espírito eterno, reencarnado, tem a manifestação de sua inteligência limitada, não possuindo a mesma intuição de um adulto” (aqui o autor não explica a diferença entre inteligência e intuição). E adverte: “O objetivo do espírito ao reencarnar é se aperfeiçoar, e a fase infantil é a mais propicia à ação educativa.”

Período primordial

O principal período para a educação do espírito é a infância, já que o espírito evolui também com o crescimento da conciência e das potencialidades de que é dotado rumo ao autoaperfeiçoamento. Ao impacto com o mundo a criança tende a desenvolver suas tendências instintivas boas ou más herdadas de suas vidas anteriores. A criança é mais sensível do que o adulto às impressões que recebe do mundo exterior, enquanto está estruturando seu mundo interior, que deve ser alicerçado num quadro de valores construtivos.

Enfatiza o autor que “é necessário acompanhar o desenvolvimento natural e progressivo da criança, oferecendo-lhe os estímulos necessários, não somente despertando o potencial que se encontra temporariamente adormecido, corrigindo impulsos mal direcionados, como também desenvolvendo, a partir daí, as demais potências da alma, visando despertar os poderes latentes do espírito”.

Pensar, sentir e agir, eis a questão. Basicamente a educação se resume nesses três objetivos: auxiliar o ser humano a pensar, sentir e agir no bem. Pelo desenvolvimento da razão, saberá discernir e escolher melhor. Pela educação do sentimento, cultivará o amor, a bondade, a solidariedade. Pela educação de seu comportamento, saberá agir no bem.

Criança em evolução

A criança já nasce (ou reencarna) com suas necessidades individuais e com uma programação de vida adredemente preparada para sua evolução. As suas conquistas futuras terão base nas suas experiências passadas. Qualidades ou defeitos prevalecerão segundo seu livre arbítrio.

A trajetória existencial da criança seguirá o caminho naturalmente traçado desde o seu mundo espiritual. Isso, porém, não exclui, antes inclui a ação educativa, que lhe fornecerá a energia e a força interior necessárias ao seu aprimoramento. Todos evoluirão do ponto em que se encontrem espiritualmente, sem regressão nem saltos.

Um exemplo da missão do bom educador com profissão de fé, já se tem em Pestalozzi, que transformava crianças rebeldes em homens de bem por meio da ação educativa calcada em valores espirituais. A evolução da criança pela educação do espírito é garantia de sua formação integral. Vale notar que Pestalozzi está entre os primeiros educadores que já haviam intuído uma nova pedagogia condizente com a visão espírita.

Impulsos e estímulos

Desde a gestação, a criança reage a estímulos como resposta do momento presente aos impulsos do passado. Conforme seu eu interior (ou anterior), a criança assimila positiva ou negativamente as influências do mundo exterior. Mas já traz dentro de si a tendência para desenvolver novas habilidades do espírito, que dependem de novas motivações para o desenvolvimento proporcional ao seu amadurecimento. Daí a importância da educação da criança como descoberta dessas habilidades.

Afirma o autor que “a aparência de inocência na infância é providencial para despertar o amor dos pais, ao mesmo tempo em que a manifestação gradual oferecerá aos pais e educadores as pistas do caráter desse espírito, favorecendo a ação educativa, ou melhor, reeducativa”. Nesse sentido adverte: “A ação educativa, sabiamente aplicada na infância, oferecerá ao espírito reencarnado excelente oportunidade de refazer caminhos, corrigir seus impulsos e desenvolver novas qualidades interiores.”

Recapitulando experiências

O espírito ao assumir novo corpo reinicia um processo de evolução ou de retificação a partir de sua existência pretérita. Esse recomeçar é uma espécie de recapitulação das experiências vividas. O autor faz remissão ao livro Missionários da Luz, de André Luiz, em que o Espírito Alexandre faz a seguinte revelação:

“Não se esqueça, André, de que a reencarnação significa recomeço nos processos de evolução ou de retificação. Lembre-se de que os organismos mais perfeitos da nossa Casa Planetária procedem inicialmente da ameba. Ora, recomeço significa ‘recapitulação’ ou ‘volta ao princípio’. (...) É indispensável recapitular todas as experiências vividas no longo drama de nosso aperfeiçoamento, ainda que seja por dias e horas breves, repetindo em curso rápido as etapas vencidas ou lições adquiridas, estacionando na posição em que devemos prosseguir no aprendizado.”

Por sua vez Allan Kardec, no seu livro A Gênese, capítulo VI, nos fala da genealogia do espírito:

“Em verdade, porém, para não cairmos nas recapitulações incessantes, em torno de apreciações e conclusões que a ciência do mundo tem repetido à saciedade, acrescentaremos simplesmente que as leis da reprodução animal, orientadas pelos instrutores Divinos, desde o casulo ferruginoso do leptótrix, através da rotação e expansão da energia nas ocorrências do nascimento e morte da forma, recapitulam ainda hoje, na organização de qualquer veículo humano, na fase embriogênica, a evolução filogenética de todo o reino animal, demonstrando que além da ciência que estuda a gênese das formas, há também uma genealogia do espírito.”

Herança do passado

Assim como o corpo físico traz a herança genética, o espírito traz a bagagem da evolução conquistada a partir de si mesmo. Diz o autor em pauta: “Embora o corpo físico possa trazer tendências hereditárias, o espírito possui condições para superá-las, de acordo com sua vontade e persistência no bem, imprimindo ao novo corpo, uma nova direção evolutiva. Na verdade, as tendências a as ‘tentações’ que cercam o espírito reencarnado desde os primeiros dias de vida são desafios ao espírito, que ao vencê-las, avança em sua escala evolutiva.”

Apesar do esquecimento temporário do seu passado, o espírito conserva suas primaciais tendências e preferências, habilidades e pendores que se manifestam como saldo de outras reencarnações.

(Emílio Vieira, professor universitário, advogado e escritor, membro da Academia Goiana de Letras, da União Brasileira de Escritores de Goiás e da Associação Goiana de Imprensa)

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